Estou para escrever esta resenha há algum tempo, mas sempre surgia algum imprevisto que me obrigava a adiá-la. Porém, mais do que nunca, esse é o momento exato para falar sobre este romance do escritor carioca Márcio Menezes, em virtude de todos os escândalos de corrupção e manobras políticas que chocam o país atualmente.

A trama se passa no Rio de Janeiro da década de 1990, poucos anos depois do impeachment que tirou da presidência Fernando Collor de Mello. Nesse contexto, somos apresentados a um grupo de universitários inconformados com a corrupção brasileira e suas consequências. Entre esses jovens estão os amigos Cito e Gonzáles que, após presenciarem a morte de uma vendedora ambulante que tomava medicamentos falsificados fornecidos pelo governo, resolvem tomar medidas extremas e fundam o Comando Terrorista Anticorrupção.

Assim, os dois amigos começam a atentar contra políticos corruptos, inicialmente de modo amador, mas se aprimorando cada vez mais e agregando novos aliados até seus atos tomarem a atenção da imprensa. A partir daí, fica cada vez mais difícil para eles separarem a vida de terroristas da vida de jovens universitários, que só pensam em se divertir e aproveitar o momento.

Indo além da ficção e observando nossa realidade atual, esta obra pode ser interpretada de várias formas. A situação política está mal vista, desacreditada; a corrupção está presente em cada setor do governo e quem mais sofre com isso é a população honesta e trabalhadora. A justiça é falha, burocrática, repleta de meios de ludibriar a lei para aqueles que possuem maior poder aquisitivo. A impunidade é marca registrada quando se fala em “crimes do colarinho branco”…

O grande mérito da obra é um convite para uma reflexão pertinente. O que impede que algumas pessoas anseiem por fazer justiça com as próprias mãos e que outras cheguem às vias de fato? O terrorismo seria eficaz contra a corrupção? De qual lado a população ficaria? A inexistência de atos como esse no Brasil reflete um povo pacífico ou acovardado? Indiferente ou pouco intelectualizado diante da sociedade que os cerca?

Seja na ficção ou na realidade, é importante dizer que se uma crise persiste por muito tempo sem que medidas legais sejam tomadas, cedo ou tarde atos extremos serão praticados e vidas serão postas em risco. Enfim, da premissa de Todo Terrorista é Sentimental até sua conclusão, todas essas questões podem passar pela cabeça de quem o lê. Vai de cada um optar pelas respostas que melhor satisfazem moralmente.

Adicione este livro à sua estante!

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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