A série de livros do Capitão Cueca nunca foi incrivelmente popular no Brasil, mas era possível de acha-la nas prateleiras das principais livrarias e teve um bom número de publicações. Eu até cito os livros nesse texto aqui, e admito que quando era bem pequeno era uma das coisas que eu mais lia e possivelmente fundaram meu interesse por quadrinhos e livros simultaneamente. Repleto de humor absurdo, aventura e paródias de quadrinhos os livros de Dav Pilkey eram deliciosos e foram levados para o cinema numa animação da DreamWorks esse ano.

George e Harold são melhores amigos e amam pregar peças em seu colégio dominado por um maléfico diretor que parece ter prazer em acabar com a alegria alheia. Além de perturbar a vida do diretor Krumpp eles são os criadores da história em quadrinho do Capitão Cueca que são vendidas na escola onde estudam. Para impedirem que sejam separados, e colocados em turmas diferentes, eles hipnotizam o diretor e o fazem acreditar que ele é o Capitão Cueca. Isso gera uma série de situações absurdas que levam a contratação de um cientista do mal como professor de ciências do colégio. Agora a dupla de amigos precisa tomar conta do novo super-herói que eles mesmos criaram e o novo super-vilão.

Como a maioria das animações que possuem crianças como público alvo primordial a base desse longa é a comédia. Entretanto eu não via uma comédia tão frenética e bem feita como essa há um bom tempo. O texto é afiadíssimo. O típico filme infantil que certamente vai agradar os adultos, mas sem dúvida nenhuma vai explodir as mentes infantis. Num mundo onde as adaptações de quadrinhos entopem os cinemas, essa animação faz uma grande parodia desse gênero, mas com um olhar infantil, sarcástico e inteligente.

Precisamos falar especialmente da direção de David Soren. Aqui ele entende claramente que a animação permite explorar visuais e estilos mais ousados e brinca com diferentes formas de arte ao longo da narrativa. Nós vamos desde imagens de quadrinhos (com traço infantil) se movendo, até fantoches feitos de meia. Além disso, temos quebras de quarta parede, musical, paródias de outros filmes e tudo num ritmo alucinante. O roteiro de Nicholas Stoller aliado a David Soren criam uma narração de ritmo impecável e que brinca com inúmeras possibilidades que a animação permite. A dublagem original é muito boa contando com nomes como Kevin Hart e Ed Helms.

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Como se não bastasse o roteiro ainda consegue ter suas camadas. Nada muito complexo, mas mensagens simples, talvez até meio clichê, mas feitas de forma tão bonita e inteligente que não é difícil ficar com um largo sorriso no rosto. O mais curioso é que, como nos livros, temos diversas piadas bobas, mas o roteiro as encaixa de uma forma tão bem casada que a trama acaba sendo sobre a função do humor na vida. Algo que não está na primeira camada, mas numa segunda que está logo ali em baixo das piadas sobre cuecas e privadas. Isso é bastante irônico, pois da maioria das críticas de filmes de comédia que fiz esse ano eu precisei bater na tecla que a maioria deles faz uso de um humor escatológico de forma imbecil. Enquanto isso uma animação infantil chamada de Capitão Cueca faz uso desse tema de forma mil vezes mais sagaz do que todas as outras produções, incluindo adultas.

Uma pedida perfeita para pais e filhos assistirem algo juntos. Já temos algumas produções que brincam com o conceito de super-heróis no cinema e na televisão, mas acredito que essa animação entra para a lista das paródias mais divertidas, mas que ao mesmo tempo funciona como uma grande homenagem à diversão que os quadrinhos podem proporcionar quando você é uma simples criança.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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