Akira Kurosawa é um dos maiores diretores de todos os tempos e vejo pouca gente aqui no Ocidente falando sobre ele. Resolvi pegar uma de suas maiores obras para colocar aqui no Tarja Nerd. Preparem-se, pois pretendo falar muito ainda de filmes de samurais e esta obra em questão talvez seja a melhor das melhores. O filme é dirigido e roteirizado por Kurosawa, contando com a participação de Shinobu Hashimoto e Hideo Oguni, que trabalharam no storybord. Antes de tudo é melhor avisar que estamos falando de um filme que possui três horas e vinte minutos de duração, ou seja, é um filme difícil e que demanda comprometimento. Não é aquele tipo de filme que você vê enquanto usa o celular. Mas não se assuste, até o final desse texto, se eu conseguir, você terá vontade de assistir essa obra prima. É tão longo que chegara um momento em que o filme irá parar e uma tela preta com ideogramas japoneses ficará estática por alguns poucos minutos. Isso era pensando para o cinema onde era necessário fazer uma pequena pausa ao longo da exibição para as pessoas irem no banheiro e comerem algo, pois quase ninguém aguentava (ou aguenta) ficar três horas e pouca sentadas.
Sinopse rápida: Uma vila no Japão feudal é constantemente atacada por um grupo de bandidos que saqueiam todos os habitantes, deixando-os à mercê da fome. Um grupo de camponeses saem em busca de samurais que possam proteger o povo da vila em troca de pagamento e assim sete samurais são recrutados, dando início à aventura para proteger a aldeia e retomar a honra que haviam perdido.
O filme consegue ser uma aula de História e realmente te faz acreditar que esse período histórico ocorreu daquele jeito, parece que Kurosawa viajou no tempo para realizar tais filmagens. Você pode achar essa história bastante clichê, por que de fato ela é, mas para os nossos padrões contemporâneos. Diversos filmes se inspiraram na obra de Akira, principalmente os filmes de velho oeste: a figura do pistoleiro solitário e sem nome nada mais é do que uma reformulação ocidental do samurai/ronin sem mestre que vaga sozinho pelo Japão. “Os sete homens e um destino”, o clássico dos clássicos do cinema de faroeste (que foi refilmado recentemente) nada mais é do que uma versão americana dos “7 Samurais”. Até mesmo a animação “Vida de inseto” se inspira muito no plot básico que move a história.
As cenas de batalha são incríveis e você enlouquece de imaginar como foram filmadas. Pessoas correndo de cavalo, tochas e diversos figurantes numa única tomada quase sem nenhum corte, num período onde não existia nenhum efeito de computador para realizar uma pós produção. Kurosawa faz cenas grandiosas na hora e consegue resultados fantásticos. Talvez o mais surpreendente seja como ele consegue te colocar naquele universo de honra, tradição e cultura sem gerar distanciamento.
Já no início do filme você entende completamente como aqueles personagens pensam e como suas vidas são. É o tipo de filme que faz você se apaixonar pelo gênero samurai e querer correr atrás de outros filmes e mangás que tratem do tema. As cenas pequenas e simples também são ótimas, onde temos somente os brilhantes diálogos. Aliás as frases de efeito desse filme são tão incríveis que dá vontade de ir num tatuador e coloca-las no seu corpo. Entretanto não pense que você estará indo assistir uma grande obra de ação e aventura. Assim como nos filmes de velho oeste, o mais importante é a preparação e construção da tensão do que o resultado da mesma. Isso se eleva ao máximo quando falamos de lutas só com dois samurais onde analisar seu inimigo chega a ser mais importante do que dar um golpe. Mas não se preocupe, você será muito bem servido de lutas grupais.
O filme ganhou dois Oscars, o que para um filme não americano é bastante coisa, assim como diversos outros prêmios. Posso ser um pouco passional quando se trata deste filme em especifico, já que ele é certamente um dos meus favoritos. Provavelmente pode vir a ser um longa que você não irá gostar de primeira pela longa duração e certa lentidão em alguns momentos. De fato é uma obra difícil, talvez um dos mais aqui do TarjaClassics, mas, sem dúvida nenhuma, é recompensadora. É o tipo de obra, que quando termina, fica cada vez melhor conforme você vai lembrando dela. Os personagens ficam como velhos amigos que você chegou a conhecer em algum momento, mas depois foram embora, assim como a vila.
Para a galera que gosta de cinema o nome de Kurosawa não é tão estranho, mas acho que ele é muito pouco falado por aqui. Pode se colocar a culpa no distanciamento cultural, mas honestamente acho que não é o caso. Seus filmes tem um “Q” de universais, pois, mesmo que se passem no Japão feudal, eles ainda tratam de temas comuns a todos: redenção, honra, vingança, justiça, paz e por ai vai. Dê uma chance a Akira e comece por essa obra prima do cinema.