Classificar uma temporada inteira de uma série como boa ou ruim é uma tarefa difícil, pois diferente de um longa-metragem o seriado há diversos episódios que podem contar histórias, pontos de vistas e abordagens diferentes dentro do mesmo ano. Porém a oitava e última temporada de Game of Thrones tornou esse trabalho um pouco mais fácil. E pedindo licença à Kit Harrington (Jon Snow) que disse sua opinião da última temporada de GoT em uma entrevista, eu pego emprestado suas palavras, ou a sua única palavra que define este fim de série: decepcionante.

E é decepcionante no pior sentido possível. Até porque já vínhamos desde a quinta temporada abaixando a régua de nossas expectativas devido a inúmeros motivos: falta de base literária para as histórias; o afastamento de George Martin; a necessidade dos criadores e showrunners da série em se desapegar de GoT e iniciar novos projetos, etc. Mas para estragar Game of Thrones precisaria muito mais do que todos esses problemas listados. Precisaria de falta de carinho com a obra e seu legado durante 9 anos. E, não digo que estragaram a série, mas essa temporada fez um desserviço a uma das maiores produções televisivas de todos os tempos.

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E não digo isso porque eu não gostei do final; até porque achei um final viável depois de tudo o que aconteceu. Mas foi um desserviço por ignorar o maior ponto positivo da série: a narrativa. Ao longo das temporadas todas as decisões de roteiro, fossem elas óbvias ou surpreendentes, doces ou amargas, havia uma razão para nos satisfazermos com elas: a jornada que nos levou até aquele ponto. E se teve uma coisa que a oitava temporada não teve foi uma jornada que levasse às suas conclusões. Ou pelo menos uma jornada coerente.

A importância de surpreender afogou a coerência narrativa desses últimos seis episódios da série, e a jornada final dos personagens ficou carente de desenvolvimento. Game of Thrones que era uma série de subversão aos clichês da fantasia (e da narrativa clássica do herói), naufragou para uma série que quer subverter a expectativa da audiência a qualquer custo. Mesmo que esse custo seja a própria coerência.

Fica nítido que os produtores D.B. Weiss e David Benioff sabiam o que fariam pro final de cada personagem, mas claramente não sabiam como chegar até lá, ou pelo menos chegar de forma bem construída. Transformando personagens inteligentes em burros, corajosos em covardes, heróis em vilões, leais em traidores por pura e simples conveniência de roteiro e quebra de expectativa. Tudo à base de desconstrução de personagens.

Não é crime desconstruir um personagem, seja ele qual for, mas desde que seja bem embasado. E nos últimos episódios a maioria dos protagonistas foram desconstruídos em um estalar de dedos. Mudanças de comportamento, moral e ambição dependeram de badaladas de um sino. E quem poderia esperar que a decisão mais sensata, no final, viesse de um dragão?

Ao fim percebemos que a grande história do Jogo dos Tronos se resume a uma história sobre os Starks. Uma história de fracasso, queda, renascimento e vitória. E o prometido fim agri-doce foi muito mais doce do que amargo, como filmes da Disney (que muitos usavam para justificar as incoerências da temporada). Afinal os Starks salvaram o mundo das ameaças, se tornaram reis e desbravarão o mundo. Só faltaram passarinhos para vestirem a Sansa com seu traje real.

Um fim simples, corrido e mal-desenvolvido para uma série tão rica, cheia de histórias, mitologias, fantasias, políticas e personagens. Um fim que não apagará o marco que Game of Thrones causou nos autos do entretenimento, mas que certamente o diminui. E, retomando o início desse texto, um fim decepcionante.

Lembrando que nessa sexta-feira (24/05) lançaremos um podcast inteiro sobre a última temporada de Game of Thrones.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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