Antes mesmo de ser lançado, o anúncio do longa solo do rei de Wakanda já gerava certa polêmica. De um lado, ele era o símbolo de representatividade por ter um elenco majoritariamente negro e diretor negro, assim como seus roteiristas. De outro lado, um grupo de fanáticos que desejavam boicotar a obra para fomentar a briga patética entre Marvel e DC. Assim como o filme da Mulher Maravilha, parece haver um incômodo de certos grupos quando um filme de super herói se propõe a ir um pouco mais além no quesito representatividade .
Após a morte de seu pai, nos eventos mostrados em Capitão América: Guerra Civil, o príncipe T’Challa precisa assumir o trono de sua nação. Oficialmente sob o manto de Pantera Negra, ele precisara lidar com todos os conflitos gerados em ser o monarca de uma nação secreta e dotada de uma tecnologia sem precedentes com ataques daqueles que querem perturbar o equilíbrio deste delicado país.
Apesar de nunca ter sido um dos personagens mais populares da Marvel, o Pantera Negra sempre foi bastante querido entre os leitores e até relevante em alguns pontos da história da editora. Sua primeira aparição foi em 1966, na revista número 52 do Quarteto Fantástico. Desde então, teve algumas revistas próprias e participou de formações importantes dos Vingadores, além de ter um casamento histórico com a personagem Tempestade. O marco importantíssimo de sua criação reside no fato dele ser o primeiro super herói negro.
Muitos criticam os filmes da Marvel pelo excesso de piadas e por uma visível fórmula que para muitos já cansou. Naturalmente, este filme acaba sendo bem mais sério do que os outros longas de heróis por tratar de temas relacionados à política. “Qual o papel de Wakanda perante os refugiados?”, “O que torna um rei verdadeiramente legitimo?” e “Até onde você iria para proteger sua terra natal?”. Em termos de visual e criação de mundo, este filme consegue realmente ser algo novo e muito empolgante. A criação da nação secreta e seu funcionamento é a melhor coisa desta produção e encanta os olhos do espectador. Isso vai desde sua arquitetura, cultura e vestimentas. Cada cena lá dentro puxa sua atenção para observar algo.
Chadwick Boseman dá vida ao herói/rei e dá um sotaque muito interessante ao seu personagem. Na realidade, a decisão do diretor de manter a ideia do ator em criar um sotaque constante, que se estendeu para todos os habitantes de Wakanda é uma tacada de mestre em criar a sensação de um país real. O uso que o roteiro dá às habilidades do personagem é bem engenhoso e, por consequência, gera cenas de ação bem inventivas. O interessante é que a criação do microcosmo de Wakanda acaba confluindo de forma orgânica para gerar essas cenas de ação, principalmente no ótimo terceiro ato.
Apesar de ser um filme mais sério, ele possui seus alívios cômicos. Muitos deles não são muito bons, mas talvez o único verdadeiramente bacana seja o da personagem Shuri, uma das irmãs de T’Challa. O roteiro parece tentar dar uma característica cômica a alguns personagens que não parecem combinar com o humor de modo geral. Andy Serkis até tenta dar vida a um vilão insano, porém engraçado, mas a coisa não casa. Nada muito fatal devido a forma como o roteiro o utiliza. Por outro lado, temos momentos de humor bem sutis e que ajudam a criar a relação entre a família real que são bem satisfatórios.
A complexidade da trama é bem satisfatória e tem a dosagem certa entre profundidade política e aventura de super herói. Na transição do segundo para o terceiro ato temos um momento mais fraco e, de certo modo, parece que a história perde o ritmo num passo excessivamente apressado. Mas logo tudo volta aos eixos para um encerramento ótimo. No fim, temos um novo caminho que permite várias possibilidades, além de uma apresentação de diversos personagens secundários divertidos. Pantera Negra está muito mais para Capitão América e o Solado Invernal do que para Thor Ragnarok em termos de tom e certamente é um filme que merece sua ida ao cinema.
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Pantera Negra
Nota