No cinema, o gênero Terror é um dos que mais tem produções de baixo orçamento. Algumas péssimas, outras mais ou menos e algumas poucas são verdadeiras pérolas no meio da vasta produção. Saber filtrar esses filmes demanda certo trabalho e aguentar muita coisa ruim que existe por aí. Existem muitos estilos de filmes de terror, e The Void vai mais pela temática estabelecida por H.P Lovercraft (que já falamos aqui) e tem uma produção de orçamento reduzido, mas consegue ser uma dessas pérolas.

Um policial acha um homem sangrando no meio da estrada e o leva ao hospital mais próximo da pequenina cidade. Lá ele começa a perceber que a vitima está ligado a um culto bizarro que começa a cercar o hospital. Coisas totalmente sobrenaturais começam a ocorrer enquanto os ocultistas estão do lado de fora tentando recuperar algo que está no hospital.

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O filme trabalha com poucos personagens num local relativamente confinado. O policial Daniel (interpretado por Aaron Poole) é bastante carismático e não se comporta como mais um personagem qualquer de filmes de terror. Na verdade, a maioria dos personagens consegue escapar dos clichês clássicos desse tipo de filme, o que é ótimo, até que os problemas começam a aparecer, pois é possível realmente se importar com eles. Temos o homem armado e misterioso, a enfermeira que ainda está estudando, o pai com a filha grávida e por aí vai.

O terror é bem inteligente em mostrar o suficiente e, diferentemente da maioria das obras baseadas em H.P Lovercraft, ela é bastante generosa na hora de trabalhar o visual das criaturas. O filme como um todo é visualmente muito interessante, e os diretores são Jeremy Gillespie (que trabalhou no departamento de arte de Pacific Rim, Esquadrão Suicida e do último Robocop) e Steven Kostanski (que trabalhou no departamento de maquiagem de Esquadrão Suicida e Colina Escarlate). O roteiro também é de autoria dos dois, que são extremamente inteligentes em combinar seus talentos anteriores para criar um visual incrível para seu filme.

Alguns personagens ficam um tanto subutilizados, o que é comum neste gênero em específico, e a história em si se torna bastante abstrata em seu terceiro ato. Isso pode ser bastante incomodo para alguns, mas, uma vez que essa ideia é abraçada, torna-se uma jornada interessante e ousada. É o tipo de filme que é preciso abraçar a proposta para aproveitá-lo. Talvez fãs de um terror mais próximo de Jogos Mortais e coisas mais realistas tenham certa dificuldade de apreciar esse estilo de terror.

O roteiro é bem ousado, mas os diretores são muito eficientes em brincar com jogo de câmeras e uso de sons. Sabem exatamente o que mostrar e o que não mostrar. Obviamente que algumas viradas de roteiro são levemente forçadas, mas outras são bem interessantes e inusitadas. O clima de terror é muito bem implementado, aos poucos, assim como a personalidade dos personagens, que vamos descobrindo paulatinamente, até o fim do filme.

Palmas para Ellen Wong (que faz o papel de Kim) que tem uma personagem subutilizada, mas consegue entregar bem seu papel e acaba sendo curiosamente carismática e humana numa situação tão bizarra. De todos os filmes baseados em Lovecraft, esse é uma das obras mais interessantes, se não uma das melhores (dentro de um top 5 talvez) que é um tema que já sofreu muito com adaptações . Uma ótima  dica para qualquer fã do autor, do gênero de terror e de um bom filme divertido.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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