Nascido em 8 de fevereiro de 1828 em Nantes, Júlio Verne é considerado por muitos o pai da ficção científica, o que significa dizer, dentre outras coisas, que o escritor francês foi um pioneiro ao inaugurar uma nova maneira de fazer literatura, a partir do momento em que usou seus romances pra trazer ao grande público os debates de sua época acerca do papel do conhecimento científico na vida humana. A escrita de Verne floresceu naquela meiúca do século XIX, que foi, por várias razões, uma época singular em que as pessoas testemunhavam a ascensão avassaladora da produção industrial, a transformação da paisagem das cidades, descobertas científicas que derrubavam diariamente concepções que eram tidas como absolutas, a acentuação do abismo entre ricos e pobres…

Conjuntamente a todos esses eventos, foi a época em que floresceu o Positivismo, corrente filosófica fundada pelo francês Auguste Comte, que sustentava que o conhecimento humano segue uma linearidade progressiva ao longo dos tempos, que ele sistematizou na Lei dos 3 Estados: 1) fase teológica, em que procuramos explicar o mundo por meio da intervenção de agentes divinos; 2) fase metafísica, em que praticamente jogamos os deuses pra escanteio e apelamos à racionalidade pra tentar apreender o real a partir de conceitos absolutos, universalmente válidos e atemporais (a Vida, a Natureza, o Real, etc, todos eles, sim, com letra maiúscula); 3) fase positiva, sendo esta a mais refinada de todas, em que, diante da impossibilidade de concebermos as coisas em termos absolutos, nos voltamos para os fenômenos e suas especificidades, apelando ainda à racionalidade pra compreendermos as leis fundamentais que regem esses fenômenos. A ciência, que se tronou a palavra de ordem (e progresso) à época, era facilmente associada à terceira fase.

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Beleza, Bruno, mas onde o Júlio Verne entra nessa história? Por que raios d’água eu, uma pessoa do século XXI, me interessaria por um escritor que floresceu quase 2 séculos atrás?” Bem, Júlio Verne estava atento a essa incursão da ciência no dia a dia das pessoas, a avalanche de invenções e produtos que as indústrias estavam começando a despejar, e, principalmente, ao fato de que as pessoas estavam fazendo da ciência “a nova autoridade inquestionável“… Por mais que se tenham passado quase 2 séculos, as obras de Jules Gabriel Verne ainda conquistam gerações, porque ali estão os germes de questões que permeiam a ficção científica até hoje: a ciência pode ser usada pra fins destrutivos? Onde fica a natureza nesse mundo urbano e industrializado? Os cientistas são mesmo pessoas exclusivamente racionais, frias e mecânicas?

O objetivo da lista abaixo é fazer um breve roteiro para o leitor que quiser conhecer Júlio Verne, aproveitando a dica deixada pelo Dr. Emmet Brown e também pelo nosso amigo Raul Martins, em seu texto 5 Autores Clássicos Que Todo Nerd Deveria Ler, que você pode conferir clicando aqui. Se você gostou/não gostou/quiser sugerir algum outro título que não está presente nesta lista, é só deixar seu comment.

Cinco Semanas Num Balão

Samuel Fergusson é um explorador que decide empreender uma arrojada viagem: rodar a África em um balão para encontrar a nascente do legendário rio Nilo, acompanhado de seu criado Joe Wilson e de seu amigo Kennedy. Lançado em 1863, adaptado diversas vezes para o teatro e pro cinema, Cinco Semanas Num Balão foi o primeiro romance de Verne a fazer sucesso. Conhecer os limites do próprio mundo, como o fundo do mar, os polos e um continente desconhecido, era um desafio e tanto na época, sendo este um livro em que a fantasia se mistura às descrições geográficas e asserções científicas, compondo uma mistura extremamente rica.

As Aventuras do Capitão Hatteras

Uma das coisas mais impressionantes na escrita de Verne era a riqueza de detalhes ao descrever os lugares visitados por seus personagens, apesar de Verne nunca ter estado neles. As Aventuras do Capitão Hatteras é uma das obras em que essa característica é mais visível. Numa época em que a viagem aos polos sul e norte era ainda um sonho impossível, o britânico John Hatteras reúne sua trupe pra tentar galgar o continente gelado ao norte, tendo que encarar os perigos desse lugar inóspito e, ao mesmo tempo, encararem a si mesmos.

Viagem Ao Centro da Terra

Otto Lidenbrock é um professor linha-dura de mineralogia que se depara com um estranho manuscrito criptografado que, ao que tudo indica, foi redigido há alguns séculos por um alquimista islandês chamado Arne Saknussemm, onde este último alegou ter chegado ao centro do planeta. Fascinado pela descoberta, o professor Lidenbrock pretende seguir os passos de Saknussemm, acompanhado de seu sobrinho Axel e de um guia islandês caladão chamado Hans. É mais um dos livros de Verne em que a fantasia e a ciência batem um excelente papo, com o professor Lidenbrock encarnando a caricatura do cientista “frio e racional”.

A Ilha Misteriosa

Durante a Guerra Civil Americana, um grupo de prisioneiros consegue arquitetar uma fuga usando um balão, que, tendo sofrido diversos danos, acaba por obrigar seus passageiros a aterrissarem em uma inóspita ilha do Pacífico, onde “coisas inexplicáveis” começam a acontecer… E não, Tsoukalos, essas coisas inexplicáveis não eram “aliens“… Uma obra que combina elementos de thriller, aventura e que faz, sutilmente, uma reconstituição da saga humana desde as cavernas até a era moderna.

20.000 Léguas Submarinas

Lançado em 1870, também adaptado para o teatro e para o cinema (há uma adaptação famosa feita pela Disney), 20.000 Léguas Submarinas é, talvez, o livro mais celebrado de Júlio Verne. Quando diversos navios ao redor do mundo se deparam com um estranho objeto, muitos acreditaram se tratar de algum recife não-catalogado nos mapas ou de alguma criatura marinha desconhecida. Uma expedição é designada para descobrir o que é esse objeto e, principalmente, determinar se ele é uma ameaça, e, caso seja, dar cabo dele. A descoberta do que é o objeto deixa todo mundo boquiaberto… Um livro temperado com suspense, descrições vivazes da vida marinha, sabendo alternar o bom humor com momentos carregadamente sombrios, uma clara referência à alternância dos humores marítimos.

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