Bruce Timm é uma pessoa que tem créditos infinitos para os fãs de quadrinhos. Para muitos, seus desenhos são as melhores adaptações que existem da mídia quadrinhos para qualquer outro formato. Sua série animada do Batman é primorosa, seu desenho da Liga da Justiça é sublime e, talvez, tenha feito a melhor adaptação de uma história do Alan Moore. É claro que existem outros nomes envolvidos que o auxiliaram, e muito, a dar vida não só a estes desenhos como também outros tantos, como Batman do Futuro e Super Shock. Recentemente Bruce trabalhou em alguns longas animados como A Morte do Superman e Deuses e Monstros onde pode explorar momentos mais adultos e pesados. Agora ele retorna a um dos personagens que ele mais entende, uma criação sua em conjunto com Paul Dini. Arlequina protagoniza ao lado de Batman um longa animado, algo muito esperado, pois depois de vermos a personagem ser tão transformada nos últimos anos é interessante ver o que Timm pode fazer com sua própria criação depois que a mesma escapou de seu controle.

Hera Venenosa e um homem planta de outra dimensão decidem usar a fórmula que deu origem ao Monstro do Pântano para transformar toda a humanidade em uma raça híbrida de vida animal e vegetal. Batman e Asa Noturna decidem ir atrás da reabilitada Arlequina para descobrir aonde Hera Venenosa está, levando em conta que elas trabalharam juntas por muito tempo. O trio inusitado parte nessa aventura para salvar o mundo.

Essa premissa claramente aponta para uma veia cômica, já que temos o enorme contraste de Arlequina lidando com o Batman e ambos tendo que trabalhar juntos para um objetivo em comum, algo que já havia ocorrido num episódio da série animada. O grande problema desse humor é que ele é completamente desmedido e muitas vezes bizarro. Para falar dessa animação eu terei que lidar com uma questão complicada que é a sexualização da Arlequina. Depois que a personagem ficou altamente popular, ela se tornou um grande fetiche masturbatório ambulante. Neste roteiro Bruce Timm faz uma crítica a isso no início da trama, mas segundos depois começa a fazer uma gigantesca apelação para a sensualidade da personagem, chegando ao nível de termos cenas que beiram a pornografia barata.

Ser sensual sempre foi uma característica dessa personagem, mas o que é feito nesta animação é surreal num nível onde ela sobe num palco e balança os peitos furiosamente (literalmente). Para piorar tudo, o humor do filme é completamente desmedido. Para exemplificar o que quero dizer vou descrever um momento rápido: Em dado momento Arlequina começa a peidar dentro do bat-movel e Batman se recusa a parar o carro, fazendo um comentário positivo em relação ao odor em questão. Esse tipo de coisa está espalhada durante várias cenas, fazendo a trama ficar completamente sem sentido. É como se em dado momento alguém abaixasse uma alavanca que mantinha o sentido básico dessa trama funcionando. Esse desespero por fazer humor é tanto que o encerramento da história beira ao ridículo. Pouquíssimas piadas funcionam e, destas, a maioria é porque fazem referência a série de 66 do Batman.

Falando nisso existe uma boa animação que é totalmente pautada nessa série do Batman de 66 e realmente ensina a como fazer uma história cômica do Batman. É só clicar aqui e ler a crítica dela. Neste longa fica claro o quanto Paul Dini, um dos principais roteiristas que trabalhou nas séries animadas junto com Bruce Timm, faz falta. Ele tinha a incrível capacidade de estabelecer o tom exato que fazia a história ser engraçada e uma aventura digna do Batman e seu universo. Batman & Arlequina: Pancadas e Risadas tenta ser uma história mais adulta, mas parece que para ser adulta significa aumentar o grau de violência e entupir a narrativa de referências sexuais sem o menor tato. O longa é grotescamente ruim, uma decepção que mostra que até Bruce Timm esqueceu como escrever a própria personagem que ele criou.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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