Depois de me aventurar pelo mundo bruxo de Harry Potter e acompanhar as confusões entre deuses em Percy Jackson, finalmente decidi que era hora de conhecer outra saga literária famosa: a trilogia Jogos Vorazes, da escritora Suzanne Collins. E não foi nenhuma surpresa para mim que, depois de concluir a leitura, eu me perguntei “por que nunca li isso antes?”
Ao longo de três livros, através da narração em primeira pessoa da protagonista Katniss Everdeen, somos apresentados a um futuro distópico onde diversas catástrofes reduziram a população da América do Norte a uma nação chamada Panem. Esse país, dividido em 12 distritos, é governado de forma totalitária pelo Presidente Snow diretamente da Capital. A cada ano, como forma de punição por uma antiga rebelião, a Capital realiza os Jogos Vorazes, uma espécie de reality show macabro onde cada distrito deve enviar dois jovens para lutarem até a morte em uma arena cheia de ameaças. A história começa quando Katniss se oferece para participar dos Jogos no lugar de sua irmã de apenas 12 anos e, a partir daí, suas escolhas vão definir não só o seu futuro, mas o de todo o país.
Apesar do público-alvo ser de jovens leitores e a obra apresentar vários elementos característicos desse gênero, essa trilogia se baseia no mesmo conceito de distopias clássicas como 1984, de George Orwell. O controle do governo sobre os cidadãos não se sustenta apenas na força bruta, mas também na manipulação ideológica feita pela mídia. E, trazendo para a nossa atualidade, qual a melhor maneira de manipular as massas senão com entretenimento barato, mais especificamente os reality shows? As sementes do Big Brother que Orwell plantou lá atrás agora são extrapoladas com a narrativa de Collins, onde as pessoas da Capital vibram com crianças e adolescentes tirando a vida uns dos outros ao vivo, sem questionar nem por um segundo o quanto isso é errado.
Essa alienação é evidente nos três volumes e vai mudando de forma conforme as coisas vão acontecendo: primeiro a banalidade dos jogos e depois as disputas ideológicas e políticas conduzidas pelos lados rivais que vão surgindo. E no meio disso tudo está Katniss, tentando sobreviver enquanto dança conforme a música de quem tem controle sobre ela naquele momento. Nos dois primeiros livros – Jogos Vorazes e Em Chamas – ela é uma personagem mais ativa, se arriscando mais. Já no terceiro, A Esperança, ela assume uma postura passiva em boa parte da trama que chega a ser irritante, o que torna esse volume o que menos gostei dentre os três. O fato da narração ser em primeira pessoa também é um limitador, pois prende o leitor em apenas um ponto de vista o tempo inteiro. Isso diminui o impacto de alguns acontecimentos, inclusive mortes de personagens importantes que acabaram ficando de lado. Inclusive, um dos maiores acertos dos filmes é justamente apresentar outros ângulos e perspectivas diferentes.
Apesar de eu não gostar muito de triângulos amorosos ou dilemas românticos, isso é tolerável em toda a trilogia. Esse é o principal ingrediente que classifica a obra como um livro para jovens, mas foi bem trabalhado pela autora. Katniss se encontra dividida entre Peeta, por quem ela tem uma relação de amor e ódio, e Gale, seu único e mais antigo amigo. Esses dois não poderiam ser pessoas mais diferentes, cada um com sua personalidade e forma de agir únicas. Mas na minha forma de ver, a balança sempre pendeu mais para um lado desde o início, considerando o posicionamento dos dois rapazes – e da própria Katniss – em determinadas situações.
Jogos Vorazes é uma trilogia fácil e prazerosa de ler apesar de todas as camadas mais profundas que podemos extrair da obra. O mérito de Suzanne Collins é não infantilizar ou subestimar seus leitores ao tratar de temas complexos como os que são explorados e chegar a um final condizente com tudo que foi mostrado. Por isso esse foi mais um exemplo claro de histórias que não devo julgar antes de conhecer.
Adicione esses livros à sua biblioteca!
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