A essa altura do campeonato já podemos dizer que existe o subgênero chamado de “filme de Oscar”. Obras que parecem que são inteiramente pensadas para ganhar o prêmio. Geralmente todos esses filmes possuem um tema socialmente relevante (às vezes apresentado de forma piegas, ou não), são dramáticos e com um grande elenco de atores e atrizes famosos. O problema é que muitas dessas obras acabam caindo no esquecimento e, por outras vezes, são simplesmente moralistas e um tanto chatas, fazendo muita gente torcer o nariz para esse tipo de longa. A Guerra dos Sexos teria tudo para ser mais um filme desses, mas não é.

Em 1973, a campeã de tênis feminino Billie J. King enfrentou o ex campeão mundial do tênis masculino. O que seria apenas uma simples partida virou um símbolo sobre igualdade de gênero e a penetração dos ideias feministas na cultura popular americana. King liderou o movimento que pedia por igualdade salarial entre os jogadores de tênis independente do gênero.

O tema do feminismo cada vez mais aparece na cultura pop, às vezes de forma central, como tema da obra, e, outras vezes, de forma indireta. Esse é um dos casos onde o feminismo está no ponto de vista central da trama, mas disputa lado a lado com outros temas menores, como a vida pessoal da esportista e do seu rival. Emma Stone interpreta essa protagonista que se mostra um dos maiores trabalhos de sua carreira até agora. O rival, Bobby Riggs, é vivido por Steve Carell de forma brilhante. Ele já se mostrou um brilhante ator em papeis dramáticos e em personagens levemente exagerados dentro de filme sérios, e esse é um desses papeis, mas de forma muito bem feita e precisa.

A Guerra Dos Sexos não é um daqueles filmes dicotômicos que coloca as feministas, boazinhas, como santas e um adversário tenista do mal que deseja subjugar todas as mulheres. O roteiro é brilhante em nos contar uma história real, no tom certo de romantismo com embelezamento, mas sem cair nesses truques baratos para criar emoção. Bobby é um personagem fascinante na história, pois, apesar de ter posado para a mídia como “porco chauvinista”, ele não se preocupava nem um pouco com o fato das mulheres desejarem igualdade social. Ele só desejava criar um circo midiático e vender alguns patrocínios, e foi cutucar o tema que estava relevante no momento. Entretanto, se você é uma dessas pessoas que começam a dar escândalo na internet quando lê ou ouve palavras como “desconstrução” e “preconceito”, talvez esse não seja o filme feito para você. Se você é do tipo que diz frases como “Hoje em dia é tudo mimimi, não pode falar mais nada que tudo é preconceito” talvez você não goste dessas produções. Quer saber? Talvez seja justamente você que precisa ver um filme como esse. Quem sabe você não aprende alguma coisa.

Billie J. King, por outro lado, é uma verdadeira protagonista que é impossível não torcer por ela.  Ela precisa provar um ponto e vai lutar contra o mundo inteiro para prová-lo, lutar por um mundo melhor. A história foca bem mais no ponto de vista dela da história e isso é uma escolha muito bem acertada do roteiro, escrito por Simon Beaufoy (também trabalhou no roteiro de Quem Quer Ser Um Milionário). King vai fazer você se emocionar, torcer e, talvez, você se pegue pensando “Acerta essa bola pelo amor de deus, menina”. Esquecemos completamente que estamos vendo Emma Stone na tela, pois lá está a King. Uma protagonista altamente cativante que luta como uma super-heroína, mas sofre como qualquer um de nós, até com seus conflitos internos (que são bem tensos).

Agora vamos falar um pouco da direção. A Guerra dos Sexos é dirigido pela dupla Jonathan Dayton e Valerie Faris que também são responsáveis por Ruby Sparks e A Pequena Miss Sunshine. Os dois fazem um trabalho genial nesta obra. Para começar, desde as logos das produtoras são feitas de forma retrô para trazer o ar dos anos setenta, em que a história se passa. Isso é feito colocando um leve granulado na imagem, fazendo parecer que estamos vendo algo feito na película e com uma leve aparência de cinema de projetor. A iluminação é genial, pois faz uso de luz natural e cria momentos emblemáticos e poéticos aliados aos momentos mais íntimos da história. Lembra muito alguns momentos na estrada de A Pequena Miss Sunshine. É possível ver a mão deles para criar momentos lindos com auxilio da luz, câmeras nos locais exatos e uso de muitos closes aliados a câmeras lentas nos momentos exatos para simbolizar um sentimento profundo.

Preciso agradecer à dupla de diretores e ao roteirista por terem me feito conhecer essa belíssima história. A Guerra dos Sexos é o tipo de filme que te faz lembrar que o cinema pode ser uma forma de conhecer o mundo e as histórias fantásticas daqueles que nele vivem. Também é um prato feito para quem deseja ver grandes atores trabalhando e dando o melhor de si em caracterizações espetaculares. O filme só não vai ganhar nota máxima, porque senti que apesar de falar sobre o tênis, o esporte ficou secundário e, efetivamente, só vemos um jogo durante todo filme. Não é um erro fatal, mas queria ter aprendido um pouco mais sobre esse universo. Será que estou em condições de reclamar tendo em vista do tanto aprendi?

Assista ao trailer:

Quer continuar por dentro das novidades? Então siga o canal do Quarta Parede no WhatsApp e não perca nada! 

Publicidade
Share.
Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

Exit mobile version