John Wick: Um Novo Dia Para Matar evoca espíritos que andam perdidos no cinema de ação. Não afirmo isso devido ao certo saudosismo que bate em minha alma quando penso em filmes de “brucutu”, mas pela audácia e personalidade que Chad Stahelski impõe ao resgatar simples símbolos, argumentos e referências do passado em uma produção altamente moderna e estilizada.

O mais importante está na simplicidade de reconhecer o seu próprio tamanho e lugar na história. Por mais sério que esse mundo de assassinos e o próprio John Wick (Keanu Reeves) possam parecer, o filme é uma “sátira” de muito bom gosto de vários elementos clássicos dos defenestrados filmes de “exército de um homem só”. E esta sequência nos mostra maiores requintes com relação a isso. Clichês de filmes de brucutu jorram da tela. E jorram propositalmente à vontade. O chamado obrigatório para a missão, a escolha das armas, o plano perfeito, a traição e sua jornada de vingança final estão ali, escancarados, junto ao campo de força que protege o protagonista de tiros inimigos. Mas a direção de Stahelski faz com que assistamos a isso sem que agrida nosso anestesiado senso crítico.

A premissa básica da vingança é algo que sempre move uma boa história de ação. Mas neste segundo filme temos um peso maior em uma outra premissa clássica: a dívida de sangue. Ou seja, o valor de sua palavra e as consequências de não cumpri-la. Esta é a nova motivação que faz o temido Boogeyman (bicho-papão) a sair mais uma vez de sua aposentadoria e, por consequência, enfrentar um planeta de mercenários associados. Lendo até aqui tudo isso parece exagerado, não? E realmente é, mas a mágica deste filme não está em querer dar uma explicação banal para tudo. Então aonde tal magia se encontra?

Talvez seja por acreditarmos que John é verdadeiramente capaz daquilo tudo, um novo Bruce Lee “with guns”, quiçá um Chuck Norris pós-moderno. Este resgate aos clássicos de ação de forma estilizada é o principal fator para que a mágica aconteça. É notório como o filme brinca com esses elementos que resgatam tal sentimento, tirando do espectador até risadas durante a troca de tiros disfarçados dentro de uma estação de metrô lotada. Dando toques lúdicos ao vermos uma cidade em que qualquer pessoa pode ser um assassino associado prestes a se tornar uma ameaça ou que exista uma rede de mendigos espiões pelas ruas.

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John Wick: Um Novo Dia Para Matar consegue aliar todo o saudosismo e clichês em uma ação desenfreada e muito bem coreografada. As “danças” das sequências de lutas e confronto são dignas dos bons filmes orientais da década de 70, porém ao invés de usarem espadas, bastões ou nunchakos a coreografia é totalmente estilizada para o uso de arma de fogo, carros e lápis. E o que era para tirar nossos pés da realidade, acaba nos alicerçando em um mundo de fantasia moderna, com o próprio visual e design do longa construindo essa aura, com neons, calabouços e jogos de reflexos na sala de espelhos.

John Wick reafirma que para fazer um bom filme de ação não precisa de um roteiro que se desculpe de seus excessos, mas sim de um que justamente abra espaços para tais excessos, e da possível escassez de falas do protagonista (o que já é clássico de Keanu Reeves). Enfim, basta-nos esperar para ver se esta será a nova vida dos filmes de ação ou se é o último suspiro de um estilo há muito agonizante. 


John Wick: Um Novo Dia Para Matar

NOTA:

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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