O tema família provavelmente é o mais usado em qualquer animação infantil. Ele é tão trabalhado que já se tornou um clichê e, de tempos em tempos, tem que ser reinventado e reapresentado para novos públicos. O próprio conceito de família vem mudando ao longo do século XX e a arte se adapta para representar essas novas formações familiares. Em contra mão a tudo isso “A Família Feliz” chega aos cinemas ignorando essas mudanças, fazendo um filme clichê e retrógrado em sua concepção de família e até mesmo de felicidade.

Emma é uma mãe com dois filhos e um casamento meio desgastado. Seus filhos não a respeitam, seu marido vive com sono porque trabalha muito, e sua livraria não está dando lucro. Acidentalmente ela liga para o Drácula, que após uma breve conversa, o vampiro decide que ela será sua nova esposa e manda uma bruxa para transformá-la em vampira. Mas acidentalmente a bruxa transforma toda a família em monstros e assim começa a jornada para eles recuperarem suas formas humanas e derrotarem o Drácula.

Acredite em mim, essa é a sinopse do filme. Além do plot bem estranho, ele é executado da pior maneira possível. A família é totalmente desinteressante e os conceitos envolvendo os monstros são bem ridículos. O pai da família vira um Frankenstein e anda pela rua de forma completamente normal, como se ninguém percebesse sua estranha presença. Então por que o drama deles virarem monstros? Ninguém além deles mesmos parece notar a transformação. Os dois filhos são clichês pessimamente escritos. A adolescente rebelde, fútil e “irônica” e o jovem nerd, que sabe de tudo.

Esse poderia ser só mais um filme ruim, mas inocente, que subestima a inteligência das crianças. Porém Uma Família Feliz vai além. Ele consegue ser de péssimo gosto e, por vezes, bizarro. A irmã espancando o irmão mais novo na frente dos pais e, supostamente, isso deveria ser engraçado, abandono parental e visões de família absurdas (“a mãe tem que ser responsável por tudo” e “o pai tem que cair na porrada para ser um bom pai”).

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A animação tem pitadas de aventura e é essencialmente de humor, entretanto, é um humor do mais baixo nível de criatividade. Quase toda a base de comédia do filme é no humor físico. Todos os personagens do filme não conseguem passar por pelo menos uma cena onde caem ou tropeçam. Isso é usado com tanto exagero que fica ridículo. Emma (a mãe) é totalmente incapaz de dar um passo sem cair. Existe uma cena onde o irmão mais novo corre em direção a uma parede e bate sua cara com ela, sem nenhum motivo. O resto do humor é escatológico ou tiradas com a condição deles de monstros. Ambos dão vergonha de ver.

A história se perde em diversos pontos, beirando a falta de sentido completo em algumas passagens e ofendendo a inteligência da mais nova das crianças. A solução dos arcos dos personagens é tão artificial que é preciso fazer narrações em off para explicar como elas ocorreram. A animação em si é péssima. Os movimentos são pouco realísticos. Os ambientes tem um traço super realista que não encaixa com a versão mais caricatural dos personagens. Parece que estamos vendo figuras inseridas em um quadro totalmente estático.

Existem filmes em DVD ou até na televisão que são mais interessantes do que Uma Família Feliz. Se quiser ver uma animação divertida com monstros vá assistir mais uma vez o primeiro e o segundo Hotel Transilvânia, que é infinitamente melhor do que esse filme. Acredito que qualquer outra animação que trate do tema família consegue ser mais bem sucedida que essa.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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