Quem já leu os livros de John Green sabe que ele tem grande sensibilidade para criar tramas sobre personagens comuns envolvidos em seus diversos dramas pessoais. Porém ele o faz sem que o drama em si seja o foco principal e sim um meio pelo qual conseguimos levantar alguns questionamentos, por vezes difíceis de serem respondidos. Podemos notar essa característica peculiar de sua escrita desde o seu primeiro romance: Quem é você, Alasca?.

Esse livro é narrado pelo próprio protagonista, Miles Halter, um adolescente fissurado em biografias de personalidades mortas e nas últimas palavras ditas por elas. Motivado pelas últimas palavras do poeta François Rabelais, Miles sai da casa dos pais em busca de algo mais: O Grande Talvez. Para isso, ele vai para o colégio interno Culver Creek, onde conhece Alasca Young, uma garota imprevisível e misteriosa que terá grande importância na sua jornada.

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Green prova mais uma vez que é capaz de criar personagens cativantes e carismáticos, cada um com suas características pessoais. Miles é o típico adolescente antissocial cujos pensamentos trazem questões com as quais muitas pessoas podem se identificar. Já Alasca é o total oposto: impulsiva, corajosa e inconsequente. Podemos entendê-la como o complemento de Miles, tudo aquilo que ele não é, mas poderia vir a ser apenas por estar ao lado dela. Só isso já justificaria a atração que o garoto sente por ela. Além deles, há o amigo Chip Martin, o Coronel, que significa muito mais que um alívio cômico na história, sendo uma figura essencial nos acontecimentos que estão por vir.

A obra é dividida em duas partes: o Antes e o Depois, e você só descobre a que isso se refere ao longo da leitura. Até pouco antes da conclusão da primeira parte, a trama parece simplesmente o relato simplório de adolescentes que gostam de quebrar as regras. Entretanto, o tom muda após um acontecimento marcante para todos os personagens e, a partir daí, todos eles passam a se fazer perguntas cujas respostas não são fáceis de serem obtidas, nem por eles, nem por nós, leitores.

Um personagem em particular nos ajuda nessas reflexões: é o Dr. Hyde, o velho e rigoroso professor de ensino religioso do colégio. Suas aulas são sempre repletas de questionamentos instigantes sobre o que motiva a e determinadas crenças e comportamentos nas pessoas. Incentivados por isso, vamos tentando entender, junto com os personagens, como e por que algumas coisas acontecem.

Se for para resumir, a questão essencial do romance pode ser representada por “como você vai sair do labirinto de sofrimento?” e, caso não haja uma saída possível, o que é capaz de lhe dar esperança para continuar?

Assim, vamos nos envolvendo e nos emocionando com os personagens, tomando para nós as dúvidas deles, até que somos conduzidos às conclusões de Miles e às nossas próprias, que podem ou não ser iguais às dele. Ao final, a pergunta “Quem é você, Alasca?” nos revela tanto respostas que desconhecíamos como diversas outras perguntas ainda sem respostas, dentro desse Grande Talvez que são nossas vidas.

Adicione este livro à sua estante!

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Mozer Dias

Engenheiro por formação, mas apaixonado pelo mundo da literatura e do cinema. Se eu demorar a responder, provavelmente estou ocupado lendo ou assistindo a um filme.

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