Antes de tudo é preciso dizer que temos dois textos muito interessantes sobre o tema aqui no site. Um sobre o filme (que você pode ler aqui) e sobre a série de TV (que você lê aqui), mas o que muita gente não sabe é que esse icônico filme é baseado em um livro de mesmo nome. William Peter Blatty publicou sua história 1971 e já causou um enorme alvoroço devido ao que ocorria com uma inocente garota. Se você já viu o filme tem uma boa ideia do que eu estou falando. Em 1973 o filme é lançado com o roteiro do próprio escritor e com William Friedkin na direção.
Como nosso último texto comparando livros e filmes (que você pode ler aqui) o objetivo é analisar as duas obras e ver o que elas possuem de semelhante, de diferente e os pontos fortes de cada uma. Como já disse, a mesma pessoa que escreveu o livro também escreveu o roteiro do filme, o que gerou uma adaptação extremamente fiel da história original. É incrível como temos as mesmas cenas, algumas falas e os conceitos extremamente parecidos com o que temos no livro. Até mesmo a icônica cena do exorcista chegando à casa de Regan, que mais tarde virou a cartaz mais famoso do filme, está descrita no livro.
Acredito que mesmo com a extrema participação de Blatty, ainda temos que dar os louros ao diretor. O clima desta história é muito único e importante para mergulhar nos acontecimentos. A forma como a iluminação, música, e angulação de câmeras são importantíssimas para potencializar o que está sendo contado. Blatty já havia descrito tudo isso em palavras, mas foi Friedkin que traduziu tudo isso em imagem para o cinema. Temos quase que a mesma história, ela é visualmente contada do jeito mais incrível possível. Mas então qual é a diferença entre o filme e o livro?
Como o livro tem uma forma de se comunicar baseada única e exclusivamente em palavras é preciso descrever tudo que está visualmente contado no filme. O Exorcista não é um livro muito grande, mas ele é denso em diversos sentidos. Talvez os personagens sejam o maior exemplo disso. Blatty cria humanos altamente críveis, complexos e cheios de camadas. O padre Karras talvez seja um dos personagens mais interessantes que já li. Graças à natureza do livro é possível gastarmos mais tempo mergulhados na mente de cada um deles. Assim que você terminar o livro sentirá que viveu com o padre, Chris e principalmente o demônio. Mas talvez a maior diferença de todas seja o tempo que o livro se permite em se demorar na investigação.
Se o filme O Exorcista é um suspense e terror, o livro é uma grande investigação com toques de terror. A investigação sobre o que ocorre com a menina Regan é o que acontece na maior parte do livro, enquanto que no filme temos algumas cenas dela sendo cuidada por médicos, onde vemos o mistério sobre sua condição crescendo. No livro temos a mesma coisa, mas de forma muito mais intensa. Karras gasta um bom tempo tentando entender o que se passa com a menina antes de tentar um processo de exorcismo, e é neste momento em que o livro brilha. Diferente do que ocorre no filme, Blatty consegue te deixar com uma leve dúvida sobre se o demônio realmente existia, ou se era o caso mais extremo de esquizofrenia de todos os tempos. O padre realmente se debruça nos livros, dá explicações cientificas e estuda outros casos para entender o que está se passando naquela casa antes de recorrer ao exorcismo.
Outra grande diferença é os dois mordomos que trabalham na casa de Chris. No filme eles são meros personagens secundários e talvez você nem se lembre deles. A única importância que é dada a eles é numa pequena discussão que o personagem Burke tem com o mordomo Karl. No livro esse personagem possui um subplot extremamente interessante. É fácil entender por que ele foi excluído do filme, mas ele encaixa muito bem na história que é contada nas páginas.
A última grande diferença são as conversas que Karras tem com o demônio. Elas são bem mais interessantes e complexas em relação as que ocorrem no filme. Todos aqueles impactos visuais também estão no romance, como os vômitos, cabeça girando e camas flutuando. O diferencial da publicação é a voz que o autor dá ao demônio. Ele fala e soa como uma criatura infernal verdadeiramente e não um humano emulando como um demônio falaria. São momentos icônicos que grudam na memória devido à ótima escrita e, além disso, essas conversas ocorrem com Karras, que é um personagem altamente profundo, fazendo que os diálogos fiquem ainda mais interessantes.
No final das contas o livro se prova uma versão ainda mais intensa desta história. O filme é incrivelmente fiel, tanto em conceito, acontecimentos e clima. Se você ainda não viu esse clássico do cinema eu sugiro que tente ler o livro primeiro e depois ver o filme para ter a experiência de ver uma transposição visual do que o autor escreveu. Se você já viu o filme eu recomendo fortemente que vá atrás da publicação, pois será uma experiência mais imersiva e intensa.