O segundo livro da saga Harry Potter foi lançado em 1998 e ganhou sua adaptação cinematográfica em 2002. Esse primeiro longa foi um sucesso estrondoso e geraria mais tarde uma sequência de filmes que criou o desejo de repetir o sucesso econômico do mundo bruxo. Boa parte deste mundo já estava bem desenvolvido nos livros quando os filmes começaram a ser feitos, portanto para quem acompanhava as aventuras de Harry pela literatura já tinha um bom arcabouço desta mitologia. Neste segundo longa era hora de solidificar alguns conceitos e começar a expandir outros para mostrar o que realmente seria esta grande saga.

No seu segundo ano em Hogwarts Harry começa a ouvir uma voz assustadora pelos corredores do colégio e, logo depois, uma série de estranhos ataques começam a ocorrer. Pessoas completamente petrificadas como se tivessem olhado para algo tão mortal que somente o olhar fosse capaz de paralisar por completo. Assim começa a investigação do trio Harry, Rony e Hermione para desvendar quem é o culpado por esses ataques e impedir que a escola seja fechada.  

Como toda coisa que faz sucesso, Harry Potter sofreu diversas críticas. Uma delas foi justamente por ser uma obra voltada para o público infanto-juvenil. Qualquer coisa que seja voltada para o jovem logo é taxado como menor, desimportante e de péssima qualidade. O que acho irônico é que já neste segundo livro/filme já temos uma guinada clara para um lado mais sombrio desta saga. Para um filme infanto-juvenil temos elementos nessa trama bastante sinistros. Imagine um bando de alunos num colégio interno que estão sob o ataque iminente de um monstro que em teoria caça baseado em segregação racial, além de complôs políticos para tirar o diretor da escola.

Na direção temos o retorno de Chris Columbus, que também fez o primeiro filme, enquanto a adaptação para o roteiro ficou por conta de Steve Kloves. Continuamos tendo um filme que se preocupa em ser bem fiel com a obra original e as mudanças que temos acabam ficando no campo dos detalhes, mas é justamente onde o que mais importa está.

A primeira grande diferença é que Harry, em nenhum momento, ouve escondido a conversa do pai de Malfoy com o contrabandista de artefatos ligado a Magia das Trevas. Para substituir a informação que o protagonista deveria ter, o encontro entre Lucio Malfoy e Arthur Weasley se desenrola de forma muito mais direta onde o vilão não tenta disfarçar suas intenções malignas e corruptas. Outro detalhe, mas este que faz doer os olhos, é o fato de Hermione arrumar os óculos quebrados de Harry no Beco Diagonal com uma magia. No livro e no filme é deixado explícito que os alunos não podem fazer magia fora de Hogwarts. Na verdade no primeiro e no segundo filme Hermione sempre é colocada de forma mais ativa para ratificar sua posição de “mais inteligente do grupo”. Ao longo da projeção ela realiza diversos feitiços já que não estará presente no clímax do filme.

Quando Harry e Rony precisam ir de carro voador até o colégio é criado uma tensão/ação que é totalmente justificável para o audiovisual, além de aumentar o impacto da transgressão que eles estão fazendo. Na verdade diversos outros momentos de ação são estendidos para gerar tensão física e deixar o filme com menos cara de investigação. Tanto que a poção polissuco é achada com extrema facilidade para tornar a história mais ágil. Enquanto isso a festa do fantasma Nick Quase Sem Cabeça é completamente limada do roteiro e Doby só explica sua preocupação com Harry na metade do filme; não existe nenhuma justificativa plausível para ele não contar tal informação no início, assim como no livro. Algo tão simples como “Harry é um símbolo para os elfos domésticos” não precisava esperar até metade da história.

Houve um salto inacreditável de efeitos especiais do primeiro filme para o segundo e parece que de Chris Columbus tem total consciência disso, pois pega cada momento da história e a usa para fazer um festival de efeitos especiais. Tanto Dobby está muito mais crível quanto o uso de tela verde mais eficiente. Cada momento é uma desculpa para grandes efeitos, que hoje não parecem tão grandiosos, mas que geraram grande impacto na época. Harry Potter era o sinônimo de fantasia nesta época e tais efeitos ajudaram em muito a compor esse imaginário de “escola dos sonhos” que Hogwarts  mantém até hoje na cultura pop.

Por vezes isso parece ser mais importante do que a história em si, mas o roteiro ainda é bastante fiel, apesar de deixar alguns detalhes escaparem que atrapalham levemente a coesão da trama. Coisas como Hermione perguntar sobre o passado do colégio para a professora de transmutações ao invés do professor de História e jurar para Dumbledore que Harry não atacou os alunos, mas tal momento só faz sentido no livro, pois os dois personagens haviam interagido antes do ataque em si, enquanto no filme isso não ocorre. Detalhes que acabaram passando, pois, mesmo assim, esse filme continuou a febre em torno desta saga e estabeleceu a identidade visual que tal mundo teria dali para frete.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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