Em algum momento, todos nós já desejamos ser outra pessoa ou então viver a vida dela, nem que fosse por um único dia. Agora, imagine se essa fosse a única opção: a cada dia você é uma pessoa diferente, vivendo em um corpo novo, sempre com outra família. Essa é a vida do protagonista de Todo Dia, um romance criativo e original escrito por David Levithan.

Todo dia, A acorda em um corpo diferente e assume para si a vida dessa pessoa por 24 horas. Mesmo sem saber quem será na manhã seguinte, ele encara isso como algo normal, pois sempre foi assim. Seguindo seus princípios, ele estabelece alguns limites como nunca se apegar a ninguém e não interferir na rotina de seu “hospedeiro”. Mas as coisas mudam quando A desperta no corpo de Justin e acaba se apaixonando pela namorada dele, Rhiannon. A partir daí, ele deseja permanecer com ela e viver como alguém normal, mas tem consciência de que isso não é possível, sem contar que ele não sabe como Rhiannon lidará com essas mudanças de identidade. Ainda assim, eles buscam meios de se encontrarem diariamente para tentar descobrir um jeito de manterem esse relacionamento. Mas será que o amor pode superar tal dificuldade?

No nível mais básico, sim, é um livro de romance adolescente. Mas a forma como esse romance acontece é tão diferente de qualquer coisa que fica difícil não se sentir atraído pela trama. A curiosidade para saber como os personagens contornarão esse obstáculo é o que movimenta a narrativa. E cada um deles tem suas próprias barreiras a superar. Como se não bastasse o fato de trocar de corpos todas as manhãs, A precisa aprender a lidar com sua própria vida amorosa. Por vezes, ele assume uma postura arrogante por achar que já viu de tudo e conhece as pessoas melhor do que qualquer um. Rhiannon, por outro lado, precisa vencer seus próprios preconceitos com relação à aparência e ao modo particular como cada pessoa vive.

Pelo fato de A precisar se adequar à vivência de outros indivíduos diariamente, sua capacidade de sentir empatia é notável. Além disso, ele consegue se adaptar a qualquer gênero ou sexualidade sem preconceito, pois ele próprio não sabe definir se é homem ou mulher pelo fato de não possuir um corpo exclusivo. Ele simplesmente é um ser consciente com pensamentos e desejos próprios, mesmo que precise conviver e respeitar as vontades de seu hospedeiro.

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Nesse quesito, Todo Dia nos provoca uma reflexão profunda: o que define ser humano? Necessariamente precisamos de um corpo de carne e osso para sermos considerados pessoas? O livro consegue dissociar a ideia de imagem/aparência do conceito de humanidade. Em nenhum momento a natureza de A fica clara para nós, mas nem por um segundo ele se enxerga como algo que não seja um ser humano, porque ele sente e tem necessidades como qualquer um.

David Levithan escreveu três livros para contar essa história, porém o final do primeiro volume já é bem satisfatório e conclusivo por si só. No segundo livro, Outro Dia, acompanhamos a mesma narrativa sob o ponto de vista de Rhiannon. No terceiro, Algum Dia, é mais provável encontrarmos respostas sobre a origem de A e por que a vida dele é dessa forma.

Todo Dia vai muito além de um simples romance entre adolescentes. A criatividade e a originalidade da trama nos instigam a pensar sobre nossa identidade e o que faz com que nós sejamos quem somos. Ao mesmo tempo, nos convida a nos colocarmos no lugar do próximo e enxergar o mundo sob outra perspectiva.

Adicione esse livro a sua biblioteca!

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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