A série de livros do detetive Cormoran Strike é famosa por resgatar aquela atmosfera dos romances policiais clássicos. Mantendo a tradição, J. K. Rowling – sob o pseudônimo Robert Galbraith – traz o caso mais difícil de Strike e sua sócia Robin até então, com uma história complexa que se mantém imprevisível até as últimas páginas de Sangue Revolto.
Na trama, Strike é abordado por uma mulher desesperada por saber o que aconteceu com sua mãe, a médica Margot Bamborough, desaparecida há quarenta anos. Mesmo com poucas esperanças de solucionar um mistério tão antigo, o detetive aceita o caso. Conforme ele e Robin vão procurando as testemunhas que ainda estão vivas e desenterrando os documentos disponíveis depois de tanto tempo, a dupla de detetives se depara com um quebra-cabeça complexo que envolve astrologia, cartas de tarô, ocultismo e um assassino em série frio e cruel.
O desafio imposto aos protagonistas fica evidente desde o início: essa é a primeira vez que eles precisam investigar um arquivo morto, um inquérito de décadas atrás arquivado sem solução. Tudo é mais difícil dessa forma, pois muitas das testemunhas já morreram, as provas e evidências foram perdidas e é quase impossível reconstituir o que aconteceu com o mínimo de exatidão. Para piorar, os investigadores da época do desaparecimento de Margot pareciam focados apenas em provar seus próprios pontos de vista sem considerar a veracidade dos fatos.
O que torna Sangue Revolto ainda mais intrigante é a abordagem de temas astrológicos como signos e posicionamento de planetas e até mesmo personagens que acreditam em figuras demoníacas envolvidas no sumiço da médica. Em certo ponto da leitura, somos levados a crer que a narrativa irá flertar com o sobrenatural, mas isso é barrado pela personalidade objetiva e cética de Strike, cuja aversão a esses assuntos esotéricos chega a ser engraçada.
De longe, esse é o enredo mais complexo da série de livros. Com 960 páginas, o número de personagens envolvidos é grande a ponto de parecer que não existe conexão plausível entre eles. Como se não bastasse a quantidade de lugares e pontos de vista diferentes, ainda encontramos diversas figuras peculiares, cada qual com suas manias, sendo que algumas são cruéis em níveis perturbadores como o serial killer Dennis Creed, cuja presença é marcante.
Quem já acompanha os dois protagonistas desde os volumes anteriores sabe que a vida pessoal deles também é destaque ao longo da história. Agora, tanto Strike quanto Robin encontram-se em momentos difíceis. Ele está com a tia à beira da morte; ela enfrenta um divórcio litigioso bem complicado. E por mais que as coisas nunca pareçam se acertar, esses capítulos focados no íntimo deles são tão atraentes quanto a investigação criminal em si, pois eles próprios têm dificuldade para separar uma coisa da outra.
Porém, nada consegue superar a resolução do mistério. Diante de tantos relatos aparentemente contraditórios, parece impossível criar uma conexão entre todos eles, entretanto a autora consegue fazer isso de forma ao mesmo tempo surpreendente, convincente e perturbadora. Não ficam pontas soltas e tudo se encaixa no seu devido lugar para formar o panorama geral.
A complexidade de Sangue Revolto e sua linha investigativa criteriosa faz com que esse seja um dos melhores romances policiais de Cormoran Strike, mostrando todo o talento não só do detetive, como também de sua parceira, Robin Ellacot. Sem dúvida, mais uma grande obra para a conta de J. K. Rowling e para o rol dos romances policiais.
Ficha técnica:
- Título: Sangue Revolto
- Autor: Robert Galbraith (J. K. Rowling)
- Gênero: romance policial
- Nº de páginas: 960
- Lançamento no Brasil: 2021
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