Edgar Wright tem ótimos filmes em seu currículo, como “Scott Pilgrim Contra o Mundo” e a Trilogia Sangue e Sorvete, além de possuir uma carreira sólida como diretor de seriados. Sua forma de dirigir e roteirizar filmes é única, e, por mais que seu nome não seja muito conhecido, ele é um dos mais inventivos no cinema. Em seu novo filme, Em Ritmo de Fuga, acompanhamos a história de um piloto de fuga que usa a música, ironicamente, como um mecanismo de fuga. Wright vai fundo na ação desta projeção, gênero que ele já havia mostrado habilidade em suas outras obras.

Esse filme tem pouquíssimos defeitos, então é por isso que vou começar justamente por eles para tirá-los logo do caminho e podermos nos manter aos pontos extremamente positivos. A representação feminina desse filme não é das melhores, mas, a meu ver, não cai em nada extremamente machista. As duas personagens mulheres são sexualizadas, estão conectadas a outros personagens masculinos e não tem função no roteiro a não ser interagir com eles. Não é nada que me pareça extremamente ofensivo, mas, se prestarmos atenção a essa questão, fica difícil não notar esse problema.

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Outro problema são algumas falas, principalmente entre o protagonista (interpretado por Ansel Elgot) e sua amada (interpretado Lily James), e essa crítica se intensifica se compararmos com outros roteiros do próprio Edgar. As falas por vezes podem soar meio bobas e um tanto diretas demais para um “diálogo realista”, mas essa questão se atenua pela própria forma como Edgar conta essa história para manter o ritmo frenético do filme. Vale ressaltar que o roteiro também é do diretor. O terceiro problema é o final do filme, mas não se preocupe, eu não revelarei nada aqui. Só direi que, na minha percepção, a conclusão geral da história não combinou com todo o resto. O filme poderia ter terminado numa cena especifica, mas se adianta mais uns cinco minutos e perde um bom tanto de sua força.

Agora que já falamos dos pontos fracos, vamos à parte boa. O filme tem a música como elemento fundamental para ditar o ritmo de quase todas as cenas e está intrinsecamente ligada a história. Todas as cenas de ação funcionam como um grande balé, onde até a direção, tanto do carro, quanto do diretor, estão dançando juntos. Mesmo sem as músicas as cenas de perseguição já seriam incríveis por si só, mas esse toque deixa tudo sublime. Mas não pense que isso só se resume aos momentos intensos, mas também aos diálogos e relacionamentos entre os personagens. Até mesmo na apresentação dos personagens. Tudo é guiado pela música.

Conforme a trama e os problemas entre os assaltantes se adensam, o clímax vai às alturas, e é impossível não prender a respiração. Baby é um protagonista impossível de não se conectar e desejar que ele saia bem no final. É aquele tipo de filme que vai escalonando de maneira épica e a ação só vai se intensificando até chegar num final incrível. O mais legal é que, num tempo onde temos franquias que se baseiam em ação envolvendo carros, Edgar faz um filme dentro desta temática sem precisar apelar para exageros ridículos e se sai infinitamente melhor. Os movimentos e sequências são perfeitamente coreografados e a câmera não corta de cinco em cinco segundos. Temos a chance de ver tudo acontecendo de forma bem encadeada para a maioria dos filmes de ação que vemos hoje em dia.  

O roteiro em si é até bem simples, mas está repleto de detalhes que enriquecem e personagens interessantes, além de uma boa dose de reviravoltas. O elenco também é ótimo com nomes como Jon Hamm, Kevin Spacey e Jamie Foxx. Talvez se não tivéssemos um grupo de atores tão bons o filme não se saísse de forma tão excelente, pois é graças a eles que as cenas de tensão ficam nas alturas e diálogos, não tão inspirados, são muito bem entregues.

Esse é um ótimo filme de ação e uma ótima aula de como dirigir um filme de forma criativa. Edgar Wright é um desses nomes no cinema que mostram que ainda existe gente boa fazendo coisas fora do comum. Dos atuais, ele é um dos diretores que mais gosto, e, certamente, entra na lista de favoritos. Se sua carreira mantiver esse ritmo, ele certamente implicará alguns clássicos na história do cinema. Seus outros trabalhos já são incrivelmente bons e até um pouco desconhecidos para a qualidade que possuem. Vida longa a Edgar e ao seu jeito de fazer cinema.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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