Quando li Percy Jackson e o Ladrão de Raios pela primeira vez, a experiência foi muito especial. De forma natural, o primeiro volume da série literária criada por Rick Riordan se tornou uma leitura marcante por vários motivos. Entre eles, o fato da história ser protagonizada por um personagem facilmente identificável e cativante. Por isso, não foi surpresa nenhuma quando tive o mesmo prazer durante uma nova leitura muitos anos depois. E tudo isso é mérito do autor que neste livro deu início a um universo fantástico de heróis frutos de uma releitura própria da mitologia grega.

Um detalhe importante sobre a leitura deste e de qualquer outro livro do autor inspirado  em mitologias é o seu tom didático. Rick Riordan lecionou história por quinze anos em escolas de São Francisco e essa experiência com certeza contribuiu na sua habilidade em escrever para o público jovem. E neste início da série Percy Jackson e os Olimpianos vemos Percy lidando com as lendas da mitologia grega nos tempos atuais.

Neste contexto, descobrimos que os deuses do Olimpo continuam vivos, ainda se apaixonam por mortais e geram filhos metade deuses, metade humanos, como os heróis da Grécia antiga. Marcados pelo destino, eles dificilmente passam da adolescência. Poucos conseguem descobrir sua identidade. Percy Jackson é um deles. Tem experiências estranhas em que deuses e monstros mitológicos parecem saltar das páginas dos livros direto para a sua vida. Pior que isso: algumas dessas criaturas estão bastante irritadas. Um artefato precioso foi roubado do Monte Olimpo e Percy é o principal suspeito. Para restaurar a paz, ele e seus amigos terão de fazer mais do que capturar o verdadeiro ladrão: precisam elucidar uma traição mais ameaçadora que a fúria dos deuses.

Apesar desta premissa ser um básico chamado para ação do herói, vale prestar atenção em seu lado humano. É dessa forma que eu, assim como muitos leitores, pude me sentir conquistado por esse personagem de tão fácil identificação. Talvez isso não aconteceria se a escrita de Rick Riordan não fosse tão leve e divertida além do fato dele colocar Percy como narrador da própria história. Esse estilo em primeira pessoa casa muito bem com a ideia de apresentar um garoto inserido em uma jornada de autodescoberta.

Soma-se isso ao fato deste jovem herói ter dislexia e TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), algo que sempre lhe trouxe dificuldades tanto na escola como fora dela. No entanto, quando descobre que é um semideus (ou meio-sangue, termo mais utilizado nos livros) sua vida muda completamente e esses problemas se tornam soluções. Sua mente está programada para o grego antigo, o que faz com que palavras em outros idiomas apareçam misturadas nas páginas, e a hiperatividade é fundamental para mantê-lo vivo no campo de batalha.

Quando chega ao Acampamento Meio-Sangue, um campo de treinamento para semideuses, ele conhece outros como ele enquanto aprofunda sua amizade com o sátiro Grover Underwood, o qual já conhecia desde os tempos de escola. É nesse momento que também conhecemos Annabeth Chase, filha de Atena. Um personagem muito importante para a jornada dele, principalmente neste livro.

Essa dupla é responsável por vários dos melhores momentos deste primeiro volume e mesmo não tendo o foco principal conseguem roubar a cena diversas vezes. Esta é uma prova do talento do escritor em criar personagens bem desenvolvidos e interessantes, algo que só vai melhorando com o tempo.

Em relação aos deuses gregos, a aparição de alguns bem específicos vai pontuando a trama com precisão. Pelo fato de Percy ser filho de Poseidon, o deus dos mares e terremotos acaba tendo um destaque maior mesmo “aparecendo” com mais ênfase como uma citação nos pensamentos do garoto. Outros como Ares e Hades têm sua relevância garantida além de propiciarem momentos de muita tensão para o leitor. Apesar disso, o que realmente conduz a trama é a ausência desses personagens como pais na vida de seus filhos. Como esta questão se relaciona com a trama principal e pode ser considerada um spoiler, não irei entrar em detalhes. Apenas deixo o comentário de como Rick Riordan soube trabalhar bem não só fatos importantes da mitologia grega com problemas atuais da nossa sociedade.

É por todos esses motivos que Percy Jackson e o Ladrão de Raios é um excelente começo para esta série já reconhecida mundialmente. Não é a toa que o livro já esteve entre os primeiros lugares na lista das séries mais vendidas do The New York Times, por exemplo. Tanto leitores de primeira como de segunda viagem podem confirmar a qualidade desta aventura que é apenas o começo de algo muito maior, o que aumenta ainda mais o interesse para ler os próximos volumes deste universo fantástico de heróis.

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Marcus Alencar

"Palavras importam! Uma morte, uma ondulação e a história mudará em um piscar de olhos"

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