Fugindo com sabedoria da fórmula Marvel, a série Loki chegou ao fim mostrando uma evolução do vilão mais querido da Marvel Studios. E tudo isso após duas temporadas na qual o protagonista encontrou na conclusão da sua jornada um desenvolvimento digno como há muito tempo não se via no MCU.

Tudo começa quando na primeira temporada o roteiro da série deslocou uma figura como o Loki (Tom Hiddleston) para um cenário mais comum do gênero de ficção científica, como é o caso da Autoridade de Variância Temporal, a AVT, que é introduzida nesse primeiro momento. É nesse contexto que se inicia a abordagem de conceitos como linhas do tempo alternativas e variantes. Nesse ponto, quem mais recebe destaque é Sylvie (Sophia Di Martino), a variante feminina que possui uma complicada história com a AVT além de uma jornada muito interessante e bem desenvolvida inicialmente, mas que acaba sendo um pouco deixada de lado no segundo ano.

Mais adiante, em Journey Into Mystery (S1E5), esses conceitos ganham novas camadas quando somos apresentados a outras variantes do personagem. Em poucas linhas de diálogo percebia-se ali uma abertura para a discussão de questões filosóficas sobre livre árbitro e determinismo, algo que é brevemente retomado no último episódio da temporada em For All Time. Always (S1E6) e que é aprofundado no segundo ano. Tudo tendo como ponto de partida um momento especifico no qual Sylvie e Loki descobrem a trama orquestrada por uma variante de Kang conhecida como Aquele que Permanece (Jonathan Majors) e entram em conflito sobre matá-lo ou não.

Como já era de se esperar, essa questão ao ser resolvida gerou consequências para toda a segunda e última temporada. Isso por sua vez trouxe à tona vários questionamentos sobre a direção que certos personagens do núcleo da AVT deveriam tomar para suas vidas. E esse foi um dos grandes acertos de Loki ao mostrar como nem tudo pode ser resolvido como uma grande luta como normalmente acontece na maioria das produções Marvel como, por exemplo, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania que inclusive trouxe outra variante de Kang como vilão.

Além das reflexões sobre essas questões, o fim da jornada de Loki fica marcado por uma corrida contra (e às vezes com) o tempo para salvar a AVT de um colapso total após a morte do Aquele Que Permanece e o crescimento desordenado de infinitas ramificações da Linha do Tempo Sagrada. Em toda essa premissa, o roteiro opta por um caminho no qual utiliza-se um paradoxo em que o futuro alimenta o passado e o ressignifica em um looping temporal. Fãs de Doctor Who devem reconhecer esse recurso, principalmente das temporadas comandadas pelo showrunner e roteirista Steven Moffat. Inclusive, não é toa que muitos chamam isso de “Moffat Loop”. Sobre esse assunto, é recomendável conferir essa análise do PH Santos em seu canal do Youtube.

Por último, fica o comentário de como Loki ainda encontra espaço para trabalhar referências de diversas fontes.  Esse é o caso de exemplos como o personagem Ouroboros (Ke Huy Quan, de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo tempo) cujo nome e até mesmo relação com a criação da AVT remetem à um termo que tem raízes nas mitologias egípcia e grega, em que a imagem de uma cobra ou serpente morde a própria cauda representando assim a eternidade, o ciclo da vida e a renovação. Outra referência como essa acontece quando a série referencia Yggdrasil, a árvore colossal que conecta os Nove Reinos, entre esses Midgard (a Terra), segundo a mitologia nórdica.

Unindo em seu encerramento temas como identidade, amadurecimento, família e propósito em uma trama entrelaçada de elementos de ficção cientifica e referências mitológicas Loki vai além do padrão Marvel e entrega um produto final de qualidade. Com isso, olhando para o panorama geral pode-se dizer com segurança que a série é atualmente o melhor acerto recente do UCM depois de muitos tropeços nos cinemas e no streaming. Fica a esperança que isso sirva de inspiração para as próximas fases do MCU. 

Assista ao trailer:

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Loki

9.0 Excelente
  • Nota 9
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Marcus Alencar

"Palavras importam! Uma morte, uma ondulação e a história mudará em um piscar de olhos"

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