Para o público atual a Disney é mais do que uma empresa estabelecida. É quase como se ela sempre tivesse existido. Está tão irrigada no imaginário popular que acabamos usando o termo “estilo Disney” ou “final feliz estilo Disney” em nosso cotidiano ou quando estamos falando sobre outros filmes. O jeito dela de fazer as coisas é quase como uma fórmula da própria indústria do entretenimento. Ela sempre definiu quais seriam os clichês da animação e do universo infantil como um todo. Por bem, ou por mal, ela acaba tendo um caráter formador para muitas pessoas, já que é quase impossível passar pela sua infância sem nunca ter visto um filme da Disney.

 Mas como isso começou?

Para responder essa pergunta seria necessário escrever um livro inteiro e voltar até a própria origem do cinema e da animação, quando as pessoas iam para o cinema assistir notícias, ver novelas e desenhos. Parte dessa resposta pode ser encontrada em um de nossos podcasts (que você pode ver aqui), mas de tempos em tempos a empresa faz uma revolução, redefinindo-se e modificando a forma de consumir animação e como ela deve ser feita.

“Raul, você realmente acha que esse filme é clássico o suficiente para entrar no Tarja Classics?”. Honestamente? Sim! Vamos fazer um exercício de imaginação aqui. É quase impossível encontrar alguém que desconheça por completo o universo de conto de fadas. Eles são praticamente inerentes à nossa formação cultural e muitas vezes são usados como obras formadoras de caráter. Mas se a Disney nunca tivesse feito todas essas adaptações em animação? Será que elas estariam tão vividas na memória popular? Acredito que não. Um exemplo disso é a mitologia grega, pois essas histórias também estão no DNA da cultura ocidental, mas é muito mais fácil achar alguém que desconheça mitos como Ícaro, Édipo e até mesmo o labirinto do Minotauro.

ode soar meio absurdo para quem está muito inserido na cultura pop, e até mesmo na cultura erudita, mas devemos lembrar que o mundo não é essa bolha em que vivemos e existe muita gente que não tem acesso a cultura e até mesmo a capacidade de leitura. As animações da Disney rompem essa barreira ao pegar todo um arcabouço cultural e mostrá-lo de forma lúdica e cativante.

Acredito que Branca de Neve e os 7 anões é um dos maiores exemplos desse processo de adaptação dos contos de fada clássicos. O filme foi nomeado a Oscar de melhor filme e ganhou uma estatueta especial (uma grande com sete pequenininhas). O prêmio foi dado pela inovação da animação em termos técnicos. Não foi a primeira vez que a Disney usava rotoscopia (minha versão abrasileirada do termo rotoscoping), mas foi uma das grandes melhoras nessa técnica . Mas o que é isso?

Rotoscopia: Fazer uma animação baseada em filmagens em live-action de atores e usar os movimentos deles para fazer a animação “por cima” e aparentar ser mais realista. Quando vemos a Branca de Neve dançando na verdade estamos vendo os movimentos de uma atriz com a arte da animação por cima. 

Diversos outros filmes da Disney usam essa técnica, como Bela Adormecida, Peter Pan, Alice no País das Maravilhas e Cinderela, mas todos depois que Branca de Neve aperfeiçoou a técnica. Outro fator fundamental é a própria história. De todos os contos de fada clássicos, talvez este venha a ser o com mais “clichês”. A bruxa, o alívio cômico, a princesa que precisa ser resgatada e a floresta encantada. Obviamente que as músicas ajudam muito em deixar a película gravada em sua mente. Eu sei que você consegue cantarolar a música tema dos anões até hoje.

A capacidade de adaptação deste conto para o cinema foi muito inteligente. Como todos os problemas de obras baseadas em conto de fadas é que a história original é demasiadamente curta para uma hora e vinte de filme. Devido a isso é sempre necessário esticar a história de alguma forma, as músicas sempre ajudam nesse ponto, mas não é o suficiente. Branca de Neve resolve esse problema de forma genial. Criou personalidade para os anões e fez com que eles deixassem de ser um grupo uniforme sem características marcantes. A vilã é visualmente impactante e verdadeiramente má, e também ficou marcada na cultura com seu espelho. Eu sei que você sabe as falas dela para com o espelho mágico. A própria figura da bruxa má é uma das mais clássicas que já vimos em tela. 

O sucesso deste filme ajudou a pavimentar o caminho de longas da Disney, onde acabaram por surgir outros clássicos e, de certa forma, estabelecer o estilo Disney de fazer filme, onde tanto a criança quanto o adulto ficam encantados pelo universo mágico.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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