O primeiro filme do Círculo de Fogo, dirigido por Guillermo del Toro, divide bastante as opiniões do público. Alguns acham que o filme é clichê, chato e sem grandes novidades. Outros apreciam a grande homenagem à cultura pop japonesa e a inventividade do universo apresentado no filme. A mistura de ação e ficção científica não rendeu grandes lucros na bilheteria americana, mas se saiu muito bem ao redor do mundo o que garantiu a continuação que foca justamente num elenco etnicamente rico e se lança para o mundo como um filme com vários pedacinhos da cultura humana.

Dez anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, o filho do grande capitão Pentecost é recrutado para treinar os novos cadetes para não ser preso. Lá ele precisa se reintegrar às forças militares e adentrar numa possível conspiração envolvendo robôs não tripulados que podem colocar em risco a humanidade.

John Boyega é o protagonista do filme e seu personagem representa tudo que essa continuação é: muito mais cômico, porém com uma boa dose de ação. A trama já se inicia com boas cenas de luta e perseguição. O roteiro possui bastante subplots (em alguns momentos até demais) e possui bastante personagens. Entretanto, não é um daqueles filmes que se perde no meio dessas subtramas, mesmo que no segundo ato pareça que sim. No fim tudo acaba ficando bem amarrado e entrega uma continuação satisfatória para aqueles que já haviam gostado do filme anterior.

O bacana é que existe a preocupação de manter o legado do primeiro filme e expandir essa realidade de um mundo que constantemente é atacado por monstros gigantes. Os conceitos de ficção científica são bem explorados e a criatividade em criar novos robôs são notáveis. O roteiro em si é bem inventivo em conceitos que já haviam sido plantados no primeiro filme e vai longe numa amarração com o plot geral (é surpreendente como as duas produções se conectam). Um filme bem nerd em algumas ideias e corajoso em não ter medo de extrapolar na imaginação.

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O mais bacana é que podemos pensar bem sobre alguns pontos do roteiro e a mensagem que ele deseja passar. De certa forma tal mensagem já estava no primeiro filme, mas aqui parece ganhar mais destaque e ser mais temática. O trabalho em equipe é pautado a cada momento e, de certa forma, costura a história. De forma menos explícita é muito debatida a ideia de cooperação entre diversos países para formar um mundo melhor.

Mas este não é um filme perfeito. Os personagens de Tian Jing e Charlie Day atuam de forma caricatural ao extremo, sofrendo mudanças bruscas em seu estilo e em alguns momentos beiram a não fazer sentido. O roteiro também possui algumas barrigas em seu meio que podem tirar bastante a atenção do espectador. Os arcos emocionais também não são tão bons quanto o primeiro (neste campo o roteiro se rende a diversos clichês).

No quesito “porradaria épica” não tem do que reclamar. O clímax do filme é sensacional. Desta vez não temos batalhas na chuva e na noite que dificultavam a apreciação dos movimentos. Todas as batalhas são em plena luz do dia e podemos ver cada detalhe dos robôs e dos monstros. E as armas e invenções malucas vão te levar de volta à infância quando brincava de bonequinho. Felizmente a saída de Guillermo del Toro não se traduziu numa queda de qualidade da franquia. Levando em conta que este é o primeiro trabalho de diretor, num longa, de Steven S. DeKnight temos um resultado bem interessante e promissor para as continuações. Mas se você foi o tipo de pessoa que não gostou do primeiro é melhor passar longe desse.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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