Existem filmes que compram o cinéfilo pelo cartaz. Não é a toa que as artes dos cartazes e posteres de filmes no cinema é uma obra à parte, assim como o trailer, o cartaz é um dos primeiros contatos do filme com o espectador e por isso é feito e pensado cuidadosamente para conquistá-lo. Mas certas vezes não passa de uma embalagem que embeleza um fraco conteúdo que acaba enganando até o mais ávido amante da sétima arte. A Sereia – Lago dos Mortos é um desses exemplos com um poster chamativo (eu caí no conto do vigário no cinema) porém com um péssimo conteúdo.

Segue a sinopse básica do longa: “Uma sereia malvada se apaixona por Roman (Efim Petrunin), noivo de Marina (Nikita Elenev), e tenta mantê-lo longe dela em seu Reino da Morte debaixo d’água.” A premissa seria até interessante se não fosse mentirosa já que não existe sereia alguma. Pelo menos não vi nenhum rabo de peixe na entidade maligna que julgam como sereia, e pior, ela quase não aparece dentro da água. Eu deveria ter me atentado melhor ao detalhe no cartaz que dizia “do mesmo diretor de A Noiva“. Svyatoslav Podgayevskiy (sim é impossível falar esse nome) é o diretor russo que dirigiu o fraco filme de 2017 que você ainda encontra no catálogo da Netflix. Isso seria uma boa dica do que estaria encarando. Mas enfim, vamos falar do filme.

A Sereia – Lago dos Mortos tem uma trama básica de filme de terror espiritual: uma pessoa é amaldiçoada ao ter uma experiência numa casa antiga da família que tem um lago nos fundos e passa a ser perseguido com ilusões e a imagem de uma mulher estranha. Isso é um padrão aceitável nos filmes de terror, o importante é como vão trabalhar a partir do enredo proposto. O longa transita entre explorar a relação amorosa do casal, relação familiar e uma amizade estranha, porém nada é devidamente trabalhado de fato. Relações são cuspidas na cara do espectador que tem que crer em certo ponto num grande amor que desde a primeira cena do longa não se mostra tão caloroso assim (quase tivemos um afogamento devido a isso). E certo momento nos deparamos inesperadamente numa cena de proteção fraternal que até então pouco havia se notado o parentesco dos personagens. Problemas gravíssimos de roteiro e construção de personagens. E não para por aí.

O que falar do que deveria ser a sereia do filme? Tem algumas sequências que levantam até um suspense ou algo do gênero, mas em nenhum momento consegue flertar com o terror… até nas cenas em que o filme tenta um jumpscare a fórmula não funciona. O ritmo das cenas tensas é engessado e sempre vemos alguma pocinha de água no chão para tentar validar como um “sereia” aparece em terra firme como em um hospital. A grande motivação da personagem amaldiçoada ser o que é extremamente raso, chegando a ser chiliquento, e ainda mais raso é seu ponto fraco, que em nenhum momento é sequer mencionado alguma relação além de um pente antigo jogado no chão. As atuações dos atores são básicas, mas realmente não tinham muito o que fazer com seus textos e suas cenas. E o que me deixa ainda mais irritado com o diretor é que ele ainda deixa a entender no prólogo do filme que existe uma tradição ou mito da Rússia sobre o tema do seu filme (ele fez o mesmo em A Noiva). Parece que é querer dar uma certa credibilidade ao filme, assim como quando falavam que Atividade Paranormal era baseado em fatos reais.

Enfim, A Sereia – Lago dos Mortos é um filme fraco que peca na construção de personagens, argumento, edição e roteiro. Inicia em uma quebra grande sobre o significado do mito da sereia, passeia por fracas sequências pretensiosas de terror e lençóis brancos pela casa, e termina com nada para dizer ou acrescentar ao espectador. Primeiro fiasco assistido em 2019. E foi um baita fiasco. Lição do dia: não comprem nada pela embalagem, ops, pelo cartaz.

Publicidade
Share.
Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

Exit mobile version