Com a extrema popularização desse sub-gênero no cinema, os super heróis sofrem bastante críticas por abusarem de repetição de conceitos. De fato os fãs de quadrinhos sempre reclamaram um pouco dos clichês desse universo e quando um autor vinha com algo inovador ele se tornava um gênio da mídia. Porém se engana quem acha que os quadrinhos só se tratam de super heróis, apesar deles de fato serem predominantes. Caso você seja um amante dos quadrinhos, mas não aguenta mais super heróis, ou se é um hater desses personagens, mas está disposto a explorar essa mídia, eu fiz essa singela lista com grandes obras das HQ´s.
Scott Pilgrim (três edições pela quadrinhos na cia.)
Uma série extremamente divertida que faz diversas homenagens ao mundo dos vídeo games. Talvez você já tenha ouvido falar desse personagem devido á adaptação, bem sucedida, para o cinema pelas mãos de Edgar Wright. A história narra a vida de Pilgrim que acaba se apaixonando pela a bela, e misteriosa, Ramona. Mas o problema é que ela possui sete ex-namorados do mal. Para poder namorar essa garota será necessário que ele derrote todos esses caras e enquanto isso nós vamos aprendendo mais sobre sua vida. Uma HQ bastante cômica e envolvente cheia de referências nerds que precisa estar na sua prateleira.
Retalhos (edição única pela quadrinhos na cia.)
Uma HQ gigante de Craig Tompson, onde ele narra a sua própria vida. Aí você deve estar pensando: “Mas o que tem de tão especial na vida desse cara para que eu gaste meu tempo para lê-la?”. Olhando friamente: nada. O que a HQ conta é a relação que ele possuía com sua religião em sua juventude e como isso mudava tudo. Não ache que é uma grande crítica sobre a religião, e sim uma reflexão de alguém que possuía uma enorme fé e começou a refletir sobre ela. A história fica mais densa quando ele passa a namorar com uma menina tão religiosa quanto ele. Uma história longa que é desenhada por ele de forma magistral. Se você é uma pessoa nova que está na fase de questionar a própria vida e para onde ela vai, é uma obra sensacional para você. E se você gosta de uma boa história intimista, também é uma ótima pedida.
Pílulas Azuis (edição única da editora Nemo)
Mais uma história intimista, que fala sobre a relação de um casal onde uma das pessoas possui AIDS. A HQ é sobre como uma relação dessas pode funcionar e quais os desafios enfrentados. O roteiro e o desenho são de Frederik Peeters, pois afinal de contas essa é a história da vida dele. A mulher da história é sua atual esposa e fala sobre um dos temas mais recorrentes e universais da humanidade: o amor. O mais surpreendente é que ele consegue fazer isso de forma muito inovadora. Os simbolismos visuais são muito bem utilizados, o que é essencial em uma narrativa gráfica.
O Muro (edição única pela editora Nemo)
Mais uma história que tem uma certa carga biográfica, mas desta vez menos literal. A roteirista Céline Fraipont e o desenhista Pierre Bailly contam a história da jovem de Rosie. Uma menina por volta dos seus treze anos que se encontra completamente abandonada, já que sua mãe fugiu com outro homem e seu pai vive viajando a trabalho, fazendo a menina ficar sozinha por semanas. Tentando escapar da solidão ela começa a se tornar rebelde e ignorar qualquer tipo de hierarquia. E neste estilo de vida que ela conhece, o igualmente jovem, traficante de drogas. Juntos eles começam uma relação curiosa banhada a música de bandas como The Cure. Uma HQ curta, mas bastante interessante, pois conta uma história anônima, inusitada e bastante interessante.
Desengano (edição única e independente)
Um artista brasileiro que publica suas próprias HQ’s, e que também conta um evento de sua vida. O roteiro é dele assim como os belíssimos desenhos que fazem você ficar olhando a arte por alguns minutos a mais. A história narra um carnaval onde o mesmo foi para o interior com sua família. A maior parte são reflexões dele onde ele pensa sobre a vida, o universo e tudo mais. Camilo Solano domina a narrativa gráfica, uso de cores e luz como ninguém. Uma HQ feita para ser lida mais de uma vez, pois é possível achar várias surpresinhas em sua ilustração.
Cumbe (edição única pela Vendeta)
Outra HQ brasileira que conta algumas narrativas que colocam escravos de nossa história como protagonistas. É difícil pensar em qual gênero ela se enquadra, pois algumas histórias beiram a ação e outras flertam com o terror. Tanto a arte quanto o roteiro são de Marcelo D’Salete, que está de parabéns. Consegue despertar sentimentos intensos, ensinar história e fazer uma bela arte. Uma peça que deveria ser obrigatória em qualquer aula de história sobre esse tema e obrigatória na sua estante caso realmente queria degustar dos melhores quadrinhos nacionais. Prepare-se pois é uma história forte, pesada e cheia de violência, assim como a história de nossa nação.
Liga Extraordinária (Edição única pela Devir)
Para deixar claro, eu estou falando somente do primeiro arco de histórias, que foi adaptada pelo cinema de forma porca. Roteirizada pelo gênio Alan Moore que reúne uma série de personagens clássicos da literatura do final do século XIX que precisam resolver um problema absurdo. Uma HQ que possui tudo que faz de Moore um gênio da mídia. Terror, ação, violência brutal, porém não gratuita. As referências literárias são perfeitas e muito ricas para quem já gosta dos personagens usados. Existem uma série de continuações que utilizam esse mesmo conceito, e escritas pelo próprio Moore. Mas nem todas são uma unanimidade no quisto qualidade. Cabe a você decidir até onde deseja ir nesse universo.
Cripta (quatro edições pela editora Mythos)
Antes das histórias de super herói dominarem quase por completo o mundo dos quadrinhos, existiam diversos outros estilos que fazia muito sucesso e entre eles o Terror. Cripta era uma revista que apresenta pequenos contos de terror, com artes completamente maravilhosas, que eram protagonizadas pelos monstros mais clássicos (vampiros, lobisomens, magos do mal e tudo mais). As quatro edições publicadas pela Mythos compilam as principais edições dessa extinta revista. Aos olhos de hoje essas histórias podem parecer clichês (estamos falando de coisas dos anos 60), mas naquela época elas eram inovadoras e absurdamente icônicas. Infelizmente a revista Eerie (seu nome original nos Estados Unidos) foi gradativamente morrendo devido a intensa censura do governo americano.
Neonomicon (edição única pela editora Panini)
Mais uma obra de Alan Moore, mas desta vez exclusivamente no gênero terror. Se você conhece o mínimo das obras de H.P Lovecraft (falamos dele aqui) vai achar essa HQ muito interessante. Alguns agentes estão investigando mortes estranhas e gradativamente vão se envolvendo com seres da mitologia criada por esse autor que influenciou todo o terror do século XX. Não é uma história completamente fiel ao clássico, o que pode incomodar um pouco os fãs mais intensos. Para quem conhece pouco, não se preocupe, não ficará difícil de entender. Mas um aviso importante: é uma obra intensa que pode chocar algumas pessoas com algumas cenas grotescas. “Mas Raul é só um desenho, como vou me assustar?”. Olha, se não vai te deixar chocado, eu diria no mínimo enjoado.
Maus (edição única pelo Quadrinhos na cia.)
Talvez uma das HQ´s mais importantes de todos os tempos. Quando digo isso eu estou englobando toda essa mídia e formato de fazer arte. Art Spiegelman conta a história de seu próprio pai durante o período em que ele ficou preso em um campo de concentração durante a segunda guerra mundial. Ganhador do prêmio Pulitzer de literatura e uma das melhores obras que retratam o extermínio do povo judeu. Uma história extremamente realista, apesar dele retratar diversas etnias e nacionalidades com animais, sobre o tema, a ponto de desenhar como era a planta de um campo de concentração. O mais curioso é que o autor não faz o obvio e vitimiza a figura de seu pai. Sem medo ele mostra os preconceitos que seu pai possui e os traumas profundos causados pela guerra. Como se não bastasse ele ainda narra todo o sofrimento que é ter que ouvir essa história, se relacionar com o pai e escrever tal obra no meio da indústria dos quadrinhos.
Choques Futuristas (edição única Mythos)
Para fechar mais uma obra do mestre Alan Moore. “Nossa Raul, o mesmo autor três vezes?”. Não é à toa que ele é o melhor. Aqui temos as primeiras histórias que mostraram ao mundo o talento desse inglês. Diversos contos curtos, em arte preto e branco, que sempre misturam dois elementos: humor e ficção científica. Essas histórias são absolutamente fantásticas e mostram uma faceta de Moore que gradativamente foi deixada de lado. O humor sombrio do autor raramente escorre em suas outras obras, mas aqui ele está livre para brincar com diversos conceitos. Até mesmo com a curta direção das histórias não o impedem de mostrar uma ficção cientifica totalmente absurda e fantásticas que faz a sua mente viajar como se tivesse usado algum tipo de droga.
Para finalizar vamos usar o último parágrafo de encerramento para indicar alguns autores que fogem do comum, mesmo que por vezes, eles esbarrem no mundo dos super heróis. Neil Gaiman é o nome obvio com suas duas obras Sandman e Livros da Magia. Kurt Busiek que sabe escrever personagens clássicos como ninguém. Grant Morrison que escreve muitos super heróis, mas é possível achar grandes obras dele que não caem nessa temática. E por fim o grande Frank Miller com o seu Ronin, uma obra sobre samurais futuristas, que foi recentemente relançada, em capa dura, pela Panini.