O falso documentário é um estilo que surgiu em meados dos anos 90 com o intuito de fazer histórias de terror mais imersivas. Bruxas de Blair é um exemplo clássico deste subgênero, e  a partir dela surgiram diversos outros filmes de terror  que trabalhavam com este estilo. Entretanto a comédia se apropriou desta ideia com ótimos exemplos no mundo dos seriados, como Modern Family. O filme “O Que Fazemos Nas Sombras” tem a proposta de acompanhar a vida de um grupo de vampiros que moram juntos no mesmo flat e como é seu dia a dia. Além de brincar com o formato de documentário, o filme faz um enorme passeio cômico a todo o universo de vampiros.

O filme é dirigido por Taika Waititi (o diretor do vindouro Thor 3) e Jemaine Clement que trabalhou em diversas dublagens em Rio, Meu Malvado Favorito, Lego Batman e o recente Moana. Ambos estão trabalhando como atores no filme, e fazendo um ótimo trabalho, além de serem os autores do roteiro. A direção de ambos é ótima conseguindo criar um clima bizarro que mistura o genuíno terror e a comédia.  Obviamente que tudo isso surge na tela devido a um roteiro extremamente inteligente e bem pensando em toda mitologia bem consolidada do vampiro. Os personagens principais, que moram na mesma casa, são arquétipos clássicos de histórias já conhecidas.

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Viago (interpretado por Taika Waititi) é o típico vampiro clássico da Universal Studios, filmes icônicos dos anos 30 e 40. É muito educado, arrumado e simpático. De certa forma é o protagonista do filme que veio morar na Nova Zelândia, pois estava atrás de sua amada, mas quando finalmente a encontrou ela já estava casada.

Vadislav (interpretado por Jemaine Clement) é uma copia cômica do Drácula, fazendo referencias claras ao filme clássico dirigido por Coppola e ao personagem histórico que deu origem ao vampiro mais famoso do mundo: Vlad, o empalador. Uma das situações mais cômicas são ligadas a uma terrível criatura chamada de “A Besta”. Após travar uma batalha com tal ser, Vlad perdeu parte de seus poderes vampiros, como se estivesse sofrendo de impotência.

Deacon é a versão mais recente do vampiro, mais pautado em filmes como “Lost Boys” e os livros de Anne Rice. O vampiro mais jovem, inconseqüente e um tanto rebelde. Extremamente preocupado com estilo e aparentar ser um bad boy.  Constantemente arruma confusão com outros grupos étnicos como lobisomens (que nesse filme são retratados como um grupo de auto-ajuda para pessoas raivosas).

Petyr é, talvez, o personagem mais escrachado, fazendo uma gigantesca homenagem ao filme Nosfetatu (que falamos aqui). O irônico é que a caracterização dele ficou tão bem feita que ficou genuinamente assustadora, apesar deste ser um filme de comédia. É o vampiro mais antigo dos quatro e vive isolado no porão, apesar de tentar ter momentos sociáveis e fofos.

Apesar de se tratar de uma estrutura de documentário o filme possui seus arcos de personagem, que se resumem a constante busca por adaptação dos protagonistas neste mundo dos humanos. Como eles saem à noite? Como sabem se estão bem vestidos se não possuem espelhos em casa? Como é seduzir pessoas no século XXI, sendo que todos eles têm séculos de idade. Tudo rodeia no encontro destes seres antigos com a modernidade. Alguns humanos também fazem parte da trama para ajudar neste choque de mundos que se mostra muito cômico. O que me surpreendeu foram os efeitos simples, porem muito bem feitos, envolvendo vampiros voando, sangue jorrando e até mesmo algumas transformações.  Alguns elementos clássicos das histórias vampirescas estão presentes como a necessidade de serem convidados para entrar (o que dificulta muito a entrarem em bares), sua relação com seus subalternos humanos e toda comunidade do submundo da Nova Zelândia.

Taika Waititi e Jemaine Clement estão de parabéns, pois mostraram um profundo conhecimento do tema e sabem brincar com ele de forma muito inteligente, que favorece o fã dos clássicos do cinema de terror. Conseguem misturar o terror e a comédia de forma incrível. O filme é claramente de baixo orçamento, mas mesmo assim consegue criar um ótimo cenário e boas cenas. Dois diretores e roteiristas promissores.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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