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Após o surto dos anos 90 e meados dos anos 2000 nas adaptações dos romances de Jane Austen, parece que estamos vivenciando mais uma série de filmes e programas de TV baseados no trabalho de uma das autoras femininas mais famosas do mundo. O que tivemos nos últimos anos são adaptações dos trabalhos mais desconhecidos e de fato incompletos de Austen – Amor e Amizade (baseado no drama Lady Susan) e Sanditon (atualmente exibido na PBS nos EUA), que parecem espremer a última gota do catálogo de Austen. E desde 1996 temos já três adaptações cinematográficas do livro Emma, mas até aqui faltava uma diretora para dar uma visão feminina às obras que falam de mulheres do século 19 vivendo suas vidas. Portanto, uma nova Emma, ​​dirigida pela novata Autumn de Wilde, é algo a ser comemorado.

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Já na linha de abertura do romance; “Emma Woodhouse, bonita, inteligente e rica …” nos direciona a um certo desinteresse na história. Não há como fugir do fato de que assistir a pessoas brancas extremamente ricas em suas enormes casas senhoriais, desfrutar de festas suntuosas (mesmo no chá da tarde) pode atrapalhar um maior envolvimento do público, até por que “A mentalidade Eat the Rich” acabou de ganhar o prêmio de Melhor Filme com Parasita. Porém o filme se inclina sabiamente à uma pura fantasia escapista. É um mundo repleto de pessoas lindas, com roupas maravilhosas, cercadas por papéis de parede lindos, com músicas maravilhosas…

Emma é sobre uma jovem que vive com seu amado pai hipocondríaco, Sr. Woodhouse (Bill Nighy), e que se orgulha de fazer amizades com seus amigos na cidade de Highbury. Depois de encontrar algum sucesso como “casamenteira” com sua ex-governanta Miss Taylor (Gemma Whelan), ela conhece uma jovem mulher com um passado misterioso, Harriet (Mia Goth) e imediatamente tenta aconselhá-la amorosamente. Porém seu amigo e vizinho, ​​Knightley (Johnny Flynn), não concorda com o rumo deste novo conselho. Muita confusão romântica se desenvolve, até que tudo (é claro) termine feliz para sempre.

A atriz principal em um filme sobre Emma tem a missão de não deixar a personagem completamente insuportável com o passar do tempo. Tivemos Gwyneth Paltrow, Kate Beckinsale e Romola Garai nesse papel anteriormente, e agora é Anya Taylor-Joy. Porém ela mantém uma frieza glacial durante boa parte do filme em sua interpretação e, só partir de certo momento, Taylor-Joy mostra alguma emoção um pouco mais convincente no longa, com lágrimas frequentes. O espectador acaba precisando de algo para investir nos primeiros dois terços da história e esse desempenho nos mantém muito desapegados à personagem e, por consequência, ao filme.

No entanto o resto do elenco é de boa qualidade. A química e as brincadeiras entre Knightley e Emma são fundamentais para o desenrolar da história. Mia Goth está deliciosamente engraçada como Harriet, Callum Turner faz um franco Frank Churchill e Josh O’Connor começa a esticar seus músculos cômicos como Elton. Mas quem brilha muito com o seu humor é Nighy, como Woodhouse, e sua constante batalha com seus dois criados sobre rascunhos frios no enorme Hartfield. O design de produção de Kave Quinn (Far From the Madding Crowd, Trainspotting) e o figurino de Alexandra Byrne (Mary Queen of Scots, Elizabeth, Hamlet) são ótimos, o que é necessário para um filme de época. Autumn de Wilde escolheu uma paleta de cores pastel, aparentemente inspirada nas confeitarias e nos bolinhos que acompanham os chás da tarde, e tudo é levado com perfeição neste aspecto. 

A trilha exagerada de Isobel Waller-Bridge é outro elemento que ajuda no escapismo da realidade de Emma Os outros elementos musicais entrelaçados vêm do talentoso elenco, incluindo Johnny Flynn (Knightley), que canta e toca violino no filme e Amber Anderson, que realmente toca piano e canta como o prodígio musical Jane Fairfax. de Wilde trouxe sua experiência dos mundos da moda e da música para dar uma maior consistência ao seu filme de estreia, criando uma visão altamente estilizada da Inglaterra de Austen, destacando-a de  adaptações da autora.

Confesso que Emma é um filme que pode agradar a alguns e desagradar bastante a outros, mas, de toda maneira, o espectador passeará em um interessante mundo da Inglaterra do século 19. Talvez não seja um entretenimento mais adequado para investirmos total atenção por mais duas horas ininterruptas, porém é suficientemente digno para se justificar como “mais uma” adaptação de Emma e, certamente, aumenta o interesse no que de Wilde pode fazer em suas próximas obras.


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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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