Se você foi criança nos anos 90, imagino que em algum momento você tenha assistido alguma das várias séries tokusatsu: séries japonesas live action de heróis que usavam uniformes, itens e robôs gigantes que achávamos o máximo pra enfrentar vilões caricatos. Nomes como Jaspion, Jiraya, o policial de aço Jiban (atire a primeira pedra quem não chorou no episódio em que ele morre! rs!), Black Kamen Rider e outros figuram hoje em nossas memórias graças à antiga TV Manchete, cujos programas infantis apresentavam as séries japonesas mencionadas, até o momento em que a Rede Globo trouxe à tona os Power Rangers, uma série que era impregnada de elementos do tokusatsu, mas que tinha uma pegada mais “ocidentalizada”, e acho que foi justamente esse tom mais ocidental que fez com que as crianças da época gostassem dos adolescentes de Alameda dos Anjos. Um grupo de jovens, amigos, estudantes, onde cada um tinha traço característico.

É exatamente a esse público que foi criança nos anos 90 ao qual se dirige o novo filme dos Power Rangers, dirigido por Dean Israelite. O filme conta a trajetória de cinco jovens (Jason, Billy, Kimberly, Zack e Trini), que se deparam com a descoberta de artefatos de origem desconhecida, e, ao que tudo indica, não-humana (“Aliens“, diria Giorgio Tsoukalos). Esses artefatos os levam às instalações comandadas por Zordon (Bryan Cranston), agora uma inteligência artificial, que informa aos cinco jovens que o mundo está na mira de Rita Repulsa (Elizabeth Banks), uma antiga integrante o esquadrão dos Rangers que foi seduzida pelo poder, e agora, com ajuda de sua mais recente criação monstruosa (Goldar) está atrás do Cristal Zeo, cristal este que de alguma forma tem relação com a manutenção da vida na Terra.

Pela sinopse no parágrafo acima, imagino que você tenha notado diversos clichês (o herói que cede ao Mal, a tentativa de cooptar novos heróis…), mas o clichê era um elemento já esperado em um filme do teor de Power Rangers, que não teve a pretensão de ser nada além daquilo que é: um tributo nostálgico divertido.

O grande problema, no entanto, é o ritmo do filme. Grande parte dos eventos acontecem sem algo que os interligue (a apresentação dos Zords, ou quando Rita Repulsa aparece do nada diante de Trini), e essa ausência de vírgulas deixa furos que na hora a gente pensa “whatever, lance normal, segue o jogo”… Como eles aprenderam tão rápido a manejar os Zords? O que foi aquela cena no cais? Que final WTF foi aquele da Rita? E sim, o Alpha ficou feioso demais (“Ai ai ai ai ai”)…

Mas o maior acerto do filme foi no quesito elenco. O filme apresenta os personagens de uma forma que foi comparada à de Clube dos Cinco, em que cinco jovens se deparam com uma situação-problema e o pré-requisito pra contornarem essa situação-problema é que conheçam uns aos outros e a si mesmos, cada um com seus dons e seus problemas. A cena do acampamento em volta da fogueira é o ponto alto dessa proposta: usando e abusando da galhofa com relação à ideia mesma de “se tornar um Power Ranger“, conhecemos melhor Jason (Dacre Montgomery), o atleta que fracassou; Kimberly (Naomi Scott), a garota que um dia foi popular; Zack (Ludi Lin), o cara que tá sempre querendo quebrar as regras; Trini (Becky G), a antissocial; e Billy (R. J. Cyler), o nerd que sofre de uma variante do transtorno de autismo, ao mesmo tempo em que tem que lidar com os valentões da escola. O foco do filme inicialmente é a relação entre Jason e Billy, que depois evolui agregando Kimberly e, por fim, Trini (o diretor foi corajoso ao deixar sugerido qual era “o problema” de Trini) e, por último, Zack, sendo este último o personagem que menos teve espaço. Grande parte do filme se dá na articulação entre os personagens, cujo ápice é a hora de morfar, o que fez com que as cenas de ação dos Rangers, tanto em terra quanto nos Zords, tivessem menos tempo de tela. Aliás, o Megazord ficou maneiro.

Elizabeth Banks também cumpriu seu papel ao encarnar Rita Repulsa. Deu pra perceber que ela fez o dever de casa, pois o que esperávamos de Rita eram as falas caricatas (“Faz meu monstro cresceeeeer!“) e os trejeitos característicos não só dos vilões de Power Rangers mas dos vilões tokusatsu em geral.

A trilha sonora de Bryan Tyler também foi outro acerto. Não sei vocês, mas a trilha em dados momentos me lembrava a de Tron Legacy. E sim, o filme tem cena mid-credits e uma cena que quem assistiu à série nos anos 90 irá sacar…

Apesar dos problemas (que não foram poucos!), Power Rangers cumpriu o papel de prestar homenagem à série original, assim como também ofereceu uma boa diversão pra garotada que não foi daquela época.

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