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Filmes sobre alienígenas não é novidade. Podemos dizer que existem filmes de todos os gêneros do cinema sobre esse misterioso ser extra-terrestre. Desde o terror de Alien, a aventura de E.T.: O Extraterrestre, a comédia de MIB, os intelectuais Distrito 9, A Chegada… e por aí vai. É um tema muito recorrente e antigo no cenário pop. Porém um gênero que sempre ganha força quando se trata de alienígenas é o mistério. Isto chega até ser lógico, pois nada mais justo do que uma história de mistério sobre um ser que sua própria existência é um mistério. Nessa pegada temos Arquivo X, Sinais, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, entre outros. Agora temos A Vastidão da Noite, filme produzido pela Amazon que tenta abordar o tema num mistério pouco competente.

No período da Guerra Fria, dois adolescentes de uma cidadezinha americana são obcecados pelo rádio. Quando eles descobrem uma estranha frequência de ondas aéreas, suas vidas e o mundo inteiro podem estar prestes a mudar drasticamente.

A Vastidão da Noite é o filme de estreia do diretor Andrew Patterson. E isso acaba sendo algo relevante ao analisar o longa de 1 hora e 29 minutos. Patterson parece que está mais preocupado em preencher “requisitos” de direção do que sustentar o arco dramático do filme. Exemplo disso são as referências à outras obras famosas e easter eggs existentes no longa,  e os cultuadíssimos planos sequências e tomadas dinâmicas que infestam a maioria dos filmes hoje em dia. E ele é competente nesta parte técnica. Patterson até se utiliza do bom artifício de preencher com tela preta enquanto alguém conta uma história no rádio, para que o espectador possa imaginar o que está sendo descrito.

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Tudo é muito bem feito nestes quesitos técnicos do cinema, mas sabemos que a sétima arte é muito mais do que a parte técnica. É principalmente como o espectador se impacta pelo filme. Claro que cada pessoa pode se impactar de uma forma diferente, mas há alguns pontos em específico que sustentam o interesse do espectador ao longo do filme até ter algum momento catártico. E A Vastidão da Noite deixa algumas coisas muito a desejar.

Um desses defeitos que acho mais grave é o arco dramático. O filme trata de uma misteriosa frequência captada na transmissão de uma rádio local e, conforme a investigação avança, é cogitado que essas ondas vêm de uma ação alienígena. Porém essa cogitação em nenhum momento é colocada em dúvida ao espectador, e acaba virando uma certeza muito cedo no filme. E isso é péssimo no impacto do espectador. Pois o suposto mistério que o longa se propõe a contar é resolvido de cara na cabeça de quem assiste e não é mais colocado em xeque ao longo da produção. O que transforma a película mais como uma homenagem aos primeiros casos relatados de abdução alienígena do que uma história de mistério com uma tensão crescente que se propunha. E o diretor chega num ponto bizarro de fazer personagens correr do nada pela estrada, mesmo com a opção de ir de carro, para tentar dar um sentido de urgência em tela, elemento este que carecia na história.

Outro ponto negativo é a introdução dos personagens. Os jovens protagonistas do longa são introduzidos em um longuíssimo falso plano sequência que vai desde o ginásio, onde aconteciam os preparativos para um jogo de basquete, as conversas dos idosos da cidade debaixo da arquibancada, as entrevistas com personagens aleatórios para testagem de um gravador, e uma longa caminhada até a central telefônica onde um deles trabalhava. E tudo isso preenchido por diálogos acelerados e assuntos que tentavam nos situar na corrida tecnológica e espacial da época. Essa introdução praticamente dura o primeiro arco completo do longa. Chega a ser irritante e acaba nos desconectando com os personagens que o filme objetivava que criássemos uma relação. Confesso que foi uma tarefa árdua manter o interesse no filme nessa parte.

Para não dizer que não falei de flores, um dos pontos positivos do filme é toda a ambientação de uma cidadezinha americana do interior na década de 1950. Verdadeiramente nos sentimos naquele clima de cidade interiorana, erma, e até com uma certa ingenuidade. E nesta construção o equipamento de telefonia e de radiofonia utilizados deram uma boa imersão nesse quesito. Existiu até um certo deleite de minha parte ao ver o personagem Everett manuseando os rolos de gravações antigas. Percebe-se toda uma reverência do filme acerca dos equipamentos de áudio da época.

Por fim, A Vastidão da Noite peca em aprofundar o mistério sobre a existência de vida alienígena, e o espectador fica apenas numa espera tranquila da aparição dos ETs. Nem os protagonistas conseguem alimentar alguma dúvida, mesmo quando fracamente supuseram ser algum tipo de obra dos soviéticos. Apesar de acertar na parte técnica, peca na dramaturgia da história e no envolvimento do espectador com os protagonistas. Um filme que se retirando o “mise-en-scene” poderia se passar por um documentário sobre eventos alienígenas. 

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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