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Sherlock Holmes está na lista de personagens que já caíram em domínio público. Isso significa que qualquer um pode escrever um livro, um filme, jogo ou quadrinho com o personagem e a mitologia que o cerca. Isso explica porque todo ano temos uma nova interpretação do detetive mais famoso do mundo. Ele já foi feito nos tempos modernos, encontrando criaturas dos Mitos de Cthulhu, num universo Cyberpunk e tudo mais que você possa imaginar. Agora temos mais uma versão, dessa vez focando em sua irmã mais nova: Enola!

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Após o sumiço de sua mãe a jovem Enola Holmes foge de casa e começa uma jornada para descobrir o paradeiro de sua progenitora. De forma inesperada ela acaba esbarrando com um jovem nobre que também está fugindo de casa. Suas histórias se cruzam levando a conspirações e aventuras por Londres.

O que precisa ser dito logo de cara é que esse filme só não é um fracasso completo por causa do carisma gigantesco de Millie Bobby Brown. Sua presença e personalidade mantem a atenção. Sua personagem está constantemente falando diretamente com a câmera e dialogando com o público. Isso acontece praticamente a cada cena, mesmo que não faça nenhum sentido temático ou, às vezes, ela nem tem algo para dizer. Claramente o diretor e roteirista tentaram emular esse conceito que está em voga, mas não tinham um propósito ou senso de estilo para fazê-lo. Às vezes nem mesmo o talento dela salva as falas péssimas e sem motivo de existir, isso quando não falta a lógica completa.

As outras escalações são um tanto duvidosas. Colocar Henry Cavill para interpretar Sherlock Holmes é uma decisão sem sentido algum. Um homem musculoso, de queixo quadrado que já fez Superman e o herói grego Teseu? Claramente não tem o estilo visual para fazer o reprimido, magro e esbelto detetive britânico da era vitoriana.

O filme tenta fazer diversos comentários políticos, principalmente no que tange o feminismo e a revolução. O problema é que ele faz isso de forma completamente superficial, com frases de efeito vazias e discussões que nunca são aprofundadas. Os personagens não conversam entre si, eles só lançam frases de efeito e fazem carão para a câmera. Isso quando não temos hipocrisia e contradição descarada na história, o problema é que o diretor e o roteirista não parecem perceber isso. Também fazem bastante uso de estereótipos para provar um ponto.

Harry Bradbeer é o diretor do projeto. Ele faz um trabalho parecido com quebra de quarta parede em sua direção na série Fleabag. Em parte, parece que ele propositalmente faz algo semelhante que Guy Ritchie fez com seu filme de Sherlock em 2009. Muitos cortes rápidos, cenas de trás para frente e ação impactante. O roteiro é uma adaptação do livro de Nancy Springer, que foi levado para o novo formato por Jack Thorne.

O grande problema de Enola Holmes está no seu roteiro. Basicamente temos duas tramas que não possuem quase conexão nenhuma entre si e uma delas termina sem nenhum conflito, quase como se o roteiro resolvesse uma das tramas principais com “e aí deu tudo certo”. Os personagens secundários falam o tempo todo como a Enola é inteligente, mas na maior parte do tempo ela toma decisões questionáveis e até completamente idiotas. Também tentam criar uma mítica de que ela se disfarça muito bem, mas a forma como isso é apresentado no filme chega a ser ridículo, pois em nenhum momento olhamos para atriz e achamos que ela está diferente. Ela só muda de roupa e chama isso de disfarce e quer que nós acreditemos que isso a torna invisível.

No fim percebemos que essa é uma ideia com muito potencial. Uma irmã de Sherlock que também segue seus passos de detetive e enfrenta as dificuldades de ser levada a sério como uma jovem mulher no final do século XIX. Mas os realizadores da obra não conseguiram abordar esse tema. O filme está o tempo todo falando o quanto ele é inteligente, mas na verdade só repete sentenças prontas e rasas como uma poça. Esse conceito merecia muito mais carinho e esforço. No fim o que sobra é uma fotografia muito bonita, com um valor de produção interessante e uma estética que impressiona vez ou outra.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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