Além de manter a figura do Batman viva na mente do imaginário popular, o seriado televisivo dos anos 60 foi um impacto cultural inacreditável. Sua comédia era discreta, porém bastante ácida contra uma sociedade americana altamente moralista e influenciou diversos autores que mais tarde foram nomes importantes na produção de cultura pop. Esse seriado foi tão marcante que até hoje ele é revisitado pela DC. Temos a série de quadrinhos Batman 66 que cria histórias em quadrinhos utilizando todo o universo e estilo da série clássica. Uma animação do ano passado também faz a mesma coisa e até fizemos uma crítica dela na época. Agora a mesma equipe da animação anterior se reúne para fazer uma continuação.
Depois de sofrer um terrível acidente com um maquinário que deveria retirar a maldade dos super vilões, o funcionário público Harvey Dent sofre um acidente que o deforma. Assim nasce o vilão Duas Caras e logo é capturado pela dupla dinâmica. Depois que Dent tenta se reabilitar na sociedade, parece que o Duas Caras volta a atacar, mas Dent parece ter se integrado totalmente como membro da sociedade. Então quem é o responsável pelo crime envolvendo dualidades?
Nesta animação temos o retorno dos atores originais fazendo a voz de seus respectivos personagens. Inclusive esse é o último trabalho de Adam West como Batman que veremos, já que o ator morreu este ano. Duas Caras é interpretado pelo icônico William Shatner que se sai muito bem em sua atuação por voz com um personagem que exige mudanças bruscas de entonação. A direção de Rick Morales continua boa e se mostra um nome que está se especializando em animações da DC, já que ele tem em seu currículo a animação anterior, Batman: Assalto ao Arkhan, Batman: Ano Um e DC: Nova Fronteira.
A escolha pelo vilão Duas Caras não é nem um pouco aleatória. Apesar de ser um antagonista icônico do Batman, ele nunca havia aparecido no seriado. Apesar de ter existido um roteiro onde ele seria apresentado, tal história nunca foi efetivamente filmada. Os quadrinhos da série 66 adaptou tal roteiro para as páginas da HQ com os desenhos do fabuloso José Garcia-Lopes. Nesta animação este antigo roteiro é ignorado e criou-se uma nova versão para a origem do vilão assim como seu plano mirabolante.
A dupla James Tucker e Michael Jelenic já trabalharam em diversas outras animações da DC como roteiristas, onde fizeram um excelente trabalho. Aqui eles acrescentam a existência do vilão Hugo Strange e da popular Arlequina neste universo cômico. A ideia que tiveram para a origem do vilão Duas Caras é muito original, já que o vimos em dois filmes diferentes e em incontáveis quadrinhos. O problema é que com o andar da história eles parecem não entender tanto a questão da dualidade do personagem, apesar de fazerem ótimos paralelos com outras obras que abordam o tema.
O humor característico também está um pouco mais fraco e inspirado. Apesar de existir boas piadas (uma delas especialmente genial envolvendo um meme do Batman) elas estão escassas. Bem ou mal não podemos dizer que essa história de fato se parece como um episódio (super produzido) da série clássica e sem muitas inventividades. Na verdade tanto a conclusão do mistério do roteiro quanto o próprio roteiro em si deixam a desejar. Uma história que demora a engrenar e entrega algo bastante óbvio em seu final.
Fazem bastante uso dos vilões bizarros, porém icônicos, daquela antiga produção. A aventura cria sub-plots, apesar de ser curta, e aposta no clássico que sem querer acaba caindo no lugar comum diversas vezes. Tenta criar um mistério que não se justifica. Em contrapartida Batman vs Duas Caras tem seus bons momentos de ação e a aventura em si até tem seu clímax. Diferente da animação anterior eles parecem não aproveitar a mídia animação para explorar possibilidades que o live-action não permite. Falta criatividade na concepção total e uma subversão ainda maior que este estilo permite.
Aqueles que vão gostar desta animação são os que já possuem um conhecimento e carinho prévio com a série clássica. Recomendo fortemente que vejam a animação anterior que se preocupa em fazer uma gigantesca homenagem a todo o estilo e conceito desta antiga produção, enquanto está animação é mais uma emulação de uma história que poderia ser um episódio que se passou naquela época.
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