Apostando no poder do universo do Homem-Aranha (que inclusive ganhará uma animação brevemente), a Sony Pictures lança o filme solo de um dos maiores vilões do herói, conhecido por ser a antítese do cabeça de teia: Venom (já que a produtora está limitada de usar o amigão da vizinhança durante o hiato de Guerra Infinita). A nova produção estreou sob muita desconfiança da crítica, mas aos poucos foi ganhando força no circuito batendo algumas marcas na bilheteria mundial mesmo sem a participação do Homem-aranha, conseguindo ser lucrativo como pretendiam seus idealizadores e mostrando que o vilão tinha sim seu apelo. Mas será que Venom tem mais a dizer do que “apenas” bilheteria?

Antes de desenvolver a resposta, primeiramente tenho que dizer que o espectador conhecedor de quadrinhos tem que praticamente obliterar seu conhecimento prévio do personagem. A origem do protagonista do filme tem nada a ver com a origem não só do traje do Peter Parker (no Guerras Secretas), como também da simbiose com o Eddie Brock. E também não espere por nenhuma participação de Parker na película, ou sequer alguma referência ao herói ou ao Clarim Diário. Aliás, o filme nem se passa em Nova Iorque. Pois é, tá uma total bagunça cronológica e geográfica nesses dois universos paralelos dos filmes da Sony e da Marvel. Porém, isto posto, vamos falar do filme.

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San Francisco, Estados Unidos. Eddie Brock (Tom Hardy) é um jornalista investigativo, que tem um quadro próprio em uma emissora local. Um dia, ele é escalado para entrevistar Carlton Drake (Riz Ahmed), o criador da Fundação Vida, que tem investido bastante em missões espaciais de forma a encontrar possíveis usos medicinais para a humanidade. Após acessar um documento sigiloso enviado à sua namorada, a advogada Anne Weying (Michelle Williams), Brock descobre que Drake tem feito experimentos científicos em humanos. Ele resolve denunciar esta situação durante a entrevista, o que faz com que seja demitido. Seis meses depois, o ainda desempregado Brock é procurado pela dra. Dora Skirth (Jenny Slate) com uma denúncia: Drake estaria usando simbiontes alienígenas em testes com humanos, muitos deles mortos como cobaias.

Sob a direção de Ruben Fleischer (Santa Clarita Diet), o filme tenta estabelecer uma conexão do público com o protagonista vivido por Tom Hardy e o que acaba sendo seu alter-ego: Venom. E até certo ponto constrói de forma interessante tal relação onde um depende do outro para viver, mas os detalhes enfraquecem tal construção do personagem. Eddie Brock aparentava ser um repórter investigativo conceituado e famoso e que após sua demissão se torna literalmente em um “loser”. Ok, uma demissão pode até gerar traumas psicológicos nas pessoas, ainda mais combinado com um término de noivado. Porém os dois fatos são consequências de uma atitude implacável de Eddie, o que no mínimo soa contraditório ao chamá-lo de loser sem nenhuma outra argumentação (talvez os 40 minutos que foram cortados na edição tenham feito falta para esta construção).

Outro ponto negativo é a origem e o pretenso mistério que envolve os simbiontes. Um outro planeta (ou algo do tipo) com todo um funcionamento social e militar destes seres que já planejavam invadir a Terra? No mínimo é um pouco estranho pensar nisso. Assim como também é um tanto forçado ver tantas cobaias do laboratório Life morrerem ao entrarem em contato com simbiontes, enquanto que aquele que fugiu na Ásia andou por seis meses no corpo de uma mulher de idade, e que de passo a passo foi ao encontro do fraco vilão empreendedor do filme Dr. Carlton Drake. Tudo acontece com bastante conveniência no filme, inclusive as próprias mudanças de ideia de Venom, que de um instante para o outro passa a também nutrir um “carinho” por Anne e pelo própria planeta e os humanos.

O argumento de denúncia que permeia todo o filme (primeiramente com Brock e depois com a cientista) é pouco substancial para motivar todo o plot. Mas um dos pontos fortes do filme são as cenas de ação e os efeitos especiais (como já era de se imaginar). O visual do Venom está excelente, e a primeira grande cena de perseguição do filme é contagiante. A montagem e os cortes estão bem acertados para dar um bom ritmo em tais cenas. Mas para um filme de super-herói o tempo de ação do longa foi pequeno e ainda por cima alternava entre algumas atuações bem “overreacting” de Tom Hardy, que aparentava não estar tão confortável no papel, apesar de se esforçar em fazê-lo. Ao fim somos colocados em um combate mortal na baía de lançamento de foguetes, aonde mostra-se que os simbiontes podem até reviver seus hospedeiros. Dando um tom mais piegas do que o necessário a um filme de anti-herói, porém compreensível ao pensarmos na cartada da Sony que está engessada na franquia. No fim fica a promessa de continuação ainda explorando o micro-universo de Venom que, pelo aparente sucesso de bilheteria, deve rolar.

Venom é um filme de ação dentro da média que usa como desculpa o lastro do personagem nos quadrinhos, mas apresenta profundos problemas numa segunda camada de análise. E respondendo a pergunta inicial se Venom tem o que dizer no cinema além de sua expressiva bilheteria: a resposta é NÃO. Mas pode até ser um programa divertido para quem quiser apenas ir curtir um filme no cinema e esquecê-lo assim que sair da sessão.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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