A diretora Ava DuVernay tem em seu currículo o filme Selma: Uma Luta Pela Igualdade que concorreu ao Oscar como melhor filme em 2014. Até o momento em que esta crítica está sendo escrita ela é a nomeada para fazer o filme dos Novos Deuses, que tem como objetivo mostrar a mitologia cósmica da DC. Seu último trabalho foi para a Disney, onde dirigiu o filme Uma Dobra no Tempo, que também fala muito sobre forças antropomórficas do universo, assim como os personagens da DC.
Meg convive há quatro anos com o desparecimento do seu pai e cada vez mais possui dificuldades de interagir com outros jovens da sua idade. Tudo indica que ele desapareceu enquanto fazia experiências envolvendo a viagem no tempo e no espaço usando a mente. Quando forças misteriosas dizem que vão ajudar a menina a encontrar seu pai, ela parte numa viagem por diferentes mundos junto com seu irmão mais novo e seu novo amigo.
O filme é baseado no livro de Madeleine L’Engle, que foi lançado em 1962 e já havia sido adaptado pela Disney em 2003. Ela criou todo um universo de histórias infantojuvenis que brincam com esses conceitos multidimensionais. A última versão traz nomes interessantes no elenco como Oprah Winfrey, Chris Pine e outros atores menos conhecidos, mas que claramente estavam muito empenhados em seus papéis.
Os grandes problemas deste filme estão quase todos no roteiro. O livro foi adaptado para a forma de roteiro por Jennifer Lee (que trabalhou nos roteiros de Frozen, Zootopia e Detona Ralph) e Jeff Stockwell. O cerne de seu problema está na protagonista Meg. Durante todo o filme o roteiro nos diz o quanto ela é problemática, sofre no colégio com as meninas populares e aparentemente não faz nada direito. Isso seria um ótimo recurso para gerar empatia com uma protagonista subestimada e que se prova perante os outros, mas em nenhum momento é justificado o porquê deste escárnio todo que ela sofre. As cenas onde ela sofre bullying são risíveis de tão forçadas para criar uma sensação de que ela é a excluída no colégio e incompreendida pelos professores.
Seu irmão mais novo é o arquétipo de criança super dotada, mas, também, em nenhum momento vemos fatos e comportamentos que justifiquem isso. Tirando o fato de que ele se veste como um senhor de 60 anos e fala de forma excessivamente polida. É dito em dado momento que ele será uma das mentes mais brilhantes de sua geração e durante a trama não vemos nada que explique tal afirmação. Para completar o personagem estranho, ele é chamado por todos os outros como Charles Wallace. Em nenhum momento é chamado só de Charles ou só de Wallace,SEMPRE são os dois nomes. Isso pode parecer uma reclamação boba, mas é algo realmente irritante e que, em dados momentos, fica completamente ridículo. Não é dada nenhum porque plausível para tal peculiaridade. Para completar, temos o personagem de Calvin, que também fala como um adulto aristocrático. Apesar de sua participação ter pouco propósito, ele acaba sendo um dos personagens que menos incomoda justamente por estar menos em evidência.
O filme trabalha com conceitos de ficção científica que são tão surreais que beiram à magia. A própria representação das forças do universo que lutam contra a escuridão já é bem mais próxima de histórias de caráter fantástico do que cientifico. Por ficar muito no meio do caminho destes dois conceitos, a trama parece não ter nenhuma regra muito clara sobre como este universo funciona. Diversas coisas que são estabelecidas são quebradas ou simplesmente ignoradas com o decorrer do filme. A própria ideia de que existem forças do bem e do mal é uma ideia muito simplista, e quando tentamos estabelecê-la para todo o universo, ela parece bem fraca e boba demais até para um filme infantojuvenil.
Diversas coisas acontecem sem um porquê claro. Às vezes existe o uso de ideias cientificas, outras mais puxadas para a magia, mas de modo geral, tudo soa como aleatório e sem propósito. Justamente por percebemos que muitos dos acontecimentos se dão simplesmente porque o roteiro quer, logo não nos investimos emocionalmente na missão de salvar o pai de Meg ou nos perigos que o trio enfrenta. No fim do longa só temos a sensação de ter visto ótimos efeitos especiais que não contam uma história pautada em nenhuma ideia sólida, uma série de imagens bonitas e uma luta entre o bem e o mal que não possui peso nenhum.
Compre os livros de Madeleine L’Engle nos nossos links da Amazon e ajude o Tarja Nerd a ir cada vez mais longe