Filmes sobre pessoas deslocadas e excluídas apareceram cada vez mais na mídia no o fim só século XX. Existe até um termo em inglês para esse tipo de personagem que é o underdog. Alguns personagens clássicos possuem essa definição como o Homem Aranha e Rocky Balboa. Entretanto temos obras que cada vez mais tratam sobre esse tipo de figura, mas sem necessariamente glorificá-los ou transformá-los em heróis. As novas abordagens tendem para um tom mais cômico e melancólico, dentro de uma proposta mais realista. Mesa 19 é um desses filmes.

Num casamento uma mesa reúne todas as pessoas que não eram realmente desejadas na festa, e dentre elas Eloise. Ela deveria ter sido a madrinha da festa, mas terminou seu namoro com o padrinho e acabou sendo jogada na mesa dos “indesejáveis”. Dentro desse dia vemos como esses deslocados vão interagir de forma cômica e descobrir a amizade em momentos inusitados.

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Esse é o típico filme de interação de personagens e acaba funcionado na estrutura de “grupo”. Jaffrey Blitz é o diretor deste longa que, aliás, é seu primeiro trabalho no cinema, até então ele só havia dirigido episódios de séries de TV. Com uma montagem inteligente, Blitz nos apresenta todos os personagens de forma rápida e simples, e quando eles se encontram na mesa 19 já sabemos quem é cada um. Sua fotografia é bem interessante e alguns momentos realmente belos, mesmo quando estamos em locais simples. Talvez seu único problema seja a escolha de músicas indies para compor cenas de casamento, sendo que elas não casam com diversas situações que vemos.

O roteiro leva o nome do próprio Jaffrey Blitz com Mark Duplass e Jay Duplass. O texto tem muitas boas reviravoltas que fazem a história nunca ficar monótona. Os personagens são muito diferentes e bem pensados em suas diferenças únicas, apesar de alguns serem meio exagerados. Vamos falar de cada um deles de forma individual.

Eloise é a protagonista e interpretada por Anna Kendrick, a estrela de Escolha Perfeita. De certa forma toda a história gira em torno dela, sendo o elemento de ligação entre todos os outros personagens. Seu carisma é ótimo fazendo com que nos conectemos com sua personagem de forma muito rápida. Jo Flanagan (interpretada por June Squibb) é a babá de quando a noiva era criança e, claramente, não quer aceitar o quanto foi descartável na vida dela e assim como também não é lembrada por ninguém.

Renzo, interpretado por Tony Revolori, que foi Zero no fantástico Hotel Budapeste, e será o próximo Flash Tompson no próximo filme do Homem Aranha, é um jovem com problemas de socialização que deseja arrumar uma namorada de qualquer jeito. É o que parece mais deslocado do resto do grupo e o personagem mais difícil de apreciar devido a uma personalidade um tanto desagradável. Bina e Jerry Keep são um casal de relacionamento fracassado que não se suportam mais e fazem piadas constantes um com o outro. Jerry é interpretado pelo ótimo Craig Robison e Bina por Lisa Kudrow (a eterna Phoebe de Friends). E por fim temos Walter (interpretado por Stephen Merchant) que é um presidiário que teve permissão para ir ao casamento e não deseja que ninguém saiba de sua condição, também é um dos mais exagerados na história.

O filme fala muito bem sobre a hipocrisia de determinados convívios sociais e como algumas relações acabam com o passar do tempo. Temos momentos verdadeiramente emocionantes e cômicos ao longo do filme. Talvez a única coisa ruim do roteiro seja a demora que temos para o grupo se formar e a resolução de alguns arcos de personagem. Mas no final das contas temos uma boa “aventura” e relações verdadeiras numa história sensível e diferente.

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Raul Martins

Autor dos livros Cabeça do Embaixador e Onde os sonhos se realizam

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