É notável a dificuldade que a cinematografia brasileira possui para se distanciar da eterna dicotomia entre a comédia e o tão citado “filme de arte”. Falo dificuldade, mas talvez a palavra certa seja resistência. O prazer de apenas contar uma história simples sobre pessoas simples parece não satisfazer a maioria do diretores nacionais, tornando assim, nossa arte pretensiosa e, em boa parte das vezes, mal executada.

O filme vai girar em torno de uma família simples do interior de Minas Gerais, vivem isolados em um sitio, vida pacata. Uriel (Ney Latorraca), Ernestina (Bete Mendes) e Maria Isabel (Greta Antoine) percebem sua dinâmica familiar mudar quando o município passa a levar energia elétrica para a região. A figura de Uriel é a do clássico patriarca de uma família interiorana, poucas palavras e de certo modo um homem bronco. Logo Uriel se vê incomodado com a mudança de suas rotinas e ao mesmo tempo sua filha, Maria Isabel, acaba tendo interesse em um peão das redondezas e começa a questionar suas motivações e sua vida sexual recém iniciada.

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Além da sinopse os personagens não entregam mais nada. A figura do patriarca, machista e calado não é nenhuma novidade e já não é mais o suficiente como desenvolvimento de um personagem. Uriel mal se comunica com sua família e a linguagem não verbal do filme não supri essa necessidade de diálogos entre os personagens. Atores tão bons sujeitos a personagens tão unidimensionais é triste de se ver.

O argumento do filme foi deixado pelo dramaturgo mineiro Lúcio Cardoso nos anos 60. Na direção Luiz Carlos Lacerda se mostrou um bom diretor de ambientação e escolheu bem seu diretor de fotografia. Na montagem de cenas Lacerda se mostra muito infeliz em suas escolhas, metáforas extremamente óbvias chegando ao ponto do uso de um pássaro engaiolado sendo liberto para representar uma jovem após perder sua virgindade. Nenhuma palavra definiria melhor do que brega. E na direção de seu elenco Lacerda falha novamente, cenas pouco naturais, escolha de expressões extremamente artificiais. Bem ruim.

Ver mais um filme nacional que só possua como sua virtude o bom uso de nossas belezas naturais e montagem de ambiente nos faz remeter que realmente vivemos apenas de praia e do talento para fazer festas.

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