O universo compartilhado da DC chega ao seu quarto filme com Mulher Maravilha, até então tivemos três filmes que dividiram opiniões e foram bastante questionáveis diante da crítica e dos fãs. A heroína que marcou presença em Batman VS Superman (que já falamos aqui), finalmente ganhou seu filme solo antes do longa da Liga da Justiça. Muitos nutriam confiança neste filme por se passar cronologicamente distante de BvS e estar sob direção de um novo nome que poderia refrescar a visão controversa que este universo estava seguindo até então. E a primeira produção solo nos cinemas de uma protagonista dos quadrinhos nessa nova leva de universos compartilhados não só cumpre a expectativa depositada, como também empolga os espectadores.

A ilha de Temiscira foi criada por Zeus para resguardar a morada das amazonas, guerreiras que deveriam guiar o resto do mundo a uma era de paz e compreensão mútua. Entretanto, a maldade inerente da humanidade fez com que elas se isolassem em sua ilha onde Hipólita esculpe do barro sua filha, Diana que foi agraciada com vida por Zeus. Com a chegada de Steve Trevor, um espião britânico da Primeira Guerra Mundial, Diana percebe que Ares está pondo em prática o seu plano de destruir a humanidade e decide partir numa jornada para impedi-lo.  

Neste filme podemos finalmente ver Gal Gadot atuando como Mulher Maravilha de forma mais clara. Ela consegue ser brava, destemida, fofa e gentil, tudo que a heroína necessita ser em sua própria história. Chris Pine faz um ótimo Steve Trevor cheio de humor e facilmente identificável como um humano valoroso. A química entre os dois em tela é incrível, conseguindo seguir todas as nuances que o roteiro pede aos dois. Os personagens secundários, seja na ilha ou os soldados da guerra, são interessantes e temperam o filme conforme vamos passando entre as emoções de conflito, humor, tristeza e tudo mais.

Patty Jenkins surpreende muito como diretora de cenas de ações e aventura. As amazonas possuem um estilo próprio de luta que é marcante e visualmente impactante. Mulher Maravilha usa todas as suas armas clássicas de forma orgânica sem a necessidade de justificar coisas como “Por que ela não usa armas de fogo?”. O filme varia entre o muito claro e o escuro de forma natural e somos agraciados com cenas de lutas diurnas de encher os olhos. Ela sabe fazer um uso inteligente da câmera lenta durante a ação para detalhar movimentos épicos e complexos que merecem ser vistos com calma, não por mero estilo, somente quando é necessário. Mas ela não é perfeita, não sabendo a hora de cortar as cenas ou deixando vácuos de uma situação para a outra que não ficam bem desenvolvidos, porém nenhum erro mortal.

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O primeiro ato do filme é um tanto apressado. Quase não vemos a ilha ou entendemos como a mitologia grega funciona nesse mundo do universo D C. Em pouco temos já temos Steve em cena e Diana no mundo dos homens. Na realidade quanto mais pensarmos na ilha mais problemas de desenvolvimento e dúvidas de roteiro podem aparecer e exigir explicações, porém a intenção não é passarmos muito tempo além do que deveríamos lá, mostrando que essa “pressa” serve para o filme caminhar em sua história, sem grandes delongas em explicações minuciosas. Entretanto, logo que Diana chega ao mundo dos homens temos um bolsão cômico sensacional e muito inteligente, fazendo contraste dela com a realidade do início do século XX.

O segundo ato nos dá as melhores cenas de ação do filme no meio dos campos de batalha, onde somos apresentados a mais personagens secundários interessantes e divertidos. Por outro lado os vilões que acompanhamos ao longo do filme são bem exagerados, caricatos e pouco interessantes. O roteiro não se esforça muito em desenvolvê-los em detrimento de dar cada vez mais espaço para Diana brilhar como heroína. Os porquês dos personagens agirem diante da guerra são bem fundamentados e até bem inteligentes diante do contexto histórico da época, dando a heroína e seu grupo uma missão interessante a cumprir.

No terceiro ato chegamos às finalizações e tentativas de reviravoltas no roteiro, que podem não surpreender, mas não comprometem. A tensão e momentos dramáticos são eficientes, pois é muito fácil se envolver emocionalmente com as figuras que acompanhamos ao longo da jornada, fazendo finalmente heróis e heroínas carismáticos em um filme do universo DC. Alguns podem considerar as finalizações de arco um tanto clichês, mas para o tipo de personagem clássica que estamos lidando, é justamente o que era necessário. Isso inclui a luta final, que não é genial, mas cumpre bem seu propósito. A trilha sonora é tão épica quanto filme, mas curiosamente o tema que ouvimos em Batman VS Superman não se encaixa muito com o clima deste longa.

Vá para Mulher Maravilha esperando lutas épicas, diversão e uma boa dose de emoção com uma heroína, que apesar de super poderosa, é muito humana, trazendo-nos, finalmente, valores heroicos esquecidos para as telonas. O filme é perfeito como origem e apresentação da personagem que é cheia de personalidade princípios sólidos. Na realidade ele é tão interessante que até contradiz alguns pontos que foram levantados em sua primeira aparição, mas isso acaba se mostrando algo bom depois da ótima história que vemos sendo contada.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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