Hollywood voltou a apostar alto nas cinebiografias e dessa vez a celebridade escolhida para ter sua vida representada nas telonas foi Elvis Presley. E mesmo que essa não seja a primeira obra sobre o “Rei do Rock”, Elvis certamente se destaca graças à abordagem e ao ponto de vista ousados escolhidos pelo diretor Baz Luhrmann para contar a trajetória do astro.

Na trama, acompanhamos a ascensão de Elvis (Austin Butler) do anonimato ao status de lenda recontada sob a ótica de seu empresário, o controlador e desonesto Coronel Tom Parker (Tom Hanks). Assim, vemos o relacionamento conturbado dos dois ao longo de mais de 20 anos de parceria, tendo como pano de fundo o contexto político e social dos Estados Unidos em constante mudança.

A escolha de Tom Parker como narrador é o diferencial do filme se levarmos em conta o papel nocivo que ele teve sobre a vida de Elvis. Por esse motivo, o espectador deve enxergar com desconfiança tudo que é dito por ele. Sua desonestidade fica evidente logo de cara, visto que todas as suas atitudes visam o benefício próprio. Contudo, não dá para negar que o Coronel, como gosta de se chamar, tem talento para transformar tudo em uma forma de ganhar mais dinheiro e isso, sem dúvidas, é essencial para que a carreira de Presley decole.

Assim, nós testemunhamos a formação de um dos maiores artistas que o mundo já viu, passando pelos altos e baixos determinados tanto por sua vida pessoal quanto pela pressão social ao seu redor. Nessa viagem frenética do roteiro entre os anos 1940 e 1970, vemos a transformação e amadurecimento de Elvis, que vai encontrando sua identidade em meio ao choque com o Coronel e às polêmicas nas quais se envolve.

Caso a Warner se empenhe na campanha para o Oscar, a produção tem grandes chances de levar algumas estatuetas para casa, tanto as mais técnicas quanto as mais prestigiadas de direção e atuação, pois Austin Butler e Tom Hanks dão um show à parte em seus respectivos papéis. Butler encarna Elvis de tal maneira que às vezes é difícil saber se quem está em cena é o ator ou a figura real. Segundo o próprio protagonista, ele vê seu talento para cantar como um superpoder, algo que parece se comprovar quando ele começa seu show. Já Hanks entrega um antagonista com ares de arqui-inimigo de um super-herói, se contrapondo à personalidade do “mocinho”. A caracterização de ambos dispensa comentários, pois é feita com tanto cuidado que mergulha o espectador na atmosfera da época retratada.

Já a trilha sonora de Elvis desempenha um papel fundamental para o desenvolvimento do longa em vários sentidos. Primeiro, as letras se encaixam perfeitamente com o momento vivido pelo cantor e pelo que é exibido em cena; segundo, porque mostra a importância da cultura negra e o quanto ela era marginalizada na época, tanto que muitas canções compostas e interpretadas originalmente por negros só faziam sucesso na voz de Presley, um homem branco.

Mas ao contrário do que muitos podem pensar, a trilha do filme não é composta apenas pelos hits do Rei do Rock. O que chama a atenção muitas vezes é a roupagem mais atualizada que algumas músicas ganham e até mesmo certas composições nas vozes de artistas contemporâneos como a parceria entre Eminen e CeeLo Green em The King And I.

No decorrer das mais de duas horas e meia de projeção, percebemos o quanto a relação entre Elvis e Tom Parker é problemática. O astro se vê dependente de seu empresário de muitas formas e por isso permite uma série de abusos. Nesse quesito, vale destacar a performance que o protagonista faz na música Suspicious Minds como se fosse um pedido de socorro para se ver livre da armadilha que sua vida se torna.

Por mais que Elvis mostre a carreira do astro sob o ponto de vista tendencioso e parcial do Coronel Tom Parker, ao final do filme é impossível negar que, apesar de toda a manipulação e tortura psicológica que sofria, Elvis Presley se transformava quando colocava os pés no palco e, de lá de cima, se dedicava de corpo e alma para corresponder ao amor incondicional de seus fãs. E é principalmente por ressaltar esse detalhe que sua cinebiografia obtém o maior acerto.

Assista ao trailer:

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Elvis (2022)

8.5 Ótimo!
  • Nota 8,5
  • User Ratings (1 Votes) 8.1
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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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