Não é novidade nenhuma que os livros nos fazem viajar para muitos locais diferentes e inusitados sem que precisemos sair do lugar. No caso de O Bravo de Ulan Bator, do escritor Vinicius Cunha, a intenção é justamente essa ao nos apresentar a aventura de um viajante ao redor do mundo.
Na trama, conhecemos João Garça, um rapaz aventureiro que acaba em uma prisão de La Paz enquanto viaja pela América do Sul. Durante a reclusão, ele divide cela com o coronel Jorge Scrubber, um velho reclamão com uma visão política um tanto radical. Apesar das diferenças entre os dois, Scrubber encarrega Garça de cumprir uma missão: ir até a Guatemala e encontrar um guru. A partir daí, o jovem se vê no meio de uma conspiração, se apaixona e embarca em uma viagem através do trem transiberiano.
Como O Bravo de Ulan Bator gira em torno das viagens do protagonista, é natural que o ponto alto da narrativa seja a descrição dos lugares por onde ele passa. Tudo é descrito de maneira objetiva, sem muita enrolação, de modo que conseguimos imaginar a paisagem em nossas mentes mesmo que nunca tenhamos visto o local sobre o qual o autor está falando. As mudanças de cenários mostram como as diferenças culturais e econômicas entre os países, seja na América, na Europa ou na Ásia são grandes.
Contudo, enquanto as descrições são boas, os objetivos e motivações do personagem central deixam a desejar. Conforme novos obstáculos vão surgindo no caminho de Garça, ele muda suas metas e traça outros caminhos, chegando até a assumir responsabilidades de uma forma muito repentina. Por um lado isso é bom, já que torna a obra imprevisível, por outro passa aquela sensação de que as coisas ficaram inacabadas ou mal resolvidas.
Mesmo assim, a ordem dos acontecimentos começa a fazer mais sentido ao final do livro quando algumas peças se encaixam e revelam as circunstâncias e o instante em que cada episódio ocorreu. Isso nos dá uma visão do quadro geral da aventura de João e quanto tempo ela durou, assim podemos entender as condições emocionais dele no final.
O amadurecimento de Garça é algo a se destacar. Ele começa como um cara impulsivo que não pensa em outra coisa a não ser aventuras e vai sofrendo mudanças ao longo do trajeto. Outros personagens também têm seu momento, desde o rabugento coronel Scrubber até os inconsequentes Carlos e Arsênio, dois angolanos que só pensam em se divertir.
O Bravo de Ulan Bator é uma leitura agradável para quem quer passar por vários países e culturas diferentes, mesmo que seu protagonista não seja uma pessoa muito linear. Então apertem os cintos, abram o livro e boa viagem!
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