Condensar em um filme conceitos tão complexos, exaustivamente debatidos e por vezes difíceis de ser trabalhados no âmbito artístico parece uma missão improvável. “O Futuro Perfeito” consegue ser um belo retrato das virtudes simplistas que o cinema pode ter. Uma mistura de documentário com ficção, uma história apenas conceitual e o debate sobre imigração, identidade cultural e as barreiras que a linguagem pode impor. Parece muita informação para um filme, a diretora Nele Wohlatz faz parecer não ser.
Xiaobin é uma imigrante chinesa de 17 anos e acaba de se mudar para a capital da Argentina, Buenos Aires. Ela não sabe falar espanhol e logo entra para uma escola de idiomas, como método da escola a jovem assume a persona chamada Beatriz e passa a responder perguntas visando situações cotidianas como: “Beatriz é atriz” “Não, Beatriz é enfermeira”. Fora da escola as relações de Xiao são semelhantes à sua vida nas aulas de idiomas, um didatismo artificial, mas isso não a impede de conseguir um emprego e um namorado indiano chamado Veejay.
A mistura de linguagem do filme, a documental e a fictícia, é feita com delicadeza e não gera estranheza. Outra ideia inventiva é o uso de não atores no longa. Exigi-se pouco do elenco amador, nenhuma situação que comprometa a atuação contida e neutra proposta pelo conceito do filme. O uso desse recurso é uma afirmação da pegada cotidiana que a direção quer entregar.
Nele Wohlatz consegue implementar no seu filme um jogo muito interessante através da linguagem cinematográfica e das situações cômicas que sua personagem se encontra tendo a linguagem como principal culpado. É um filme que ao invés de propor uma solução boba para problemas complexos, prefere evidencia-los através do absurdo, e isso é uma bela virtude da direção.
É fascinante quando a opção pela simplicidade obtém êxito, nada de pretensão com filmes de arte ou coisas do tipo. Apenas um conceito, uma câmera e pessoas talentosas. Em seus curtos 65 minutos de filme “O Futuro Perfeito” consegue sem demagogias ser grandioso.
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