Todo pássaro deve ser livre para voar e expandir seus horizontes. Essa mesma regra fundamental desses seres voadores também se aplica à Arlequina e as Aves de Rapina. Antes de se reunirem no cinema, elas já “abriram asas” em outras mídias diversas vezes seja de forma isolada ou conjunta. Por isso, nada mais oportuno do que relembrar algumas dessas viagens por conta da estreia do novo filme.
A primeira parada não poderia ser outra senão com a Palhaça do Crime mais famosa da atualidade: A Arlequina. Muitos talvez não se lembrem, mas ela já chegou a aparecer brevemente em Arrow no episódio 16 intitulado “Suicide Squad” da segunda temporada da série, ou seja, muito antes de ser interpretada por Margot Robbie nos cinemas. Na cena, a atriz Cassidy Alexa aparece de costas mas tem uma fala rápida onde “oferece” seus conselhos terapêuticos para Diggle (David Ramsey) e Lyla (Audrey Marie Anderson). Infelizmente, por conta da produção do filme do Esquadrão Suicida (2016) tanto a equipe como a própria Arlequina não puderam ser utilizados na série do Arqueiro Verde de forma ideal.
Outros dois momentos que valem a pena ser mencionados tem relação com a origem dela já que foi apresentada ao mundo através do desenho Batman: A Série Animada. Em 2017, foi lançado o longa Batman & Arlequina: Pancadas e Risadas. Apesar de ser uma ideia interessante unir ela com o Cavaleiro das Trevas, a produção errou feio a mão em vários momentos como aponta a crítica do Raul Martins para o TarjaNerd. Suicide Squad: Hell to pay (2018) também conta com a participação dela, mas de uma forma não tão marcante como no live action.
Felizmente, esse azar não esteve do lado de Dinah Lance/Canário Negro. A personagem não é novidade nas séries de Tv. Apesar de uma fraca participação na série Birds of Prey (2002 a 2003) e em Smallville (2001 a 2011), seu verdadeiro destaque é no Arrowverse onde já vimos não só uma como várias versões da anti-heroína. Por ser a base desse multiverso televisivo, a série do Arqueiro Verde apresentou cada versão dela em momentos diferentes. Nas primeiras temporadas, tivemos a família Lance com Dinah (Alex Kingston), Laurel (Katie Cassidy) e Sara (Caity Lotz). Enquanto a primeira delas, a matriarca, serviu como referência da sua contraparte nos quadrinhos tendo desaparecido tempos depois as outras duas permaneceram por mais tempo. Laurel morreu e foi substituída pela sua versão da Terra 2, a vilã Sereia Negra. Sara por sua vez expandiu seus horizontes se tornando uma viajante do tempo em Legends of Tomorrow. Por último, mas não menos importante, fica a citação para mais uma canário: Dinah Drake (Juliana Harkavy). Além de ser umas melhores adições de Arrow nos últimos anos, a heroína tem tudo para continuar brilhando mais tempo caso retorne no derivado Green Arrow & the Canaries.
Aliás, quando o assunto é união de personagens femininas Arrow não fica de fora. Em duas ocasiões, tivemos a oportunidade de ver o poder dessas mulheres em ação. No 17º episódio da segunda temporada, intitulado “Birds of Prey”, a Canário Negro Sara Lance encontra com a versão da série da Caçadora (Jessica de Gouw). Mesmo sendo um crossover interessante, ficou a sensação de oportunidade desperdiçada por ser um episódio fraco com um personagem sem muito carisma como é o caso da Caçadora. A redenção da série nesse sentido veio anos depois no episódio 18, “Lost Canary”, da 7º temporada. Nele, temos 3 Canários ao lado de Felicity mostrando todo seu poder em uma trama bem mais interessante e melhor desenvolvida.
Curiosamente, essa não foi a primeira vez que Caçadora e Canário se encontraram fora dos quadrinhos. Em dois episódios de Liga da Justiça Sem Limites, elas já se aliaram e lutaram entre si (não necessariamente nessa ordem) do mesmo modo como sempre ocorre em todo tipo de crossover entre heróis dos quadrinhos. Em “Casais”(Double Date, no original), com o auxílio do Questão a Caçadora vai contra as ordens da Liga ao buscar vingança contra o mafioso Steven Mandragora por um motivo muito pessoal. Enquanto isso Arqueiro Verde e Canário Negro tentam impedi-los de contrariar ordens superiores. Uma curiosidade a respeito desse episódio é que ele contou com roteiro de Gail Simone, roteirista que comandou a fase das Aves de Rapinas nas HQs. Em “Luta de Ressentimento” (Grudge Match), elas se encontraram novamente por conta de torneio de lutas entre meta-humanos, desta vez somente com mulheres, promovido pela vilã Roleta. Além de contar com ótimas cenas de lutas com basicamente todo elenco feminino do desenho, o episódio consegue mostrar como Caçadora e Canário Negro trabalham bem juntas apesar das nítidas diferenças entre si.
Finalizando nosso passeio pelos voos de algumas integrantes das Aves de Rapina em outras mídias, fica aqui a menção à uma versão live action da policial Renee Montoya em Gotham. A personagem apareceu nas duas primeiras temporadas de Gotham tendo sido interpretada por Victoria Cartagena e, assim como a Arlequina, também “nasceu” no desenho Batman: A Série Animada. Fica agora a expectativa para que ela ganhe uma nova versão em Batwoman já que nos quadrinhos ela e a heroína já tiveram um caso.
Enfim, após tantas viagens e desencontros finalmente os fãs da DC estão tendo a oportunidade de ver esse grupo de heroínas reunido no cinema. Se sozinhas já causam bastante estrago, imagine unidas. Parafraseando um certo vilão de Dragon Ball, vai ser um poder tamanho acima de 8 mil. Com o sucesso do filme, vai ser uma questão de tempo para que o próximo voo se torne real e elas voem para o alto e além.
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Olhar Literário é uma coluna escrita por Marcus Alencar. Marcus é redator no site Leituraverso e um dos hosts do podcast Leituracast