A tecnologia e a filosofia. Campos que podem parecer extremamente distantes, mas que ao mesmo tempo são tão próximos. Entretanto a minha intenção aqui não é adentrar na discussão da techné grega, e sim explicitar como obras que teoricamente a tecnologia está em primeiro plano da trama – robôs, androids, softwares, etc. – conseguem abordar de forma tão eficaz questões extremamente humanas. Existem diversos exemplos que corroboram com esta minha afirmação, e que não são desconhecidas para o grande público: Metrópoles, Blade Runner, Her, Matrix, Ghost in The Shell, além dos vários excelentes livros de Asimov, entre outros, são obras que compõem os exemplos de como a ficção científica pode ser muito humana. E WestWorld, a mais nova série de ficção lançada pela HBO que se encerrou agora em dezembro, consegue galgar com excelência um espaço nessa seleta lista de obras diferenciadas.

Por que você deve assistir Westworld – leia mais.

Com uma história instigante, Westworld consegue abordar elementos que fazem o espectador pensar muito além da história da trama. A série produzida por Jonathan Nolan, realmente faz com que nos coloquemos empaticamente nas situações propostas pela série. Somos apenas peças em um jogo dos “deuses”? Somos fadados à vitórias e tragédias para entretê-los? A série mais do que flerta com estas questões, ela as desenvolve e debate em seus dez episódios da primeira temporada.

Esse desenvolvimento pode ser difícil para aqueles que esperam tiros e violência a todo momento nas produções, apesar da série também apresentar tais elementos. Porém o plot principal, a ideia diferenciada de Westworld, não está neste quesito, e sim no que está subentendido na tela: A luta interna entre a programação e autonomia, entre o artificial e a vida. Se não conseguimos diferenciar o que é humano do que é android, então qual é a diferença entre eles? 

Muitas dúvidas já pipocavam no início da série e a cada episódio surgia um ou dois mistérios a mais que iam se juntando aos anteriores: O que é o Labirinto? Quem é Arnold? Quem está alterando a programação dos “hosts”? Quem é Wyatt? Perguntas que a própria produção já tinha respondido em seus bem costurados episódios, mas que só fazemos a verdadeira conexão no season finale da série – que por sinal foi em um nível acima do excelente. O que realmente demonstra a extrema qualidade do roteiro, que constrói a rede de mistérios e mensagens ao longo dos 10 episódios e finaliza com plot twists e explosões de cabeças para todos os lados – metafórica e literalmente falando.

Um excelente roteiro, e também um excelente elenco. A qualidade nos atores em dar vida à história desse roteiro é marcante. Interpretar tantos personagens complexos e humanos mesmo sem realmente os ser, é realmente o que a série propõe e é executada com maestria pelos atores envolvidos. Tivemos o nosso brasuca Rodrigo Santoro (Héctor), Thandie Newton (Maeve), James Marsden (Teddy) e Evan Rachel Wood (Dolores) como o núcleo principal da trama. Porém o que dá o brilho a mais em Westworld são os excelentes Anthony Hopkins (Dr. Ford), Jeffrey Wright (Bernard) e Ed Harris (Homem de Preto), que dão vida, carisma e, acima de tudo, credibilidade aos dramas, desconfianças e descobertas que fazemos durante a série.

É de pleno conhecimento publico que o ser humano tem diversas necessidades: Fisiológicas, segurança, sociais, estima, etc. E a tecnologia está aqui para suprí-las, seja ela descoberta ou inventada. Desde o fogo que fora descoberto para assar nossos alimentos e afugentar predadores, às redes sociais que promovem a interação e supre a nossa necessidade de nos sentir – mesmo que virtualmente – notados. Porém há uma necessidade ainda maior, mesmo que não seja tão emergencial, fisiologicamente falando, como a fome. A primordialidade que nos move em frente e que leva o ser-humano a evoluir como seres viventes. E essa necessidade é a de nos significarmos. Nos indagar sobre o quê, quem e como somos. A filosofia, é a ciência de se perguntar enquanto ser humano. De se perceber ou dar algum sentido em nossa existência perguntando a si mesmo. Se indagar até no que é a própria Existência.

Penso, logo existo? Pode parecer simples, mas não é. E WestWorld aborda muito mais do que as questões que citei durante os parágrafos desde texto. Mais do que roteiros, viradas, aventuras e mistérios… Westworld explicita realmente como a tecnologia é uma ferramenta do ser humano para suprir as necessidades dele, principalmente a de sabermos quem somos verdadeiramente.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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