Tenkū Senki Shurato (天空戦記シュラト lit. “As Crônicas da Guerra Celestial: Shurato”), ou simplesmente Shurato (シュラト), foi uma série de mangá criada por Hiroshi Kawamoto e adaptada para anime pela Tatsunoko Productions. É inspirado na mitologia do budismo-hindú, resgatando um pouco o começo das histórias no Japão, que eram inspiradas em lendas. Criado em 1987 para aproveitar o hype criado por Cavaleiros do Zodíaco, guerreiros com armaduras e uma mitologia como inspiração para trama, Shurato está completando 30 anos em 2017.

O mangá de Shurato começou a ser publicado na revista Shōnen King da editora Shōnen Gahosha. Estreou na TV Tokyo em 6 de abril de 1989 e continuou até 18 de janeiro de 1990, chegando a 38 episódios, seu final só foi mostrado na série de OVAs, Sōsei e no Antō, de 1991. Os países em que obteve maior sucesso foram Japão, França e Brasil, através da extinta Rede Manchete.

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Shurato Hidaka e Gai Kurawa, são dois praticantes de artes marciais e excelentes amigos desde crianças, os dois estão lutando num torneio em sua escola na terra e de repente somem. Shurato acorda no Mundo Celestial, onde a tecnologia moderna não existe e, ao invés disso, as pessoas dependem de seus Sohmas, uma forma de energia espiritual. Logo que acorda neste novo ambiente, conhece Rakesh, que se diz apaixonada por ele. Não demora muito e também encontra Gai, vestido com uma estranha armadura (a qual é conhecida como Shakti) e disposto a matá-lo. Leiga o Rei Karla, impede a luta dos dois. Shurato e Gai são levados até a presença de Vishnu e descobrem que são o Rei Yaksha ( Gai ) e o rei Shura ( Shurato ), dois dos Oito Guardiões Divinos do Povo de Deva, Os Hachibushu (八部衆, Hachibushū, Oito Guardiões).

Indra, o maior de discípulo de Vishnu, conspira com Gai e transforma a deusa em pedra. Porém Hyuga, o Rei Celestial, guardião de confiança de Vishnu, e Shurato vêem a traição de Indra, e os dois são acusados por ele de terem transformado Vishnu em pedra, mandando o restante dos Reis atrás deles. Depois de várias lutas os guardiões se separam em dois grupos: O grupo de Shurato, com Hyuga, Ryuma e Leiga e o grupo de Gai com Lengue, Dan e Keynia. E assim a jornada de batalhas e emoções começa.

Kawamoto, autor da série, teve a preocupação de manter a história o mais próximo possível da mitologia hindu/budista, que nada tem a ver com a grega. Apesar dos dramas, familiares às produções japonesas, Shurato não só enrola menos que Saint Seiya, como também segue mais fielmente suas mitologias inspiradoras (budista e, ainda mais fortemente, a hinduísta).

O Hinduísmo é uma religião muito complexa e o panteão indiano está costurado diferentemente daqueles dos gregos ou nórdicos. Não existe uma divindade suprema que está à frente dos outros e cada deus é considerado o maior nos hinos a eles dedicados. Os arianos que, por volta de 1.500 a.C., invadiram a Índia a partir do Norte, tinham vários deuses: o Céu, o Sol, a Terra, adorados sob forma humana. Em seu louvor escreviam hinos e cânticos, coletados nos Vedas (“conhecimento” em sânscrito), como se chamam os livros dos sacerdotes hindus, dos quais se colheram noções da mitologia. O mais velho é Rig Veda (“conhecimento real”), que descreve a criação do Universo. O Rig Veda sugere ainda que existia um só deus, desdobrado em vários aspectos: o Céu, pai do crepúsculo; Vayu (o vento), pai dos deuses da tempestade; Soma, pai das plantas;  Sarasvati, dos rios; Indra, filho da verdade e Agni, filha do poder. Geralmente, eram benignos e amavam a honestidade e a retidão.

Os mitos indianos são, seguramente, os mais complicados, têm várias ramificações e os textos recuperados apresentam várias divergências e contradições. Apesar disso, o artífice de encenatura soube representá-los bem, tornando-os menos caóticos. Quanto ao Budismo, este é um sistema ético, religioso e filosófico fundado pelo príncipe Siddharta Gautama, o Buda, difundido por todo o Extremo Oriente, e que consiste fundamentalmente no ensinamento de como, pela conquista do mais alto conhecimento, se escapa da roda dos nascimentos e se chega ao nirvana.

O budismo hindu divide o Universo em seis mundos (ideia esta que também inspirou o golpe Ciclo das Seis Existências que Shaka de Virgem utiliza em Saint Seiya, “Rikudo Rinne”), são eles: o mundo dos Devas, dos Asuras (em japonês Ashuras ou Shuras), dos Homens, dos Animais, dos Pretas e do Nevoeiro.

O Mundo do Nevoeiro (ou Inferno propriamente dito) representa o Ódio e é habitado por espíritos ou seres demoníacos totalmente perversos.

O Mundo dos Pretas é habitado por demônios famintos que representam a Ganância e o Sofrimento.

O Mundo dos Animais representa a Ignorância e é habitado pelos animais.

O Mundo dos Homens representa a Inconsequência.

O Mundo dos Asuras é habitado por seres que possuem a forma de seres humanos, mas com três faces e três pares de braços. Como não podem colher o soma dos Devas, vivem em constante guerra contra eles. Representam a Inveja.

O Mundo dos Deuses ( O Mundo Celestial em Shurato) é habitado por seres imensamente belos, os Devas, sempre cercados de abundância e opulência, bebendo o soma. Como nem todos possuem consciência de que um dia esses prazeres terão fim, alguns são arrogantes. Assim, representam o Orgulho.

Os Deuses

Em Shurato existem 3 divindades do hinduísmo que são consideradas maiores:


Shiva

Deus inocente ou da transformação. Tem um 3º olho, longos cabelos e uma serpente que simboliza sabedoria ou Kundalini ( uma energia adormecida no interior de todo ser humano). Com o 3º olho fechado Shiva é o protetor dos inocentes e, quando o abre, se torna Sankhara, o Destruidor. Ele não é um deus do mal, pois como a força da natureza destrói o velho para que o novo possa nascer, ao mesmo tempo é o destruidor e o criador. Em Shurato é o mal encarnado. Deusa da destruição, tem o poder de liberar e acentuar o Soma Negro que existe em todos os seres. É a Deusa que rege o povo divino de Asura. Fora banida do Mundo Celestial há 10.000 anos atrás por Vishnu e os antigos Guardiões celestiais.

Brahma

Deus criador. Divindade principal na mitologia, acredita-se que tudo se originou dele, da natureza ao ser humano. Em Shurato, ele morreu na batalha Celestial entre o Mundo Celestial e os Devas, que ocorreu 10.000 anos atrás.

Vishnu 

É o Deus protetor do universo, que se manifesta numa forma masculina . Ele representa a compaixão infinita. Quando o budismo foi para a China, este arquétipo de compaixão recebeu dos chineses e dos japoneses o corpo de uma mulher. No anime Vishnu tem a versão japonesa , por isso é uma mulher.


Os personagens 

Indra – Pai dos deuses menores. Senhor do clima e do trovão . Na série ele é o segundo em comando depois de Vishnu e o pivô da trama. Comandante supremo das forças divinas de Deva. Apesar de Indra ser muito querido e respeitado por todos do povo de Deva e de ter se tornado o maior discípulo de Vishnu, Indra na verdade, pertencia ao povo de Asura. Porém, seu Sohma Negro estava adormecido dentro dele. Com a aproximação do Palácio da Transformação, o Sohma Negro de Indra despertou. E, com isso, ele traiu Vishnu e iniciou uma rebelião, transformando Vishnu em pedra e culpando Shurato e Hyuuga , jogando os Oito Guardiões uns contra os outros. Devido à traição, ele é considerado o espião de Asura que se infiltrou no palácio celestial.

Os Deva (“Brilhante”), nas religiões do Oriente, são cada uma das diversas divindades masculinas que se situam entre os seres divinos superiores e os homens. No bramanismo, são deuses benéficos e imortais a quem se oferecem sacrifícios. São os habitantes do Mundo Celestial em Shurato.

Os hachibushus são os oito guardiões búdicos, protegem o mundo Celestial e mantém a harmonia no universo. É o nome dado aos 8 deuses menores que, no anime, são a guarda de elite de Vishnu e a proteção do mundo celestial e por consequência da Terra, já que esta é um reflexo de tudo o que acontece no mundo Celestial. Na mitologia, protegem os budistas e mantém a harmonia no universo. 

Os guardiões usam uma energia chamada Soma para lutarem. O Soma nada mais é do que o , para os hindús. No anime funciona como o cosmo em Cavaleiros . Cada guardião entoa um mantra como o de Shurato : Nawmaki Samandha Boddan Nah Abbila Um Kemn Soh Wahka! E solta o seu golpe.

Shakti – É a armadura dos guardiões, também entoa-se um mantra para usá- la, Shurato diz Ohm Shura Soh Wahka, Hyuga diz Ohm Ten Soh Wahka e assim vai, cada guardião possui seu mantra própio. O Shakti possui “vida própria” , regenera os danos sofridos , mas depende do Soma do guardião para isso, ou seja, quanto mais forte for o soma, mais forte será o Shakti. Na mitologia significa um poder divino. Essa palavra pode ser utilizada como sinônimo de Devi, a deusa indiana suprema; mas pode também representar a esposa de uma divindade masculina hindu. Assim, Parvati é a shakti de Shiva, Lakshmi a de Vishnu e Sarasvati a de Brahma.

Rei Ashura (Rei Shura) – Shurato, como seu própio nome diz é o rei dos shuras um dos poucos de sua raça que não são inimigos dos Devas. Possui o Soma mais Forte ao lado de Ryuma. Personagem principal do anime, Shurato  é fiel a todos os seus amigos e sempre se recusa a lutar com Gai. Mais tarde, descobre ser o Sucessor de Brahma, Deus hindu da criação. Possui uma personalidade temperamental e infantil, agindo às vezes por impulso ou por pura irresponsabilidade.

Rei Naga-Raja (Rei Dragão) – Ryuma, é o mais forte dos oito guadiões ao lado de Shurato, mas é o mais experiente, sempre conduz as lutas de maneira a orientar o grupo. Ryuma vence a luta mais difícil da série contra Acalanatha de Fudoumyou-ou, atingindo-o em seu ponto fraco. É o melhor amigo de Hyuga, essa amizade faz com que confie em que o amigo não é um, traidor.

Deva Raja – Rei dos Devas, (Rei Celetial) –  Hyuga, o Tigre , testemunha da traição de Indra e levou a culpa junto com Shurato. Sofre com o estado de Vishnu e tenta salvá -la antes que o mundo Celestial se destrua. Seu Shakti representa Deva, um grupo de deidades da mitologia hindu e budista, gafada em japonês com o mesmo kanji referente a céu, paraíso (,ten). Parece sentir algo por Lenge também.

Rei Yaksha – O lobo , personificado por Gai, amigo de Shurato. Na terra Gai era leal, honesto e generoso. No mundo celestial conspira junto com Indra e pretende matar Shurato a qualquer custo. Também sucessor de Brahma e antagonista principal inicialmente. Logo que chega ao Mundo Celestial é dominado pelo poder do Soma Negro,que foi colocado nele por Shiva.

Rei Garuda (Rei Karla) – Reiga (Leiga, na dublagem). O mais “delicado” dos oito guardiões. Na verdade Leiga é um andrógeno, altamente vaidoso, esperto, muito brincalhão e foi o que mais desenvolveu amizade com Shurato.. Rei ou rainha das aves, representa o pássaro mitológico de fogo, Fênix.

Gandaharva Raja (Rei Hiba) – Representado por Kibao Dan, o mais feroz dos oito guardiões, preza pela força física. Seu a animal símbolo é o javali. Sua devoção a Indra praticamente o cegou a tudo, sendo que acabou perdendo para Shurato, mas voltou a vida e se uniu a ele na luta contra as forças de Asura.

Moharoga Raja (Rei Dapha) – Rei da água, Kenya ( Kuuya, no original), o mais esforçado dos oito guardiões. O nome é uma homenagem á um monge budista do século XVI, que conseguiu grande força por muito treinar. É o Guardião que mais desenvolveu o poder do Soma. De expressão séria e disciplinar, Kuuya é o único que consegue neutralizar seu Sohma na Caverna do Luar (além de neutralizar o Soma de seus companheiros).

Kimnara Rengue Raja (Rainha Nala) – a única flor dos oitos guardiões. No desenho é representada por Rengue ( aqui Lengue), a única mulher entre os guardiões. Seu nome em japonês significa Flor de Lótus. Acreditava plenamente no mestre Indra, por quem era apaixonada.

Rakshu – A namorada de Shurato, é uma adaptação japonesa do nome Laksimi, deusa hindú da sorte e da fortuna . Aqui, virou Hakesh. Sucessora de Vishnu, despertando seu poder logo após a morte natural da Deusa. Ela está sempre alegre e é bem romântica, nunca se separa de seu bichinho de estimação Mii (juntando o nome dos dois, forma-se o nome da deusa Lakshmi). Mesmo dando uns puxões de orelha em Shurato, Laksh demonstra que o ama muito, a ponto de dar sua vida pelo rapaz, como aconteceu na luta contra Kundalini.


Curiosidades

  • Shurato teve 2 canções de abertura, “Shining Soul” e “Truth”, e 2 canções de encerramento, “Sabaku no meizu” e “Kyaraban”, todas interpretadas por Satoko Shimizu. No Brasil, apenas a primeira canção tanto de abertura quanto de encerramento foram adaptadas para o português em versões que fãs brasileiros colocam como uma das mais bem interpretadas dos animes, e foram interpretadas pela cantora Graça Cunha. Além disso, o estúdio, fazendo um bom trabalho, chegou a trocar as músicas internas do anime pela versão dublada, o que raramente é feito e serviu para acentuar a carga dramática das cenas.

  • A dublagem realizada é tida como um dos fatores do sucesso do anime no país, uma vez que permaneceu fiel ao original e ainda introduziu uma nova prática ao traduzir os créditos do original japonês para o português.O que foi seguido por Yu Yu Hakusho e mais tarde por Dragon Ball Z. Ainda assim, a dublagem modificou certos nomes no anime, traduzindo erroneamente o povo de Asura como “povo de Asra”, trocando o nome do deus Brahma para Brafma para que ele não ficasse com o mesmo nome de uma popular cerveja do país, adaptando Leiga, o Rei Garuda (Karura Oh), referente a uma ave da mitologia hindu similar a uma Fênix, para o Rei “Karla”[4] e modificando do nome do personagem Kuuya (o Rei Dappa) para “Kenya”.

 

  • Mandala, é o objeto onde cada um de seus pontos representa uma fonte de energia. Em outras palavras, um círculo com vários pontos, que quando interligados geram uma grande concentração energética. No tantrismo, Mandala é um diagrama composto por círculos e quadrados concêntricos; uma imagem do mundo e instrumento que serve à meditação. No anime, Shurato, Leiga, Hyuga e Ryuma unem seus somas na Formação Mandala para derrotar seu mais poderoso inimigo até então, Kundalini da tríade do demônio.

 

  • Mantra (“Canalizador psíquico”), no tantrismo, é uma fórmula encantatória, dotada do poder de materializar a divindade invocada. Em Shurato um mantra é sempre cantado para liberar um golpe ou invocar a shakti.

 

  • Shurato seria a última série de anime envolvendo armaduras e mitologias, chamado por alguns de sub-gênero “spirit”. Ainda assim é tido como um dos precursores do henshin e como a maior inspiração para Guerreiras Mágicas de Rayearth, cujas criadoras eram grandes fãs da série. 

 

  • Shurato foi uma das primeiras produções a ter seus bonecos e action figures falsificados em massa, durante a explosão desse mercado paralelo em meados da década de 90.

 

No Brasil, o anime não chegou a ser um sucesso estrondoso, mas ganhou bastante notoriedade, sendo o único entre os animes que estrearam na Rede Manchete na época, o que incluia Sailor Moon e Samurai Warriors, a manter a audiência do canal. Além disso, gerou diversos produtos licenciados que iam de bonecos à jogo de tabuleiro, lançados pela Glasslite. Shurato seria reprisado até 1999, ainda que já tivesse sido esquecido pelo público devido a curta duração do anime. Havia planos da Tikara Filmes para exibir os seis episódios do OVA lançado após o final da série em 1991. Originalmente, deveriam ser exibidos na Manchete, mas devido a temores por parte da emissora com possíveis prejuízos, o lançamento foi deixado de lado, e a Tikara partiu para lançar Yu Yu Hakusho. Shurato voltaria a ser exibido na RedeTV!, que havia substituído a Manchete em 1999, o que durou pouco tempo, uma vez que o novo canal não fez pagamento de direitos de exibição.

Apesar da crítica de ser uma versão repaginada de Cavaleiros do Zodíaco, Shurato mostrou-se muito mais do que uma mera imitação com seu roteiro curto, porém bem costurado com curvas dramáticas, cenas empolgantes e, acima de tudo, uma trama cativante se apoderando e adaptando da mitologia hindu/budista para tal. Não é incomum produções japonesas se inspirarem nessas histórias, pois fazem parte do arcabouço cultural e religioso oriental (nota-se influências também em Cavaleiro do Zodíaco até Naruto). Marcou a geração que cresceu assistindo a fantástica programação de fim de tarde da Rede Manchete nos anos 90. O anime conta 38 Episódios, 6 OVAs com o fim da série e o mangá com apenas 6 volumes.

Relembre algumas cenas do anime ao som de Viajante dos Sonhos, música de encerramento:

https://youtu.be/wTvxY7A7kQ8

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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