Com um harmonioso alinhamento de fotografia e trilha sonora ao lado de um artístico trabalho de atuação Coringa vai além do que se espera de uma produção inspirada em histórias em quadrinhos. Dirigido, co-escrito e produzido por Todd Phillips o filme explora ao máximo o maior vilão do Batman através de uma reflexão crítica sobre a falta de empatia em uma sociedade cada vez mais tóxica.

Na trama que traz uma visão original do cineasta sobre o Palhaço do Crime vemos algo um pouco distante daquilo que é considerado tradicional para o personagem. A começar pelo aspecto humano dele que no filme ganha nome e sobrenome: Arthur Fleck (Joaquin Phoenix). Trata-se de um homem que luta para encontrar seu caminho na sociedade fracassada de Gotham desejando que qualquer luz brilhe sobre ele. Arthur tenta trabalhar com stand-up comedy, mas descobre que a piada sempre parece estar nele. Preso em uma existência cíclica entre apatia e crueldade e, em última análise, traição, ele toma uma decisão ruim após outra que provoca uma reação em cadeia de eventos crescentes.

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Antes de quaisquer comentários sobre os aspectos técnicos do filme, vale observar como Coringa é muito mais um estudo psicológico e social do personagem do que necessariamente mais uma produção inspirada em quadrinhos. Na verdade, a base das HQs do Batman é diluída em pequenas doses. Os fãs mais atentos perceberão um pouco da essência de A Piada Mortal, o que nesse caso em especial faz todo sentido por conta da relação entre as premissas. Além do fato do clássico de Alan Moore e Brian Bolland ser referenciado no roteiro, percebe-se o uso de um certo detalhe narrativo de O Cavaleiro das Trevas. Mas, apesar destes detalhes, o que realmente se destaca é a proposta de estudar as facetas de um vilão tão cheio de camadas em sua personalidade.

Para entrar em sua cabeça tão perturbada, somos convidados a conhecer seus problemas através de uma ótica sombria e depressiva. Este olhar sobre a vida de Arthur nos é mostrado de forma singular. A cidade de Gotham parece seca por causa de suas cores frias enquanto a trilha acentua seu tom melancólico, o que reforça a tristeza na vida do protagonista. Seja desabafando suas desesperanças em uma sessão de terapia ou sendo humilhado enquanto tenta viver a vida honestamente, ficamos com a sensação de ele viver em um mundo cada vez mais afundado na apatia e crueldade que o machuca constantemente. 

 

Nada disso estaria completo sem uma entrega total de Joaquin Phoenix na atuação. Ele consegue demonstrar de forma sincera como é ser alguém sofrendo de problemas neurológicos que aos poucos vai sendo transformado em uma reação à crueldade do mundo ao seu redor. Esta transformação se dá de forma gradual e é percebida tanto pela mudança visual, interpretativa como nas escolhas de trilha. Cada um desses aspectos técnicos trabalha em conjunto como em uma espécie de simbiose entregando ao seu público um resultado marcante. 

 

Vencedor do Leão de Ouro de melhor filme do Festival de Veneza, Coringa está longe de ser uma produção inspirada em histórias em quadrinhos. Na verdade, é o início de uma inovação para este sub-gênero cinematográfico que há anos apresenta sinais de saturação. Mais do que isso, consegue ser uma obra que discute questões pertinentes em nossa sociedade.

Curiosamente, este belo trabalho acaba sendo uma verdadeira homenagem ao vilão no mesmo ano em que o herói completa 8 décadas de existência. Um detalhe irônico que faria o Palhaço do Crime rir sem parar.

Ficha técnica:

  • Data de lançamento (no Brasil): 3 de outubro de 2019
  • Duração: 2h2min
  • Gênero: Ação
  • Elenco: Joaquin Phoenix, Robert de Niro, Zazie Beetz, Brett Cullen, Douglas Hodge, entre outros.
  • Direção:  Todd Phillips 
  • Roteiro: Todd Phillips e Scott Silver

Assista ao trailer de Coringa:

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Marcus Alencar

"Palavras importam! Uma morte, uma ondulação e a história mudará em um piscar de olhos"

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