Descobrir que Fragmentado se passava no mesmo universo de Corpo Fechado foi uma das surpresas mais deliciosas que os fãs de cinema tiveram em muito tempo. Muitos consideraram a história do homem de múltiplas personalidades a grande volta do diretor M. Night Shyamalan, apesar do seu ótimo longa A Visita lançado em 2015. Logo em seguida ele anunciou a continuação Vidro que, de certa forma, fecharia a inusitada trilogia.

Com o assassino em série chamado A Besta solto pela cidade, David Dunn decide tentar capturá-lo. Sua missão acaba fazendo com que os dois fossem capturados por psiquiatras do governo e reunindo os dois com o Sr. Vidro. Enquanto a psicóloga Ellie tenta convencer que todos eles são pessoas com um sério problema mental que faz com que acreditem que são super-heróis, mistérios acontecem no hospital.

Esse é um filme com um ritmo estranho. A divisão de segundo e terceiro ato são pouco identificáveis, além de termos a repetição intensa de assuntos. A ideia de uma doutora especializada em tratar pessoas que acham que são personagens de HQ é bem original e combina totalmente com o universo criado por Shyamalan. É muito divertido ver o personagem de Bruce Willis depois de diversos anos passados da historia de Corpo Fechado, além de ter mais uma chance de ver a incrível atuação de James McAvoy, que consegue estar ainda melhor do que em Fragmentado. Mesmo com todos esses elementos interessantes ainda temos uma história truncada e com escolhas questionáveis.

A forma como o tema super-herói é discutido é estranhamente raso comprado a como foi feito nos outros dois filmes. Os grandes diálogos entre os personagens parecem dar muitas voltas e não chegar a lugar nenhum, um grande problema num filme que baseia seus dois primeiros atos em interação de personagens. Além dessa repetição excessiva, temos a sensação de que em dado momento o filme para de avançar em seus acontecimentos, mas não recompensa com desenvolvimento de personagem ou qualquer outro fator narrativo satisfatório.

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A grande cena de ação é muito bem dirigida e com takes inovadores que fazem tudo parecer bem intenso num filme que propositalmente tenta manter um tom realista, na medida do possível. Mas a grande falha é a conclusão. Shyamalan começa a tentar retirar reviravoltas de onde elas não existem e tenta dar uma visão megalomaníaca numa história de proporções simples. Em dada medida ele até subverte clichês do gênero, mas de modo geral cai no clichê. Determinado personagem tem uma motivação que não faz sentido com nada que foi previamente estabelecido, e parece muito bobo da forma que é executado. Os personagens continuam ótimos, mas a psicóloga interpretada por Sarah Paulson puxa a qualidade da historia para baixo, mas não por culpa da atriz, e sim do roteiro.

De modo geral esse é um bom filme. Ótimas atuações, entretém e mantém a atenção presa para uma boa conclusão, mas ela acaba nunca chegando. Caso você consiga embarcar na conclusão proposta para a trilogia essa será uma experiência bastante recompensadora e eu realmente espero que isso aconteça com você, mas infelizmente não aconteceu comigo. Mesmo assim essa trilogia inusitada de filmes de herói é muito divertida, instigante e mesmo com a queda de qualidade em sua parte final eu estou genuinamente muito feliz por ela existir e espero que Shyamalan continue ousando, mesmo que por vezes ele fracasse, pois quando ele acerta temos um filme realmente memorável.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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