O que eu estou chamando de terror moderno aqui? Honestamente não estou me baseando em nenhuma definição oficial ou acadêmica. Estou usando basicamente uma definição que para mim faz bastante sentido. Vamos para uma aulinha rápida. Eu defino o Terror clássico do cinema as produções da Universal em sua fase áurea: Drácula, Lobisomem, Múmia, Frankenstein e o Monstro da Lagoa Negra. Obvio que eles não são os únicos e temos uma boa quantidade de monstros do cinema B. Alienígenas, monstros derivados da radiação e fantasmas. Coloco todos eles no cinema clássico por vários motivos. A forma de se fazer terror era muito semelhante e bem ou mal tudo tinha um caráter fantástico. Até os monstros derivados de ficção cientifica tinham um estilo fantasioso que beirava a magia.

Então o que é o Terror Moderno para mim? Eu começo a chamar de Terror moderno quando o terror deixa de ser uma fantasia levemente macabra e parte para algo mais visceral e realista. Onde o monstro deixa de ser algo levemente belo e romântico e se torna simplesmente algo doentio, sanguinolento e psicótico até a raiz. Enquanto os monstros clássicos possuem uma história por trás de sua condição, que os torna figuras poeticamente trágicas, nesse novo estilo alguns personagens até possuem um porquê de serem “monstros”, mas todas as razões enraizadas numa infância repleta de abuso e violência, onde o sexo (de forma nada saudável) é muito presente. Lembrando que essa é uma definição saída da minha mente e pode estar completamente equivocada. 

Alien

Esse é um caso complicado. Sem dúvida o primeiro Alien (1979) é um dos melhores filmes de terror e ficção cientifica de todos os tempos. Coloquei o Alien nesta lista por que sua composição visual, esse monstro, é pensando para te deixar apavorado com a ideia do simples ato dele se aproximar. Diferente dos monstros clássicos, ele não tem nada de “gótico de forma bela” ou “figura trágica”. É como se o Alien fosse um animal predatório que irá te pegar de qualquer forma possível. Suas continuações suavizam levemente o impacto dessa criatura, mas ela ainda continua imageticamente poderosa.

Jason

Talvez o mais icônico de todos. Seu primeiro filme, “Sexta Feira Treze (1980)” é uma verdadeira revolução no terror. Todos os elementos estão lá: a força moralizadora contra o sexo, uma espécie de ódio a juventude e a morte de forma crua. Nada de maldições ou coisa do tipo, aqui as pessoas morrem com facas, foices, peixeiras e tudo mais. O personagem que foi o grande estopim deste novo estilo, acabou virando uma piada dele mesmo. As infinitas continuações acabaram desgastando o personagem e ele se tornou uma piada do “terror da cabana”.

Freddy Krueger

Esse é um dos que eu acho mais interessantes conceitualmente. Uma criação de Was Craven (um gênio desse terror moderno)  onde a figura demoníaca de Krueger persegue jovens em seus sonhos. Tudo que ele fizer com uma pessoa num sonho repercute em seu corpo real, ou seja, se ele te esfaqueia no sonho, você é esfaqueado na vida real. Conceitualmente essa ideia é genial, pois, na infância, a criança sempre tem medo da hora de ir dormir. Freddy acabou caindo, assim como Jason, na figura de “monstro sanguinolento para adolescentes” apesar do potencial do personagem. Muito disso aconteceu devido ao excesso de continuações (que são interessantes) e uma tentativa de reboot fracassado.

Hellraiser

Um filme baseado na obra literária do escritor Clive Barker, que também fez o roteiro e dirigiu o filme de 1987. O interessante desse universo, que também teve diversas continuações, é que ele realmente se preocupa em construir uma mitologia. Ele entra, e muito, neste conceito que estou trabalhado no Terror Moderno, pois todo esse universo de criaturas, os cenobitas, é baseado em níveis extremos de dor. Ele leva ao máximo esse conceito de trabalhar as questões carnais nas histórias. Mais uma vez temos criaturas totalmente hediondas que geram repulsa total.

Pânico

Mais uma obra genial de Was Creven que faz uma grande brincadeira com todo esse terror de assassino que se iniciou com o “Massacre da Serra Elétrica”, se popularizou com Jason e foi evoluindo com filmes como “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”. Em 1996, quando o primeiro filme saiu, esse gênero do Terror Moderno já estava muito desgastado e desacreditado pelas péssimas continuações. Pânico é uma super metalinguagem com todo esse terror que começou no final dos anos 70 e se estabeleceu durante todos os anos 80. A figura simples de um homem, com uma mascara bem marcante, que persegue jovem (como sempre) com uma faca. O terror está justamente em pensar que todos esses filmes podem ter inspirado uma pessoa real. A velha discussão se vídeo games e filmes podem levar as pessoas a realizar atos hediondos. De certa forma esse filme fez uma grande revisão e resumo de onde o terror moderno havia chegado até o meio dos anos 90.


Eu pensei em continuar a lista a través dos anos 2000, mas acredito que eles se encaixem em um novo estilo de terror, que eu chamaria de terror contemporâneo, onde temos muito uso da tortura, estupro, e a volta do uso de assombrações de forma mais intensa. Também podem ter faltado alguns personagens nesta lista, mas me foquei em figuras que transpassam de “personagens de filmes” e acabaram caindo na cultura pop geral. Por isso não entram coisas como “A Mosca” e “A Bolha Assassina” apesar de serem filmes muito interessantes. Aliás, essa divisão que eu fiz faz algum sentido? Deixe sua opinião nos comentários

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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