Uma bela surpresa. Três Anúncios Para Um Crime revela-se uma linda surpresa para o amante do cinema. O filme é dirigido, produzido e escrito por Martin McDonagh (que antes só tivera o filme Six Shooter como trabalho mais relevante nas telonas). Com um elenco de primeira e uma história altamente envolvente, o longa traz uma trama policial com toques de humor negro que faz o espectador refletir sobre as mensagens que ele impõe, principalmente sobre o propósito do cinema, mesmo sem ser uma metalinguagem.

Inconformada com a ineficácia da polícia em encontrar o culpado pelo brutal assassinato de sua filha, Mildred Hayes (Frances McDormand) decide chamar atenção para o caso não solucionado alugando três outdoors em uma estrada raramente usada. A inesperada atitude repercute em toda a cidade e suas consequências afetam várias pessoas, especialmente a própria Mildred e o Delegado Willoughby (Woody Harrelson), responsável pela investigação.

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A premissa pode ser simples, mas é altamente interessante. A ideia de alugar outdoors para cobrar uma resolução de um crime é realmente inovadora. E mais interessante ainda é ver como os anúncios afetam a vida de toda a cidade. Trazendo para o debate o papel da polícia em casos como este. A desconfiança nela é algo latente dentro da sociedade (principalmente a brasileira), uma instituição que não resolverá todos os problemas do mundo que é gerida por homens falhos. Sim. Em Três Anúncios Para Um Crime a polícia é como é na vida real. E dessa maneira, ela não é culpada por tudo. Há casos que as dificuldades de resolução são evidentes, e por mais que queiramos achar um culpado (a nossa própria mente passa a desconfiar até de uma má vontade da instituição para o caso da filha de Mildred), nem sempre a culpa tem um dono.

As atuações do elenco principal do filme beiram o brilhantismo. O trabalho de Frances McDormand está fantástico dando vida a Mildred, uma mulher vivida e amargurada não só pelo sentimento de frustração, como o de culpa também. Woody Harrelson mais uma vez entrega um papel competente, que vai muito além de um estereótipo do delegado de cidade pequena. Toda a problemática em cima dele por si só exige do ator nuances diferentes: um delegado admirado pela cidade sendo acusado de negligência na investigação num caso de estupro em seus últimos meses de vida. ( o delegado Willoughby está numa fase terminal de cancer no pâncreas). Porém os maiores louros vão para o surpreendente Sam Rockwell que vive o odioso Jason Dixon, num papel extremamente interessante de forma diferente. O problemático policial que tem um relação com a mãe bem peculiar, tem momentos verdadeiramente brilhante no quesito interpretação do ator e mensagem do roteiro.

Falando em mensagem do roteiro, como disse anteriormente, Três Anúncios Para Um Crime nos faz relembrar o que verdadeiramente é o cinema. Não é apenas uma história que vemos de passagem numa tela, e sim é um artifício de comunicação. Mensagens são ditas por imagens, sem necessariamente ser falada em si. E, por mais que as vezes a história conclui-se de forma frustrante, ela não significa que o filme seja frustrante também. Pois o que o filme queria dizer foi dito, implicitamente. O longa não é sobre a resolução de um caso de estupro, mas é sobre como o ódio pode gerar mais ódio, e assim a vida se tornar uma espiral descendente de caos e sofrimento. E cabe a nós saber interromper esse caos, desde que saibamos identificá-lo.

E de forma brilhante McDonagh soube costurar os acontecimentos e a narrativa para que sua mensagem fosse captada daquela maneira mais sonhada de um diretor de um filme: num momento de catarse e reflexão, como no momento da explosão da delegacia aliado com a leitura da carta do delegado para o Dixon. Na verdade o problemático policial Dixon é o fio condutor da mensagem que o longa está querendo dizer, e o caso da queimadura explicita muito bem. Enfim, uma aula de direção e atuação em um filme com uma proposta que, ao mesmo tempo, é simples e inventiva, porém executada de forma brilhante. Uma bela surpresa em um mundo cinematográfico repleto de franquias e grandes produções.

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Daniel Gustavo

O destino é inexorável.

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