A essa altura do campeonato, dizer que o Sthepen King é um dos autores mais relevantes da atualidade é chover no molhado, mas não é todo dia que um autor desse calibre sai de sua zona de conforto para explorar outros gêneros. Apesar de seu estilo de terror envolver muito suspense e mistério, ele nunca havia mergulhado de cabeça numa narrativa típica de detetive. Mr. Mercedes é o primeiro de uma trilogia que de certa forma é concisa e conta uma grande história.

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Durante uma grande convenção de empregos numa cidade pequena dos Estados Unidos, um Mercedes atropela uma série de pessoas numa fila de desempregados. Uma chacina completa. A polícia não consegue rastrear o assassino, que pensou em cada detalhe do seu crime, mas que ninguém consegue imaginar um motivo para tal ato de violência. O detetive aposentado Hodges recebe uma carta em casa que supostamente é do assassino do Mercedes, que confessa todo o crime. Tal evento faz Hodges sair do marasmo deprimente que sua vida se tornou e começa a investigar quem é o assassino. Assim começa uma corrida de gato e rato alucinante.

Antes de tudo, é preciso dizer que o livro em nenhum momento faz mistério sobre quem é o assassino. Não estamos falando do tipo de livro que tem como objetivo final solucionar quem é o assassino. A narrativa se alterna entre o ponto de vista de Hodges e de Hartsfield (o assassino do Mercedes). De um lado temos um detetive idoso, fora de forma, completamente deprimido e que se afastou completamente da família. Do outro um psicopata de primeira linha.

Se existe uma coisa que King consegue fazer é jogar seu leitor dentro da mente dos seus personagens. Ele leva isso ao limite quando estamos falando de suas grandes obras, e Hartsfield é um mergulho doentio numa mente doentia. Poucas obras narrativas proporcionam uma psiquê tão complexa, diabólica e assustadora como este livro. Poucos vilões são tão odiosos como Hartsfield. O mais incrível é que King não apela para coisas absurdas, exageradas ou nenhum pouco crível. Grande parte de esse personagem ser tão assustador é que ele é completamente possível de existir.

O que mantém a tensão da história é saber como essas duas figuras vão se encontrar e se Hodges conseguirá descobrir tudo que o assassino do Mercedes está planejando. A investigação é lenta e realista. Nosso detetive é um homem comum. Não espere um Sherlock Holmes, ou algo na linha de super investigador, estamos falando de pessoas comuns envolvidas em situações complexas e desafiadoras. Não é a toa que os dois ajudantes de Hodges são pessoas completamente comuns, e talvez até pouquíssimo qualificados para o trabalho de detetive.

Mas o que move a história? Como todo bom psicopata, Hartsfield quer ser pego e por isso ele atiça Hodges, mas acima de tudo ele deseja fazer o detetive falhar ao tentar impedi-lo de cometer outro massacre. King gasta a primeira metade do livro construindo esses dois personagens, e isso ele faz com absurda excelência, principalmente no caso de Hartsfield. A segunda metade vai galgando em uma velocidade absurda de tensão conforme vamos vendo o plano diabólico sendo construído e Hodges lutando contra o tempo para solucionar o “quebra cabeça”.

No fim temos, um ótimo primeiro livro de uma trilogia que demonstra mais uma vez como King consegue se aventurar em outros estilos, apesar de não ser tão afastado do terror característico dele. Tem um ótimo ritmo e cria figuras memoráveis que conseguem marcar o gênero como um todo. Talvez depois que você leia Mr. Mercedes, Hodges entre na sua lista de grandes detetives e Hartsfield na lista de maiores psicopatas que você já presenciou. O livro já esta sendo adaptado para um seriado de TV (você pode ver a noticia completa aqui).


Mr. Mercedes


Nota: 4,0/5,0

 


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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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