Leões a me devorar, um pedido de socorro não é o bastante. Escrevo. Preciso ouvir o que quero. Desfrutar da vida sem medo de ousar. Um grande e complexo problema, ainda imaturo.
O trem já vai passando, um barulho que nem mesmo a angústia desvenda. Passa longe, longe, longe, longe e a capacidade de pensar nos porquês continua a mesma, intacta e perseverante.
Indiscreta porém cautelosa como o toque suave em meu rosto, vejo as folhas das altas arvores dançando com o vento forte. Mais exata do que nunca, mas repleta de calafrios nesse inverno seco e quente, ouvi dizer do soprar que o trem só passa aqui uma vez por dia.
A vida inteira vai caminhando como o tal trem que some no horizonte, um laranja iluminado como nunca se viu igual, é delicado.. profundo até. Delicado como as palavras que pensando em dizer só se rasga papéis e mais papéis. Ninguém vai se importar. E entre um café e outro o desperdício do sol, do tempo, das lágrimas, da tinta, das linhas é cada vez mais evidente e irremediável.
As horas se vão. O vento parece carregá-las.
Volto à janela, tudo já se foi e só consigo sentir calafrios, sono e esperança para a próxima tarde daquele inverno. Um dia de cada vez, um trem para cada tarde e um calafrio para cada desperdício. É como um telefonema que não compensa o tempo. A alternativa é esperar o telefone tocar outra vez ou o inverno terminar.
A autora
Eduarda Lima (@eduarrdalima) é de Goiânia. Apaixonada por literatura, fotografia, dança e todas as outras formas de arte, cursa Letras na Universidade Federal de Goiás (UFG). Este texto foi originalmente publicado em seu blog pessoal, o Quimera Literária.
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