Em 26 de maio de 1897 foi lançado um dos livros mais famosos do mundo, Drácula do autor Bram Stoker. O livro foi um grande sucesso logo nos primeiros anos e adaptado para o teatro onde ficou ainda mais popular. Conforme o cinema foi se popularizando como mídia, diversas obras teatrais começaram a ser adaptadas para esse novo formato. Nesses primeiros anos do século XX o cinema alemão foi ganhando corpo e desenvolvendo suas próprias linguagens, e o expressionismo alemão é uma delas onde temos obras sombrias e fantásticas. Um grande exemplo deste estilo cinematográfico é Nosferatu.

O filme é uma tentativa de adaptar a obra de Stoker, mas o autor já havia morrido e os direitos da obra estavam com sua esposa. A viúva proibiu a adaptação do diretor alemão F.W Murnau. Mas isso não o fez desistir, ele e seu roteirista Henrik Gallen, decidiram mudar os nomes dos principais personagens e passar a história na Alemanha em vez de Transilvânia/Inglaterra. O personagem Drácula se tornou Orlok, um Nosferatu (tipo de vampiro mais presente nas culturas da Europa Oriental), enquanto os personagens ingleses se tornaram alemães, porém Van Helsing simplesmente sumiu nesse roteiro.

A trama é estruturalmente muito parecida com a do livro. Um corretor de imóveis vai visitar o castelo de um conde estranho e excêntrico na tentativa de vender uma casa para ele na cidade. Logo após fecharem o negócio, ele descobre que o tal conde é um vampiro e que deseja tomar sua esposa como vítima. Assim começa o terror e a corrida contra o tempo para impedir que a mulher caia nas garras do temível vampiro.

Além de ser um grande exemplo do expressionismo alemão esse filme foi muito responsável por estabelecer os primeiros conceitos visuais do vampiro, que se tornou um dos conceitos mais populares do mundo. Se tratando de um filme de 1922 é impressionante como ele ainda consegue passar a sensação ruim que é essa história. Certamente você não sentirá medo ao ver esse filme, mas ele consegue passar a emoção do terror da situação, além de ter um visual incrível que até hoje causa um arrepio. Estamos falando de um filme mudo, portanto todos os movimentos dos personagens são mais exagerados para compensar a falta de som.

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Mais impressionante do que o próprio filme é a história por trás dele. Quando foi lançado, a viúva de Bram foi atrás dos seus direitos e tentou impedir que esse filme fosse comercializado. Logo depois o regime nazista tomou a Alemanha e começou uma caçada por todos os estilos artísticos que não se enquadrassem no modelo nazista. O expressionismo alemão entrava nessa censura, pois se tratava de uma estética sombria e um tanto pessimista, que ia contra ao modelo centrado, iluminado e otimista que a arte nazista possuía. Portanto foi uma grande dificuldade fazer com que esse filme sobrevivesse até os dias de hoje. Atualmente ele está em domínio público e é disponibilizado gratuitamente na internet.

Até hoje ele é tido como um dos principais filmes de vampiros de todos os tempos e fundamental para estabelecer esse conceito no cinema. Foi refilmado na década de 70, mas sem muita reverberação no meio. Em 2000 o filme “A Sombra do Vampiro” chegou com o pretexto de contar os bastidores de Nosferatu e brinca com a ideia de que Max Schereck, o ator que fez Orlok, era de fato um vampiro e havia feito um pacto com o diretor oferecendo a vida da atriz que fez Greta como pagamento pela sua atuação. Nesse filme de 2000 quem faz o vampiro é Willem Defoe. Essa ideia surgiu do fato das histórias envolvendo Max, que apesar de fazer outros filmes, teve uma careira curta e parece ter entrado demais no personagem, e assustando um pouco os outros atores.

Atualmente esse filme é colocado como um dos mais fiéis a obra original do Drácula, o que é bem irônico levando em conta que por muito tempo foi tachado como “a versão pirata” do famoso vampiro. Seu estilo foi determinante para estabelecer o vampiro como uma das criaturas mais cultuadas e alavancar o gênero de terror dentro da mídia cinema.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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