O universo urbano da Marvel nos quadrinhos sempre esteve bem representado com anti-heróis cada vez mais próximos da realidade de seus leitores. Nesse sentido, “Luke Cage” é uma série que pode ser considerada o melhor exemplo disso justamente por unir os elementos que caracterizam uma adaptação aos dias atuais em harmonia com referências clássicas dos quadrinhos. Apesar do começo tímido em Jessica Jones, o personagem interpretado por Mike Colter consegue mostrar a que veio com personalidade. Obviamente, nem tudo é perfeito na produção que finalmente leva um herói negro ao protagonismo das produções televisivas da Netflix em parceria com a editora.

Um dos primeiros problemas a serem apontados na verdade não é necessariamente um erro, mas vale a pena ser destacado. Para quem já se acostumou com o modelo Netflix, é fácil aproveitar todo o benefício de ter disponível todos os 13 episódios para assistir de uma só vez. No entanto, essa facilidade também pode afetar a forma como certos episódios terminam ou são conectados. Devido ao fato da narrativa ser um pouco mais lenta, fica a sensação de que a história é mais longa do que parece e isso torna a experiência um pouco cansativa. Talvez fosse melhor caso fosse uma série no formato tradicional.

Apesar disso, vale ressaltar os pontos positivos da série que não são poucos. Podemos começar destacando três personagens femininas que, assim como nas séries do Demolidor e da Jessica Jones, tem uma importância muito grande para a trama como um todo. A primeira delas é Claire Temple (Rosario Dawson) que retorna mais uma vez sendo o elo que une todo o universo das séries da Marvel. Em “Demolidor”, ela funciona como um breve interesse romântico e uma espécie de mentora de Matt Murdock e seu alter-ego. Já com “Luke Cage”, vemos a personagem tendo mais importância na trama além de reconhecer aos poucos o seu chamado heroico como enfermeira e bussola moral do anti-herói a prova de balas. Outra personagem que também merece todo destaque é a detetive Mercedes “Misty” Night (Simone Missick) cujo desenvolvimento só cresce a cada episódio, isso sem falar no carisma e fidelidade ao personagem também adaptado dos quadrinhos. Por fim, temos a vereadora Mariah Dillard (Alfre Woodard) compondo sozinha todo o lado do poder politico do Harlem.

Outro ponto interessante é como a série apresenta diferentes tipos de conflitos para o protagonista em sua jornada, por assim dizer, heroica.Estão lá bem representados o conflito das ruas, politico e o pessoal. Um dos melhores personagens e vilões que compõe um desses conflitos é o empresário e traficante Cornell “Cottonmouth” Stokes (Mahershala Ali) com a sua boate, o “Harlem Paradise”. Com um estilo perigoso e altamente ambicioso, percebemos suas nuances a medida que seu arco vai avançando durante o conflito com Cage. Quem também se torna importante para a trama, apesar de não ter tanta força (no sentido narrativo, pelo pouco tempo em que aparece) é Diamondback, o Cascavel (Erik LaRay Harvey) sendo ao mesmo tempo insano e imprevisível além de ser o responsável por mais uma referência a elementos dos quadrinhos como a sua armadura e todas as tecnologias construídas pelas indústrias Hammer, bem conhecida das histórias do Homem de Ferro.

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Aliás, em “Luke Cage” há várias tipos de referências, algo que certamente deixaria o Capitão América feliz. Além da empresa de Justin Hammer (vilão de Homem de Ferro 2 interpretado por Sam Rockwell), temos também citações a um certo advogado de “Hell´s Kitchen” e seu inimigo, Wilson Fisk (Demolidor), Punho de Ferro, Vingadores além, é claro, de uma breve aparição do personagem em sua tradicional roupa clássica dos anos 1970.

No entanto, uma das coisas que mais enriquece a série é justamente a forma como nomes importantes da cultura negra são citados e o uso de uma trilha sonora de qualidade com músicas no estilo hip-hop, rap e soul. Inclusive, este último elemento torna a experiência ainda mais interessante justamente por contribuir com a clima apresentado.

Por fim, só me resta dizer que a série é não só um presente para os fãs por conta da sua qualidade como também um belo exemplo de representatividade. Fica a esperança cada vez maior para que tudo isso continue assim nos próximos anos.

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Marcus Alencar

"Palavras importam! Uma morte, uma ondulação e a história mudará em um piscar de olhos"

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