Depois do sucesso incontestável do primeiro filme (que você pode ler aqui) dirigido por Sam Raimi, a continuação da saga de Peter Parker mostra como o nosso protagonista se mantém com sua vida dupla de super-herói e sujeito normal. Diferente da maioria dos icônicos personagens que temos hoje no cinema, Peter era um adulto fracassado com um subemprego e dificuldade profunda de se relacionar com o sexo oposto. A única coisa que ele parece fazer bem é sua vida como Homem Aranha, mas subitamente ele perde seus poderes. Paralelamente vemos o surgimento do vilão Octopus, um cientista nuclear que sofre um acidente com braços mecânicos experimentais que ficam presos ao seu corpo. A inteligência artificial dos braços começa a embaralhar a mente do doutor, enlouquecendo-o com a ideia fixa de recriar o experimento que causou o acidente.

Parker sofrendo pressões absurdas de sua vida mundana, começa a sofrer efeitos psicossomáticos a ponto de fazê-lo perder momentaneamente seus poderes. Fato que o faz repensar sua vida e abandonar o manto do herói para viver uma vida comum. Em contrapartida, temos o vilão trágico que, em essência, não é uma pessoa ruim, mas que adentrou numa situação terrível e está fora de sua razão, estabelecendo uma clara e poética antagonia com o herói em depressão. Poeticamente trágico.

Raimi evoluiu como diretor nesse filme. Consegue fazer pequenos clipes de terror e ao mesmo tempo cenas românticas e belas. Acima de tudo ele é muito épico e todas as cenas são belamente construídas. O roteiro é impecável nos temas que ele se propõe a tratar, o que é surpreendente, pois ele foi escrito por quatro pessoas diferentes, o que geralmente sempre dá errado.  Mas aqui temos cenas e diálogos impecáveis, que resumem conceitos complexos em segundos e de maneira absurdamente sutil. Obviamente que se não fosse a capacidade de Raimi de colocar tudo isso em tela de forma coerente, poderia ficar tudo completamente confuso.

Vamos exemplificar essas cenas simples que resumem conceitos complexos: Quando Peter tenta salvar uma menina de um prédio pegando fogo e ouve do bombeiro que outra criança ficou presa. Quando Homem Aranha está desmaiado no trem que acabou de salvar e as pessoas em volta comentam coisas como “Ele poderia ter a idade do meu filho”. Ou até mesmo quando Octopus tem a revelação de que Homem Aranha é Peter Parker (seu aluno na faculdade) e comenta “Peter Parker, aluno genial, porém preguiçoso”.  Quando Peter abre seu armário e lá vemos que ele só possui um terno e a roupa de Homem Aranha.

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Os atores continuam mantendo os níveis em seus papéis, somado com a evolução da história de Harry Osborn que viria a culminar em Homem Aranha 3. Obviamente que o roteiros tem alguns problemas de lógica, mas, devido a forma como Raimi cria a estética e o estilo do longa, isso acaba passando desapercebido. Propositalmente essa versão cinematográfica tenta se aproximar dos quadrinhos dos anos 70, com ares mais ingênuos. Alfred Molina faz um ótimo vilão e consegue interpretá-lo sem ficar absurdamente exagerado, mas que, ao mesmo tempo, é visivelmente perturbado.

A conclusão é incrível e fecha toda a saga que Peter enfrenta nesse filme. Sua redescoberta como herói e como pessoa. Um homem que entra em crise existencial e se encontra no fim. O vilão que se percebe como vilão e desiste. A conversa espetacular entre Peter e a Tia May onde ele “confessa” a culpa pela morte do Tio Ben. E por fim o retorno com a Mary Jane. A jornada finalmente se completa e Peter tem certeza de que ele e o mundo precisa do Homem Aranha. 

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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